Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
MÃES PSICÓLOGAS: CONHECIMENTO PSICOLÓGICO E PRÁTICAS EDUCATIVAS
Maria Evanir Vicente Ferreira, Louise da Silveira Pedrotti Machado, Miriam Vaucher, Loren Janaína da Cruz Araújo, Luciane Najar Smeha
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
INTRODUÇÃO: Com o surgimento da industrialização, a mulher, além de assumir o papel do lar, passa a se inserir também no mercado de trabalho. Assim, no decorrer do século XX, ela ampliou o seu acesso à educação e à formação profissional e gradativamente começa a exercer vários papéis profissionais, mas continua com a responsabilidade de criar e educar seus filhos. Além disso, as mudanças sociais e tecnológicas têm imposto as famílias um processo educacional que forme adultos aptos a responderem às exigências do mundo atual. Mas, ao mesmo tempo, o maior conhecimento sobre o desenvolvimento da criança anuncia que as práticas educativas utilizadas pelos pais não devem trazer consequências psicológicas negativas. Percebe-se uma grande influência da psicologia, principalmente da psicanálise, nessa nova forma de pensar a educação dos filhos. Assim, o profissional psicólogo recebe durante a sua formação conhecimentos que garantem a ele um diferencial no que se refere à escolha e aplicação de práticas educativas que visam o melhor desenvolvimento na infância. Porém, os poucos estudos que investigaram esta temática trazem que o fato de ser uma mãe psicóloga e considerando a vida atribulada da contemporaneidade, durante os cuidados maternos cotidiano de sua vida pessoal e familiar, elas utilizam práticas educativas não condizentes com a teoria psicológica. Considerando as poucas publicações sobre o tema, essa pesquisa pretendeu contribuir para ampliar o conhecimento e instigar novas pesquisas sobre a temática. Sendo assim, nosso objetivo foi verificar se o conhecimento psicológico das mães psicólogas influencia na escolha de práticas educativas no processo de educação de seus filhos. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e transversal. A população do estudo foi constituída por quatro mães com formação em psicologia e filhos na faixa etária de 6 a 12 anos. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas a partir das seguintes questões norteadoras: “Como acontece a sua participação na vida de seu filho?”. “Como ocorre o estabelecimento de regras para o seu filho?” “De que forma se dá a comunicação na interação com o seu filho?” “Você utiliza algum tipo de punição na educação do seu filho?” “O seu conhecimento teórico influência na escolha das práticas educativas aplicadas com o seu filho?” Para analisar esses dados foi aplicada a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin. Assim, foram levantadas três categorias: “percepção sobre ser mãe e ser psicóloga”; “práticas educativas reais x práticas educativas ideais”; “vivências e experiências das mães psicólogas”. Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética do Centro Universitário Franciscano-UNIFRA e aprovada, segundo registro CEP/Unifra: 1.098.031/2015. RESULTADOS: No que se refere à categoria “percepção sobre ser mãe e ser psicóloga”, percebe-se que o conhecimento psicológico sobre educação infantil está internalizado nessas mães e ele auxilia no exercício da maternidade. Traz a habilidade da escuta ativa, da paciência, da empatia, do diálogo, o que é um diferencial para essas mães na aplicação das práticas educativas com seus filhos. Por outro lado, em algumas situações, essas mesmas mães contrariam o seu conhecimento teórico agindo de forma impulsiva e inadequada, mas buscam, logo após, reparar o seu erro junto ao filho. No que concerne à categoria “práticas educativas reais e práticas educativas ideais”, muitas vezes as mães psicólogas punem seus filhos. A punição nesse caso é feita por meio da retirada de privilégios, em detrimento do diálogo por causa do estresse causado pela vida moderna. No que se refere às regras, apesar delas serem necessárias para que a criança tenha segurança, a tarefa de aplicá-las é uma tarefa penosa, até porque devem ser respeitadas as singularidades dos filhos, tendo cuidado com a generalização, respeitando as diferenças de faixa etária e gênero. Por outro lado, para não cair em descrédito ao aplicar uma prática inadequada, essas mães procuram manter a posição adotada até o final. Quanto à categoria “vivências e experiências das mães psicólogas”, as mães psicólogas relatam o tempo todo uma participação ativa na vida dos filhos, incluindo dinâmicas diferentes para atender suas demandas no sentido de corresponder as suas solicitações. Pontuam a explicação através de diálogo como uma forma de que os filhos internalizem as regras evitando desentendimentos que acarretem punições. Algumas vezes as decisões são tomadas em parceria com os cônjuges, dessa forma fazendo com que a integração familiar se dê de forma equilibrada. Enquanto uma mãe participante do estudo tem convicção de que sua profissão a coloca em melhores condições do convívio familiar, a outra já relata que a profissão prejudica de alguma forma a vida dos filhos pelo fato de cuidar muito dos outros em detrimento do cuidado com os próprios filhos. O discurso das mães é atravessado por uma educação baseada em causa e consequência, como forma de mostrar para a criança que tudo que ela faz terá um retorno, o reflexo disso poderá ser bom ou ruim. Elas utilizam da orientação teórica comportamental na aplicação das práticas educativas com o intuito de obter o comportamento desejado, inclusive com algumas aplicações de práticas educativas que vão além do reforço, como é o caso da punição com retirada de privilégios. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Portanto, o conhecimento psicológico influência nas escolhas de práticas educativas das mães profissionais dessa área. Por outro lado, elas, em algumas situações específicas, abandonam o conhecimento teórico e agem de forma impulsiva e pouco adequada , talvez com base na maneira como foram educadas na infância. Todavia, após esse comportamento, elas conseguem refletir sobre seus erros. As mães psicólogas trazem também uma vida pautada por atribulações do trabalho profissional e uma tentativa de equilibrar sua profissão com a dinâmica familiar. Para isso, utilizam na maioria das vezes de técnicas que visam moldar comportamentos com o intuito de estabelecer limites aos seus filhos. Elas contam em determinadas ocasiões com a colaboração dos maridos no desempenho de suas tarefas. Este estudo traz como limitação o fato de que somente foi considerado o discurso de mães psicólogas. Desse modo, o pensamento dos pais psicólogos não foi levado em consideração. Por isso, é imprescindível que estudos futuros abordem a opinião dos mesmos, pois, com a mudança na estrutura familiar, o homem também tem um papel fundamental na educação dos filhos.
Palavras-chave
Mães; Práticas Educativas; Psicologia.
Referências
BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edicões 70, 1977/2011.
BEM, l; WAGNER, A. Reflexões sobre a construção da parentalidade e o uso de estratégias educativas em famílias de baixo nível sócio-econômico. Psicologia em Estudo. v. 11, n.1, p. 63-71, jan./abr, 2006.
BERALDO, M. B. Educação e família: desafios e enfrentamentos na sociedade atual. 2011. 150 p. Dissertação (Mestrado em Educação) UNOESTE, Universidade do Oeste Paulista. Presidente Prudente, 2011.
BOLSONI-SILVA, A.; MARTURANO, E. M. Práticas educativas e problema de comportamento: uma análise à luz das habilidades sociais. Estudo de Psicologia. V. 7, n.2, p. 227-235, 2002.
GOMIDE, P.I.C. Inventários de Estilos Parentais (IEP): modelo teórico, manual de aplicação, apuração e interpretação. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2006.
GOMIDE, P.I.C. A influência da profissão no estilo parental materno percebido pelos filhos. Estudos de Psicologia. V. 26, n.1, p. 25-34, jan./mar, 2009.
GUZZO. R S. L. Psicologia e Educação no Brasil: Uma Visão da História e Possibilidades nessa Relação. Psicologia:Teoria e Pesquisa, Vol. 26 n. especial, p. 131-141, 2010.
OLIVEIRA, T. T.; CALDANA, R. H. Mães psicólogas ou psicólogas mães: Vicissitudes na educação dos filhos. Estudos de psicologia. V.9, n.3, p. 585-593, 2004.
PRATTA, E. M. M. ; SANTOS, M. A. dos. Família e adolescência: a influência do contexto familiar no desenvolvimento psicológico de seus membros. Psicologia em Estudo, v. 12, n. 2, p. 247-256, maio/ago., 2007.
SADALA, G.; MARTINHO, M. H. A estrutura em psicanálise: uma enunciação desde Freud. Ágora, Rio de Janeiro v. XIV, n. 2, p. 243-258, jul/dez., 2011.
SCAVONE, L. Maternidade: Transformações nas famílias e nas relações de gênero. Interface. Comunic, Saúde, Educ., V.5, n.8, pag. 47-60, fev.2005.
SKINNER, B. F. 1904-1990. Ciência e comportamento humano. 11ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SPINDOLA, T.; SANTOS, R. S. Mulher e Trabalho – a história de vida de mães trabalhadoras de enfermagem. Rev. Latino Americana de Enfermagem. V.11, n.5, p.593-600, set./out., 2003.