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EXPERIÊNCIA VIVENCIADA NA TRANSIÇÃO DE UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE PARA UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Caracterização do Problema: A Atenção Básica ou Primária à saúde é a principal porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS). As Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as Equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) disponibilizam assistência junto a comunidade e possibilitam resolver grande parte dos problemas de saúde, ajudando diminuir o número de pessoas que procuram as emergências dos hospitais. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é vista como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da atenção básica por favorecer a reorganização do processo de trabalho, aprofundando os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, e também propiciando uma importante relação custo-afetividade, por meio de ações multidisciplinares. O bairro de Linha Santa Cruz, situado em um município do interior do Rio Grande do Sul, com aproximadamente 5.000 habitantes, é assistido por uma ESF. Sendo que, também são realizados atendimentos para usuários de outros bairros, por diversos motivos, entre eles o fato da unidade ser mais perto da residência, porque gostam ou tem mais afinidade com algum dos médicos ou ainda porque estavam passando pela unidade. A atual Estratégia de Saúde da Família possui uma equipe multiprofissional, no qual trabalham 1 médica de saúde da família, 1 enfermeira especialista em saúde da família, 2 técnicas de enfermagem (auxiliar de enfermagem), 1 médica clínica geral (trabalha no modelo tradicional), 2 pediatras (modelo tradicional), 1 dentista e 1 auxiliar de saúde bucal, 6 agentes comunitários de saúde, 1 residente em Educação Física (inserido através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do HSC), 1 higienizadora. Ainda faltam 3 agentes comunitários de saúde para completar a equipe. Objetivo do trabalho é relatar a experiência da equipe da unidade de saúde de Linha Santa Cruz no processo de transição no qual passou no ano de 2015. Descrição da experiência: Para este relato destacou-se os depoimentos de parte da equipe da unidade que vivenciou a transição do modelo tradicional de saúde para a Estratégia de Saúde da Família. Relato da enfermeira: Quando iniciei meu trabalho nesta unidade, o agendamento se dava com a distribuição de fichas no turno da manhã, a médica atendia 19 pacientes e se retirava da unidade. Portanto, a unidade não tinha muito movimento, além da médica clínica geral havia dois pediatras e uma ginecologista, no qual eram realizados agendamentos e tudo isso de forma manual. Enquanto modelo tradicional, tínhamos apenas uma agente comunitária de saúde, a qual não conseguia atender toda sua área. Também não havia grupos e visitas domiciliares. Enquanto estava acontecendo a transição de modelo tradicional para Estratégia de Saúde da Família, passamos por dificuldades, pois com o passar dos dias, precisávamos expor para a comunidade e usuários o que estava acontecendo. Alguns não entendiam e relatavam que não deixariam de realizar suas consultas na nossa Unidade. Então no mês de março foi realizada nossa primeira reunião junto à comunidade, onde tivemos a oportunidade de explicar para todos do bairro o nosso trabalho, bem como a diferença de uma unidade tradicional para uma unidade ESF, também definimos a nossa agenda programática, onde iniciamos o atendimento das visitas domiciliares, consequentemente aumentou nossa produção e demanda, pois foi possível apresentar o trabalho e definir ações em conjunto. Foi proposto na reunião encontros de grupos que seriam iniciados a partir do novo modelo de atendimento com atividades coletivas e grupos de saúde preventiva e gestantes. Na verdade não conhecíamos nossa população, nossos usuários. Não sabíamos o que trabalhar, pois não tínhamos nosso planejamento, afinal de contas, tínhamos apenas uma agente comunitária de saúde. Com a implantação do novo modelo, foram incluídos na equipe novos agentes comunitários de saúde, e assim estamos conhecendo nossa população. O primeiro passo foi realizar o mapeamento de cada área, contabilizar o número de pessoas em cada micro área para então iniciar os cadastros domiciliares. Estamos realizando o cadastramento das famílias, até o presente momento, temos um levantamento de aproximadamente 2.727 pessoas, sendo que, algumas micro áreas estão “descobertas”, sem agente comunitário, e não incluídas nesse número. Relato da auxiliar de enfermagem: Iniciei meu trabalho na antiga unidade, a qual disponibilizava à população atendimentos médico clínico geral todos os dias e pediatra uma vez na semana, suprindo a demanda visto que o número de atendimentos era menor, talvez pelo fato de não haver algumas especialidades médicas. A unidade tinha uma estrutura bastante precária, e a equipe era composta por 1 médico clínico, 1 pediatra, 1 auxiliar de enfermagem, 1 agente comunitário de saúde e 1 higienizadora. Nesta eram feitos os encaminhamentos para especialidades, cotas mensais e um dia definido para agendamentos, os demais ficavam na lista de espera para o próximo mês. O médico atendia as fichas do dia e ausentava-se da unidade, não existia tanta burocracia, tudo era realizado á mão, nada via sistema. Não existia encontro de grupos e nem visitas domiciliares, eventualmente fazia-se visita para alguma vacinação em pacientes impossibilitados de se dirigirem à unidade. Agora temos uma unidade nova, ampla e uma equipe maior, temos muito mais a fazer pelo paciente, se tem uma preocupação com o todo, antes se atendia somente a necessidade presente naquele momento. Faz-se um acompanhamento dos pacientes (individual ou coletivo), isso permite que se conheça ainda mais as necessidades dos mesmos e tome as devidas condutas. Com a equipe completa, o atendimento melhorou muito, tanto na unidade quanto em visitas domiciliares, o bairro ganhou muito com esse novo modelo de atendimento. Relato da técnica em enfermagem: Iniciei meu trabalho já na unidade nova, mas ainda como UBS, atendíamos um número elevado de pacientes, um médico clínico geral atendia as demandas vindas de diversas regiões, o atendimento ainda se dava pelo sistema de fichas no dia. Os pacientes madrugavam para conseguir uma ficha, ou passavam a noite na frente da unidade para conseguir atendimento na manhã seguinte, e quando não conseguiam gerava uma situação de conflito. As consultas com pediatra eram agendadas e as urgências eram atendidas sem agendamento. Especialistas eram marcados na unidade e não na Central de Marcações como acontece hoje. Observo que melhorou a organização, atendemos pacientes do bairro e assim conhecemos as necessidades de cada paciente. Percebo que melhorou a disponibilidade de recursos para desenvolver o trabalho, a equipe mais completa ajuda a manter o atendimento do paciente como um todo. A partir deste novo modelo tivemos também a implantação de encontros e atividades de grupos, visitas domiciliares e agendamentos de consultas. No início os pacientes reclamavam dessa mudança, mas aos poucos foram se adaptando ao novo modelo e aderindo às atividades propostas. Efeitos Alcançados: Com a mudança do modelo tradicional para Estratégia de Saúde da Família, tivemos um aumento do número de atendimentos, entre consultas, procedimentos, visitas domiciliares e atividades em grupo. Ainda se faz um trabalho de conscientização e orientação quanto ao novo modelo e a qual unidade deve se reportar para algum atendimento. Com a nova organização e profissionais, a equipe está conseguindo realizar os atendimentos de forma integral, por meio de um trabalho colaborativo, múltiplo e interdependente. Desta forma o trabalho em equipe tem maior capacidade de análise e de intervenções sobre demandas e necessidades de saúde, no âmbito individual e coletivo, que requer um olhar multiprofissional no sistema de saúde primário.
Palavras-chave
Saúde pública; Saúde da Família; Atenção Primária à Saúde
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégia Saúde da Família, Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_esf.php
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Brasília: Ministério da Saúde, 2014 (Cadernos de Atenção Básica, n. 39).