Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
EXPERIÊNCIA DOS PAIS NO MÉTODO CANGURU: REVISÃO INTEGRATIVA
Thays Luana da Cruz, Cristina Brandt Nunes Brandt Nunes, Maria Auxiliadora de Souza Gerk, Mayara Carolina Cañedo
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: O Método Canguru (MC) é a assistência no período neonatal para recém-nascidos(RN) pré-termo e de baixo peso (BP), que visa o contato pele a pele entre a mãe, o pai e o bebê1. A posição correta deste método é quando o RNBP permanece vestido com pouca roupa e em decúbito ventral na posição vertical em contato com a região torácica do cuidador2. Para a realização do método é necessária orientação de seus procedimentos por uma equipe capacitada. A participação dos pais e família é fundamental nos cuidados do recém-nascido durante o período de internação, no acompanhamento ambulatorial e em domicílio1. O MC trouxe uma abordagem humanizada que é fundamentada no recém-nascido, na família e na equipe de saúde3. Neste contexto, a abordagem da equipe tem por objetivo auxiliar a família na identificação de sua autonomia para prestar os cuidados necessários ao RN. Por meio da implantação do MC, a enfermagem pode proporcionar um cuidado de qualidade ao recém-nascido por meio da humanização da assistência na adaptação à vida extrauterina do bebê e sua relação com a família3. Dentre os benefícios relacionados à adoção do MC são descritos: menores riscos de taxas de infecções hospitalares, incremento do peso diário dos bebês, redução das infecções do trato respiratório, favorecimento da formação de laços afetivos e incentivo ao aleitamento materno exclusivo (AME)4. Este estudo tem por objetivo buscar evidências disponíveis na literatura que abordam a experiência da mãe, pai e família com o Método Canguru. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa de literatura com elaboração de instrumento para análise dos artigos e avaliação dos níveis de evidência dos mesmos. As etapas para a elaboração dos dados foram: identificação do tema, definição dos objetivos, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão e seleção dos estudos5. Os de inclusão foram: artigos encontrados nas bases de dados eletrônicas, disponíveis online na íntegra nas línguas inglesa e portuguesa que abordassem o tema sobre a percepção/conhecimento dos familiares participantes do MC e atuação da equipe de enfermagem, os artigos deveriam ter sido publicados num período de 10 anos (de 2003 até 2013). Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos, os sem resumo, artigos que não responderam à temática, repetidos e as produções científicas classificadas como monografia, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Após essa seleção, foram obtidos 26 artigos. A busca foi realizada em quatro bases de dados: Public. Medline (PUBMED), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Cujos (SCIVERSE SCOPUS). Os respectivos descritores foram utilizados: “Knowledge and Kangaroo-Mother Care Method”; “Family and Knowledge and Kangaroo-Mother Care Method”; “Family and Knowledge and Kangaroo-Mother Care Method not Medicine”. Na base de dados PUBMED foram encontrados 38 artigos e 4 foram selecionados, com base nos critérios de inclusão e exclusão. Na base de dados LILACS, foram encontrados 29, dentre os quais 18 foram selecionados. Na SCIELO, foram localizados 3 artigos e selecionado 1, pois os outros dois constavam em outras bases. Na Scopus, 26 artigos foram encontrados e 3 selecionados. Desta maneira, dos 96 artigos encontrados 26 fazem parte da amostra. Após a seleção dos artigos, buscou-se classificar os artigos por temáticas, avaliação do qualis das revistas em que estes estavam dispostos, avaliação do nível de evidência, linguagem do artigo e ano de publicação. RESULTADOS: Predominaram publicações do ano de 2013 (6 publicações), seguidas das lançadas em 2010 (5), e em 2011 (4). Os anos com menos publicações foram: 2007 (3 publicações), 2008 (2 publicações) e 2005, 2006, 2009 e 2012 com apenas uma publicação. No ano de 2004 não houve nenhuma publicação, segundo a presente pesquisa. Prevaleceram pesquisas na língua portuguesa; maior ocorrência de publicação de periódicos com Qualis B1 (12 artigos), seguido de Qualis A1 e B2 (5 artigos). 23 artigos foram estão classificados como sendo do nível de evidência 6, por se tratarem de estudos descritivos e qualitativos únicos. Destes a maior parte era de abordagem qualitativa. Dois artigos pertenceram ao Nível 4 de evidência e apenas um artigo ao nível 3. Foram elaboradas oito categorias com o material de estudo: Relações familiares (14 artigos) em que verificou-se que o apoio dos membros da família foi fundamental para a continuidade e adesão ao método, verificou-se que houve o abandono por parte do cuidador para outros familiares para o cuidado ao recém-nascido pré-termo 4,6,7,8,9,10,11 Interação equipe de saúde e família (13 artigos), verificou-se nessa categoria que a equipe de enfermagem foi fundamental para a adaptação da família ao método por meio das ações educativas e das orientações da equipe aos familiares e por proporcionar aos familiares o desenvolvimento de habilidades para o cuidar do concepto pré-termo12,13; Processo de enfrentamento e superação (12 artigos), por meio desta categoria foi identificado que o MC favoreceu a autonomia do cuidar, desenvolvimento de habilidades e a possibilidade do empoderamento desses familiares resultando na esperança da melhora do filho. A religiosidade dos familiares demonstrou-se importante para o enfrentamento da situação da prematuridade. O contato pele-a-pele do MC favoreceu a formação do vínculo do familiar cuidador com o neonato pré-termo 14,15,16; O método canguru (9 artigos), categoria esta que demonstrou os benefícios da realização do método e da satisfação dos familiares com este. Mesmo sendo realizado, alguns dos familiares não conheciam a real importância ou o motivo para tal3; Estresse (pa)materno e experiências conflituosas (9 artigos) categoria que demonstrou as maiores dificuldades enfrentadas por esses familiares, como a separação familiar, exaustão pelo período de internação, depressão, ansiedade e perturbações emocionais 8,17,18; A categoria Conhecimento sobre o método (6 artigos) demonstrou que o conhecimento sobre o MC não foi adquirido somente dos profissionais de saúde, mas que foram importantes para a informação sobre o método amigos, familiares e meios de comunicação e que algumas mães consideravam a posição canguru como “chata” e que realizava apenas por conhecer os benefícios ao filho 19,12,13; A penúltima categoria conferida como Desospitalização/ida para casa (5 artigos) confere que muitos dos pais envolvidos no cuidado estavam inseguros no cuidado a criança no lar. A equipe de saúde contribui por incentivar a continuidade do método após a alta por mais que haja dificuldades por diversos fatores domésticos20,21; A última categoria elaborada é descrita como Mudança de rotina (4 artigos), em que é verificado que o MC por vezes é gerador de mudanças na dinâmica familiar por favorecer a troca de papeis entre os membros11,22,13,23. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diversos aspectos relacionados à experiência dos pais e da família inserida no MC foram encontrados: a equipe de saúde deve fornecer apoio e orientação a estes participantes para o processo de adaptação, pois a situação de prematuridade e o baixo peso pode gerar estresse, em especial no processo de alta hospitalar em que pode haver insegurança da família nos cuidados à criança pré-termo, sendo que a criação de estratégias para a continuidade do método em domicílio pode auxiliar os pais e família na organização de seus papeis diante a nova situação.
Palavras-chave
Método Canguru;Relações Familiares;Enfermagem pediátrica
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