Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EXPERIÊNCIA VIVENCIADA NA TRANSIÇÃO DE UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE PARA UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Carine Muniz, Juliano Rodrigues Adolfo, Margret Magdalena Ripplinger, Gislene de Oliveira, Barbara Kreibich Muller Haas

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Caracterização do Problema: A Atenção Básica ou Primária à saúde é a principal porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS). As Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as Equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) disponibilizam assistência junto a comunidade e possibilitam resolver grande parte dos problemas de saúde, ajudando diminuir o número de pessoas que procuram as emergências dos hospitais. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é vista como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da atenção básica por favorecer a reorganização do processo de trabalho, aprofundando os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, e também propiciando uma importante relação custo-afetividade, por meio de ações multidisciplinares. O bairro de Linha Santa Cruz, situado em um município do interior do Rio Grande do Sul, com aproximadamente 5.000 habitantes, é assistido por uma ESF. Sendo que, também são realizados atendimentos para usuários de outros bairros, por diversos motivos, entre eles o fato da unidade ser mais perto da residência, porque gostam ou tem mais afinidade com algum dos médicos ou ainda porque estavam passando pela unidade. A atual Estratégia de Saúde da Família possui uma equipe multiprofissional, no qual trabalham 1 médica de saúde da família, 1 enfermeira especialista em saúde da família, 2 técnicas de enfermagem (auxiliar de enfermagem), 1 médica clínica geral (trabalha no modelo tradicional), 2 pediatras (modelo tradicional), 1 dentista e 1 auxiliar de saúde bucal, 6 agentes comunitários de saúde, 1 residente em Educação Física (inserido através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do HSC), 1 higienizadora. Ainda faltam 3 agentes comunitários de saúde para completar a equipe. Objetivo do trabalho é relatar a experiência da equipe da unidade de saúde de Linha Santa Cruz no processo de transição no qual passou no ano de 2015. Descrição da experiência: Para este relato destacou-se os depoimentos de parte da equipe da unidade que vivenciou a transição do modelo tradicional de saúde para a Estratégia de Saúde da Família. Relato da enfermeira: Quando iniciei meu trabalho nesta unidade, o agendamento se dava com a distribuição de fichas no turno da manhã, a médica atendia 19 pacientes e se retirava da unidade. Portanto, a unidade não tinha muito movimento, além da médica clínica geral havia dois pediatras e uma ginecologista, no qual eram realizados agendamentos e tudo isso de forma manual. Enquanto modelo tradicional, tínhamos apenas uma agente comunitária de saúde, a qual não conseguia atender toda sua área. Também não havia grupos e visitas domiciliares. Enquanto estava acontecendo a transição de modelo tradicional para Estratégia de Saúde da Família, passamos por dificuldades, pois com o passar dos dias, precisávamos expor para a comunidade e usuários o que estava acontecendo. Alguns não entendiam e relatavam que não deixariam de realizar suas consultas na nossa Unidade. Então no mês de março foi realizada nossa primeira reunião junto à comunidade, onde tivemos a oportunidade de explicar para todos do bairro o nosso trabalho, bem como a diferença de uma unidade tradicional para uma unidade ESF, também definimos a nossa agenda programática, onde iniciamos o atendimento das visitas domiciliares, consequentemente aumentou nossa produção e demanda, pois foi possível apresentar o trabalho e definir ações em conjunto. Foi proposto na reunião encontros de grupos que seriam iniciados a partir do novo modelo de atendimento com atividades coletivas e grupos de saúde preventiva e gestantes. Na verdade não conhecíamos nossa população, nossos usuários. Não sabíamos o que trabalhar, pois não tínhamos nosso planejamento, afinal de contas, tínhamos apenas uma agente comunitária de saúde. Com a implantação do novo modelo, foram incluídos na equipe novos agentes comunitários de saúde, e assim estamos conhecendo nossa população. O primeiro passo foi realizar o mapeamento de cada área, contabilizar o número de pessoas em cada micro área para então iniciar os cadastros domiciliares. Estamos realizando o cadastramento das famílias, até o presente momento, temos um levantamento de aproximadamente 2.727 pessoas, sendo que, algumas micro áreas estão “descobertas”, sem agente comunitário, e não incluídas nesse número. Relato da auxiliar de enfermagem: Iniciei meu trabalho na antiga unidade, a qual disponibilizava à população atendimentos médico clínico geral todos os dias e pediatra uma vez na semana, suprindo a demanda visto que o número de atendimentos era menor, talvez pelo fato de não haver algumas especialidades médicas. A unidade tinha uma estrutura bastante precária, e a equipe era composta por 1 médico clínico, 1 pediatra, 1 auxiliar de enfermagem, 1 agente comunitário de saúde e 1 higienizadora. Nesta eram feitos os encaminhamentos para especialidades, cotas mensais e um dia definido para agendamentos, os demais ficavam na lista de espera para o próximo mês. O médico atendia as fichas do dia e ausentava-se da unidade, não existia tanta burocracia, tudo era realizado á mão, nada via sistema. Não existia encontro de grupos e nem visitas domiciliares, eventualmente fazia-se visita para alguma vacinação em pacientes impossibilitados de se dirigirem à unidade. Agora temos uma unidade nova, ampla e uma equipe maior, temos muito mais a fazer pelo paciente, se tem uma preocupação com o todo, antes se atendia somente a necessidade presente naquele momento. Faz-se um acompanhamento dos pacientes (individual ou coletivo), isso permite que se conheça ainda mais as necessidades dos mesmos e tome as devidas condutas. Com a equipe completa, o atendimento melhorou muito, tanto na unidade quanto em visitas domiciliares, o bairro ganhou muito com esse novo modelo de atendimento. Relato da técnica em enfermagem: Iniciei meu trabalho já na unidade nova, mas ainda como UBS, atendíamos um número elevado de pacientes, um médico clínico geral atendia as demandas vindas de diversas regiões, o atendimento ainda se dava pelo sistema de fichas no dia. Os pacientes madrugavam para conseguir uma ficha, ou passavam a noite na frente da unidade para conseguir atendimento na manhã seguinte, e quando não conseguiam gerava uma situação de conflito. As consultas com pediatra eram agendadas e as urgências eram atendidas sem agendamento. Especialistas eram marcados na unidade e não na Central de Marcações como acontece hoje. Observo que melhorou a organização, atendemos pacientes do bairro e assim conhecemos as necessidades de cada paciente. Percebo que melhorou a disponibilidade de recursos para desenvolver o trabalho, a equipe mais completa ajuda a manter o atendimento do paciente como um todo. A partir deste novo modelo tivemos também a implantação de encontros e atividades de grupos, visitas domiciliares e agendamentos de consultas. No início os pacientes reclamavam dessa mudança, mas aos poucos foram se adaptando ao novo modelo e aderindo às atividades propostas. Efeitos Alcançados: Com a mudança do modelo tradicional para Estratégia de Saúde da Família, tivemos um aumento do número de atendimentos, entre consultas, procedimentos, visitas domiciliares e atividades em grupo. Ainda se faz um trabalho de conscientização e orientação quanto ao novo modelo e a qual unidade deve se reportar para algum atendimento. Com a nova organização e profissionais, a equipe está conseguindo realizar os atendimentos de forma integral, por meio de um trabalho colaborativo, múltiplo e interdependente. Desta forma o trabalho em equipe tem maior capacidade de análise e de intervenções sobre demandas e necessidades de saúde, no âmbito individual e coletivo, que requer um olhar multiprofissional no sistema de saúde primário.

Palavras-chave


Saúde pública; Saúde da Família; Atenção Primária à Saúde

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégia Saúde da Família, Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_esf.php

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Brasília: Ministério da Saúde, 2014 (Cadernos de Atenção Básica, n. 39).