Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Formação Interdisciplinar para o SUS: Uma relação necessária
Michael Da Costa Lampert

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este texto tem como escopo a análise de experiência vivenciada em prática inovadora de formação para o Sistema Único de Saúde (SUS) na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Será discorrido sobre o processo educação em saúde no contexto de formação interdisciplinar, seus potenciais e impactos ao dar novas ressignificações para o modelo de formação em saúde para o SUS com base em uma Disciplina Complementar de Graduação (DCG) elaborada pelo Departamento de Saúde da Comunidade do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFSM. DESENVOLVIMENTO: Durante o primeiro semestre de 2015, o CCS deu origem à disciplina de “Formação Profissional Interdisciplinar para o SUS”, criada em decorrência dos resultados obtidos nos Programas de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE) que apontavam a necessidade de uma integração interdisciplinar no processo de graduação dos cursos da área da Saúde. Inovando na metodologia de ensino ao integrar 5 docentes (2 da Farmácia e, Medicina, Medicina Veterinária e Serviço Social com 1 cada, respectivamente)  para ministrar as aulas, ampliando os horizontes dos debates acerca da formação profissional em saúde, a disciplina abrange o total de 11 cursos da área da saúde (Medicina, Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Farmácia, Medicina Veterinária, Educação Física, Psicologia e Serviço Social). O objetivo da disciplina é proporcionar ao estudante o contato com a realidade do SUS, dividindo este processo de educação na saúde em 30 horas de aulas teóricas e 30 horas de aulas práticas. Aonde a prática se efetiva por meio de convênio da universidade com a Secretaria de Saúde do Município de Santa Maria/RS, de acordo com as políticas setoriais que dispõe de preceptores aptos à supervisão dos estudantes. Na divisão entre teoria e prática, a primeira conta com arcabouço teórico sobre Histórico de saúde no Brasil, Reforma Sanitária, processo de construção do SUS, Introdução às Políticas Públicas em vigência desde a Constituição Federal de 1988, Concepções de Saúde Coletiva, Formação política para o SUS, conceitos de multi, inter e transdisciplinariedade. A segunda, dividiu os estudantes em 5 grupos interdisciplinares para atuação em campo com preceptoria supervisionada pelos gestores em saúde das seguintes políticas setoriais do município: Política de Saúde para a Mulher, Idoso, Criança e adolescente, Saúde Mental e HIV/AIDS. Neste sentido, a potencialização da formação interdisciplinar está na amalgamação das singularidades de cada área que a DCG abrange, pois ao pôr docentes e discentes para debater formação profissional estendendo as perspectivas de cada área de concentração, se constrói conjuntamente novos alicerces de conhecimentos, tendo a práxis como substância de erudição teórica e metodológica. Destaca-se que os interagentes deste processo de formação passam a sustentar uma tríade composta por profissionais, discentes e discentes, imprimindo novas percepções na formação, por meio da experimentação da realidade profissional em interlocução com a teoria acadêmica. RESULTADOS: A proposta de integração interdisciplinar coopera para que o conhecimento em saúde na área do SUS seja construído de maneira horizontal, aonde todos os envolvidos são parte do processo de formação profissional e educação continuada. Considerando que em campo os estudantes recebem a supervisão para formação, em contrapartida, levam aos profissionais novos referenciais teóricos além de oxigenação para o campo de trabalho, constituindo uma reciprocidade no processo de educação para saúde. O impacto com a realidade do SUS proporciona ressignificações para a formação profissional, tendo em vista que tais experimentações dentro dos diversos campos de atuação profissional tratam de atender demandas multifatoriais, o processo educação-trabalho melhora à medida que o estudante observa na vivência, o funcionamento dos dispositivos do SUS. A observação torna-se fundamental para compreender como e por quais meios os serviços de saúde articulam-se para dar resolutividade às demandas do cotidiano. A relação entre serviço público e privado do modelo de assistência médica é um elemento que rebate diretamente na formação profissional dentro das universidades públicas. Ao compreender que muitos serviços de caráter privado são prestados para assistência da saúde como complementares, conforme o art.199 da Constituição Federal, algumas Unidades de Formação Acadêmica (UFAs) têm em seus cursos da área da saúde uma carência significativa no que diz respeito à formação para o SUS em seus Projetos Pedagógicos de Curso (PPC). Tal assertiva se converte em evidência nos trabalhos elaborados e apresentados pelos 5 grupos que atuaram diretamente nos serviços que firmaram convênio com a UFSM. Os trabalhos de avaliação final da disciplina, produzidos sobre cinco temas (política de saúde para idoso, saúde da criança e adolescente, saúde mulher, saúde mental e HIV/AIDS) por grupos interdisciplinares e apresentados como seminários, mostraram o indicativo de que boa parte dos cursos da área da saúde ofertados na UFSM demonstra em seus PPCs que a formação profissional para o SUS tem diversas limitações. Portanto, a DCG para o SUS supriu algumas lacunas do processo de graduação de 11 cursos. Muitas dessas lacunas servirão como alguns dos pilares de formação profissional, sendo pilares que enaltecem dimensões teóricas – metodológicas - técnicas - operativa e ética -política, aonde estas dimensões do fazer profissional são indissociáveis umas das outras, dando condições para o profissional melhor posicionar-se, expressar-se e operacionalizar sua intervenção na realidade frente às demandas que se materializam no cotidiano profissional nos serviços de saúde. A compreensão sobre o papel profissional de cada profissão que atua no SUS em suas singularidades e, como cada peça dessas faz parte da totalidade de um processo que envolve profissionais, usuários e dispositivos que dão o suporte para prevenção de doenças e promoção de saúde, torna-se elemento essencial para a formação de qualquer profissional. Além de compreender, a DCG fomenta a apreensão da realidade, fazendo o estudante e futuro profissional, refletir sobre os serviços disponíveis, o processo de trabalho dentro do SUS e, se o usuário realmente tem sua demanda atendida dentro dos serviços disponíveis na rede. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A DCG Formação Profissional Interdisciplinar para o SUS consegue abraçar e sustentar a proposta de produzir conhecimento coletivamente. O debate sobre o SUS sob a lente de múltiplos cursos de graduação amplia muito as perspectivas sobre o trabalho no SUS, seus objetivos, fragilidades e desafios. Os efeitos causados em boa parte da turma que concluiu a disciplina no primeiro semestre foram positivos, o fato de uma única DCG repercutir em 11 cursos que formam profissionais para saúde e fomentar a formação de profissionais que defendem o SUS é uma experiência única. Além de proporcionar ao estudante meios de repensar como intervir em suas ações profissionais (na perspectiva teórica-metodológica, técnica-operativa e ética-profissional), é possível elencar esse conjunto de ações dentro do movimento que a própria sociedade impõe no cotidiano profissional, como sabemos, os níveis de saúde se dão dentro da organização social e econômica, criando determinantes e condicionantes para a saúde, o que faz o futuro profissional pensar para além do “pragmático”, enxergando a totalidade dos processos que desencadeiam os níveis de saúde e doença no cotidiano da sociedade.  

Palavras-chave


Formação para o SUS; Interdisciplinariedade;