Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
GRUPO DE ENCONTRO COMUNITÁRIO COMO ESPAÇO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA DO SABER: UMA EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO POPULAR NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA-PB
Renan Soares de Araújo, Pedro José Santos Carneiro Cruz

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Programa “Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)” constitui uma experiência de Extensão Universitária pela Educação Popular, a qual, por sua vez, orienta a condução de processos e trabalhos sociais de forma horizontal, com todas as pessoas e participação popular ativa, a partir do diálogo e da problematização, almejando incentivar a análise crítica da realidade, através da busca de estratégias de luta e enfrentamento das problemáticas locais. O PINAB é vinculado ao Departamento de Promoção da Saúde do Centro de Ciências Médicas e ao Departamento de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Organiza suas atuações a partir de diferentes eixos, contemplando frentes de ação denominadas de Grupos Operativos, dos quais destacaremos as atividades dos grupos “Horta Comunitária” e “Saúde na Comunidade”. Enquanto o primeiro vem priorizando a construção de uma Horta Comunitária às margens da nascente do rio Jaguaribe, na comunidade Boa Esperança, no bairro do Cristo Redentor em João Pessoa-PB, o segundo vem desenvolvendo encontros comunitários para problematização de questões emergentes do ambiente e da realidade social local. Ambos visam propiciar que a Horta se configure como um espaço potente de Promoção da Saúde e da construção compartilhada do conhecimento, com esforços para alternativas, tecnologias e espaços de saúde e qualidade de vida no âmbito comunitário. As reuniões do “Saúde na Comunidade” ocorrem quinzenalmente, de forma articulada às atividades de manutenção da Horta (como limpeza e plantio de novas espécies de hortaliças e ervas medicinais). Participam agentes comunitários de saúde e outros profissionais do setor saúde, bem como moradores que residem nas proximidades de onde a horta vem sendo construída, além de estudantes, professores e pós-graduandos vinculados à UFPB. Nos encontros do Grupo, são utilizadas estratégias para propiciar debates sobre temas relacionados à conscientização ambiental e à saúde de forma ampliada. Tais estratégias são empregadas através de dinâmicas participativas e dialógicas, de caráter coletivo, através da configuração de cartazes informativos, buscando ressaltar a importância do cuidado com o outro e com a natureza, seguido de rodas de conversa, com o objetivo de valorizar o trabalho em equipe e do zelar não apenas pelo local em que a Horta se encontra, mas por todos os espaços nos quais estamos inseridos. Dentre as atividades desenvolvidas, destacamos a atividade denominada de "caça ao tesouro", no qual o “tesouro” deveria ser encontrado pelas crianças, a partir de dicas que estavam espalhadas pelos espaços da Horta. As dicas para encontrar o “tesouro” apresentavam temas relativos à Horta Comunitária e sua importância. Em outro encontro do Grupo, foi executada uma dinâmica com o objetivo de integrar as pessoas que estavam no local, a qual seguiu uma reflexão sobre “sentimentos” – onde cada pessoa deveria pegar apenas um papel dentre os vários que estavam espalhados e em cada papel tinha escrito um tipo específico de sentimento, e assim, cada participante deveria explicar porque havia escolhido aquele sentimento, qual a importância dele para si e para a Horta. Para fomentar a construção de conhecimentos através do compartilhar de saberes, também utilizamos a metodologia da Tenda do Conto, colocando centralidade nas histórias de vida das pessoas e suas subjetividades, sendo este um espaço criado para integração e amorosidade, onde extensionistas, professores, moradores, agentes comunitários de saúde e outros trabalhadores do setor saúde que frequentam a Horta, puderam levar objetos que de alguma forma tinham alguma importância para eles. A experiência da Tenda do Conto foi desenvolvida pela rede de saúde do município de Natal no Rio Grande do Norte, no ano de 2007, como meio-forma de cuidado aos usuários da atenção básica à saúde (GADELHA; FREITAS, 2010). Este se configura como um espaço aberto para o relato de histórias, possibilitando diálogos horizontalizados acerca de experiências vivenciadas anteriormente, às vezes quase esquecidas ou não compartilhadas (EPS..., 2014). Assim cada ator e atriz, a seu modo e jeito, segue contribuindo para a polifonia que se constitui neste encontro. A Tenda do Conto se destaca como um espaço qualificado para a escuta atenta, onde os próprios participantes devem saber de seu acontecimento previamente e diante disso separar algo que represente uma história vivenciada importante e que possa ser partilhado, podendo eles, estarem dividindo estas histórias tão ricas uns com os outros. A partir deste espaço-momento, viabiliza-se o resgate e o partilhar de histórias e saberes que serviram e servem para uma melhor compreensão da visão de mundo uns dos outros – a qual é constituída com base nas experiências vividas pelas diferentes pessoas. Destacamos que, através das atividades desenvolvidas, como na “caça ao tesouro”, onde todas as crianças "trabalharam" juntas, foi possível que elas refletissem sobre a importância do trabalho solidário e coletivo. Portanto, tem-se observado a constante interação dos participantes entre si e com o meio ambiente, o que viabiliza o surgimento de vínculos sociais, o pensar crítico e a modificação de comportamentos ambientalmente não sustentáveis. Na atividade que teve como tema os “sentimentos”, percebemos o quanto é importante à interação entre os participantes da Horta e o quão necessário é, sempre, refletir sobre o que cada um pode acrescentar no cuidado e preservação do meio ambiente e na construção da Horta. A atuação do Grupo através da perspectiva da Tenda do Conto provocou nos participantes o interesse em conhecer a história de vida uns dos outros, promovendo momentos de integração entre os presentes. Tal processo já começa a nos surpreender no início da atividade, quando o objeto de cada participante vai sendo apresentado a todos os presentes na roda. É a partir deste momento em que as histórias e as emoções começam a surgir. Essa experiência tem propiciado e potencializado a integração entre os indivíduos presentes para que o encontro comunitário se configure de maneira solidária, humanizada e participativa. Portanto, os momentos constituídos através do “Saúde na Comunidade” tem possibilitado o desvelar de conhecimentos propositivos e a abertura de novos caminhos e estratégias, e tem, acima de tudo, funcionado como um momento de união, acolhimento, diversão, diálogo e construção compartilhada de saberes e promoção da saúde, constituindo-se, assim, como um espaço local potente para um fazer emancipatório e não somente técnico. A partir das atividades desenvolvidas, tem-se aprendido a relevância da construção da saúde no âmbito comunitário como processo cujo ponto de partida é, fundamentalmente, o estabelecimento de encontros e conversas na direção de um olhar crítico e problematizador dos sujeitos da comunidade. Ademais, enxerga-se que o cultivo desse espaço a partir de um desafio social concreto (qual seja a construção da Horta), estimulou a participação da comunidade na gestão de sua vida social e no engajamento em suas lutas sociais locais. Tal construção tem também viabilizado momentos para o exercício de um saber-agir reflexivo e pautado na consciência e ética ambiental. Ainda, para conceber o processo de construção da Horta não apenas como um fazer técnico, mas de mobilização, discussão, reflexão e inserção comunitária para um diálogo de saberes visando a potencialização do “ser mais” das pessoas e do incremento em suas possibilidades de enfrentamento e superação das situações-limite em seu cotidiano. Propicia-se, assim, a formação de cidadãos conscientes e comprometidos com as causas ambientais e com práticas de promoção da saúde.

Palavras-chave


Promoção da Saúde; Extensão Comunitária; Participação comunitária.

Referências


EPS EM MOVIMENTO. Tenda do conto. 2014. Disponível em: <http://eps.otics.org/material/entrada-experimentacoes/tenda-do-conto>. Acesso em: 10 set. 2015.

GADELHA, M.J.A.; FREITAS, M.L. A arte e a cultura na produção de saúde: a história da tenda do conto. Revista Brasileira de Saúde da Família, Brasília, v.2, p.53-58, 2010.