Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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FATORES RELACIONADOS À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER PERPETRADA POR SEU PARCEIRO ÍNTIMO
Kerle Dayana Tavares de Lucena, Alisson Cleiton da Cunha Monteiro, Hemílio Fernandes Campos Coêlho

Última alteração: 2015-11-24

Resumo


APRESENTAÇÃO: A violência perpetrada contra as mulheres acompanha a humanidade em seu percurso histórico, apresentando diferentes conteúdos e formas nas diversas sociedades, de acordo com a variação do padrão de valores culturais que influenciam os juízos éticos de cada uma delas. Este tipo de violência se concretiza frequentemente no domínio privado, e o lar que em outras situações seria a referência de refúgio e proteção, nestes casos, configura-se como local privilegiado para a prática e a ocultação da violência. O risco de uma mulher sofrer algum tipo de agressão dentro da própria casa pelo seu companheiro é quase nove vezes superior ao risco de ser agredida na rua. Os dados sobre a violência doméstica contra a mulher no Estado da Paraíba e no município de João Pessoa não estão organizados em um Banco de dados que facilite o trabalho dos pesquisadores e oriente as autoridades a tomar decisões que possam prevenir e/ou minimizar os efeitos da violência contra a mulher. Além disso, os dados existentes na Secretaria de Segurança Pública do Estado da Paraíba não coincidem com os dados existentes na Secretaria de Saúde do Município sobre o tema em questão, razão pela qual esta proposta de investigação adquire também relevância. A mulher apresenta problemas e necessidades singulares de saúde, diferentes dos demais grupos que compõem a esfera social. Segundo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, a vulnerabilidade feminina frente a certos agravos está mais relacionada com as questões de gênero, como a situação de discriminação na sociedade, do que com fatores biológicos. Nesse contexto, é preciso identificar outros fatores relacionados à violência contra a mulher, bem como aprofundar discussões acerca do impacto desse fenômeno na vida das mulheres e da sociedade. Ainda são necessários estudos para investigação desse evento nas comunidades urbanas e, sobretudo sobre a influência deste na qualidade de vida para obtenção de informações inéditas que podem ser utilizados para o planejamento de ações governamentais e para gerar indicadores de comparação entre as diversas comunidades, regiões e países. OBJETIVO: investigar os fatores relacionados à violência contra a mulher perpetrada por seu parceiro íntimo. METODOLOGIA: trata-se de um Inquérito de base populacional, transversal, exploratório, descritivo. A unidade de análise foram os domicílios no município de João Pessoa-PB. O estudo foi desenvolvido no período de agosto de 2013 a dezembro de 2015. RESULTADOS/IMPACTOS: essa pesquisa é fruto de uma tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde da Universidade Federal da Paraíba. O termo gênero é definido como a construção social do sexo e se diferencia da variável sexo  porque esta refere-se à dimensão biológica da caracterização anatomo-fisiológica dos seres humanos, reconhecida como essencial e inata na determinação das distinções entre homens e mulheres. O campo de estudos de gênero consolidou-se ao final da década de 1970, com o fortalecimento do movimento feminista e desde essa época vem sendo incorporado pela academia, nas diversas áreas de pesquisa, a fim de discutir e analisar a condição do homem e da mulher na sociedade à luz das desigualdades entre os sexos. Diante do exposto, e considerando os processos de trabalho como um dos pilares que dão suporte ao conceito da categoria modelo de assistência argumenta-se que, o trabalho que qualifica a atenção à saúde da mulher, na perspectiva de gênero, precisa superar o modelo de atenção limitado à reprodução biológica que ainda caracteriza a maioria dos processos de trabalho das práticas em saúde da mulher, mantendo-se fiel à concepção positivista de ciência. A superação desse modelo implica, além de anunciar novas intenções, concretizá-las, para o que urge rever seu processo de trabalho posto que, na perspectiva da emancipação da opressão das mulheres o saber crítico sobre a situação de opressão que a abordagem de gênero encerra. Com base nessa pesquisa verificou-se que existe associação entre a violência de gênero e a qualidade de vida urbana das mulheres. O estudo fez uma associação entre o questionário WHOQOL-BREF e o da OMS Who Way Study. São considerações fatores de risco para suscetibilidade à violência doméstica contra a mulher: relações sociais fragilizadas; sofrimento psíquico e domínio cognitivo. Em relação às consequências da violência na vida e saúde das mulheres, a violência impacta significativamente a saúde física, mental e social das mulheres por ela vitimizadas. Problemas como hipertensão arterial, doenças cardíacas, transtornos da ansiedade, distúrbios do sono e alimentação, depressão, stress, acidente vascular encefálico, paralisia facial, e comprometimentos da sexualidade foram referidos pelas participantes dos estudos como consequências diretas da violência sobre a saúde e a vida social das mulheres participantes do estudo. Ressalta-se a necessidade de preparo dos profissionais de saúde para lidar de forma sensível e eficaz com as mulheres vítimas de violência que buscam os seus cuidados. Assinalam também que seu enfrentamento não deve ser centralizado no tratamento de suas consequências, mas na sua prevenção primária. Atualmente, o modelo de atenção tendo como centro a família coloca os profissionais de saúde em posições estratégicas que permitem o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem a conscientização e o empoderamento das mulheres para desconstruir a desigualdade estabelecida e reconstruir relações equitativas de gênero. CONSIDERAÇÕES FINAIS: por sua complexidade, a violência doméstica ainda representa um desafio para o setor saúde. Entre as dificuldades para superar tal desafio encontram-se os obstáculos para o seu diagnóstico, tais como os fatores de ordem cultural, a falta de orientação dos usuários e dos profissionais de saúde, fazendo parecer que ambos os grupos de sujeitos envolvidos têm receio em lidar com os desdobramentos do fenômeno. A violência contra a mulher é um tema que se refere às relações sociais que pretendem sua dominação e submissão constituindo assim, um tipo de relação social de poder. Por ser produzida nas relações sociais, ou seja, na dinâmica política e histórica das sociedades, ela é percebida na atualidade, sobretudo, como desigualdade de gênero.  Ressalta-se que apenas a igualdade de gênero não é suficiente para igualar socialmente as mulheres, mas, ela pode ser um começo para a emancipação das mulheres, pois desigualdade de classe é flagrante quando pensamos no enorme contingente de mulheres sem acesso à informação, ao conhecimento e aos espaços qualificados do mercado de trabalho. Essas mulheres constituem a maior parte da demanda dos serviços públicos de saúde e é nesses locais que buscam o acolhimento e a atenção às suas necessidades em saúde.  

Palavras-chave


Violência contra a mulher; Gênero; Qualidade de Vida

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