Tamanho da fonte:
RELATO DA EXPERIÊNCIA DOS PRECEPTORES DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Apresentação: O Cuidado Continuado Integrado (CCI) se formata como um novo modelo de assistência, centrado na recuperação global da pessoa, promovendo a sua autonomia e melhorando a sua funcionalidade, no âmbito da situação de dependência em que se encontra. Em 2014 teve início a primeira turma da Residência em Cuidados Continuados Integrados de Campo Grande – MS, a qual tem como instituição formadora a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e como instituição executora o Hospital São Julião. Diante disso, esse relato teve como objetivo descrever as experiências vivenciadas pelas preceptoras das 06 (seis) diferentes áreas integrantes da Residência Multiprofissional em CCI. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: As áreas da saúde que compõem a residência multiprofissional em CCI são enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, serviço social e psicologia. As residências estão estruturadas com dedicação exclusiva de 60 horas semanais, englobando atividades teóricas e práticas, com o intuito de promover o treinamento em serviço na experiência da integralidade dos Cuidados Continuados. Para tanto, há um período destinado ao atendimento dos pacientes na unidade CCI, visando à prática da multiprofissionalidade. Em um segundo momento, os residentes realizam rodízios em cenários externos, com a proposta de conhecer outras realidades relacionadas à assistência em saúde. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Ao longo dos dois anos de funcionamento desta residência multiprofissional, houve um avanço significativo dentro do serviço desenvolvido por cada área inserida no programa. Os enfermeiros executam o Processo de Enfermagem, que é constituído de exame físico e entrevista, a partir do qual é realizado o levantamento de dados específicos relacionados à deficiência física e incapacidades que nortearão as ações da Enfermagem para a assistência à pessoa com deficiência física. Nesse sentido, a enfermagem utiliza a Teoria do Déficit do autocuidado por meio do plano de autocuidado e a estratégia dos 5As para a sistematização do mesmo. Assim, as metas são pactuadas em conjunto com o paciente, por isso que o plano de autocuidado está sendo como uma grande ferramenta para a implementação do mesmo no plano é possível identificar quais são as prioridades do indivíduo e de sua família e se passe a utilizar a mesma linguagem de anseios e de perspectivas. Quanto à farmácia, as atividades já existentes no hospital foram aprimoradas e realizou-se a implementação de atividades clínicas e relacionadas à inserção dos farmacêuticos no cuidado efetivo aos pacientes, tais como a orientação ao paciente para o acesso aos medicamentos de que necessita; a educação do paciente sobre seus medicamentos e problemas de saúde; a conciliação medicamentosa; a promoção da adesão do paciente ao tratamento farmacoterapêutico prescrito; a provisão de materiais educativos que apoiem a utilização de medicamentos; a identificação, a prevenção e o manejo de interações medicamentosas e reações adversas e a educação dos pacientes para o armazenamento domiciliar dos medicamentos. Além das atividades clínicas farmacêuticas, tem-se realizado o desenvolvimento de protocolos, manuais e treinamentos a fim de otimizar e padronizar as rotinas internas. Os farmacêuticos também se reúnem semanalmente a fim de compartilharem conhecimentos baseados em evidência científica e relacionados aos casos por eles assistidos. As atividades fisioterapêuticas que começam durante o início da recuperação são apropriadamente modificadas para desafiar e fazer com que o paciente possa progredir até sua recuperação. São enfatizadas combinações motoras que permitem a concretização das tarefas alimentares, higiênicas, de locomoção e outras tarefas funcionais. O fisioterapeuta inicia com atividades de mobilidade, as quais fará o paciente libertar-se de medos e inseguranças causados pelo desequilíbrio corporal. As atividades realizadas pelos residentes envolvem: exercícios de fortalecimento e alongamento muscular, treino de equilíbrio e estímulos da sensibilidade com a finalidade de minimizar os efeitos das anormalidades de tônus, manutenção de uma amplitude de movimento normal a fim de impedir deformidades; melhoria das funções respiratórias e motoras; mobilização do paciente nas atividades funcionais iniciais envolvendo mobilidade no leito, o ato de sentar, transferências; impedir o descondicionamento; promoção da conscientização corporal, movimentação ativa e uso do lado hemi; melhoria do controle de tronco e equilíbrio na posição sentada; iniciar as atividades de cuidados pessoais, assim auxiliando o paciente entender o que lhe aconteceu e a responder eficientemente a medida que o mesmo tente se adaptar. Já as atividades desenvolvidas pela nutrição são vinculadas ao setor de nutrição e dietética do hospital. No que se refere à dietoterápica dos pacientes, as alterações são realizadas de forma individualizada, após avaliação nutricional. Inicialmente, realiza-se avaliação antropométrica e dietética. Após, são prescritos os cardápios, que são destinados ao setor de nutrição para elaboração. Após a primeira avaliação, realiza-se a reavaliação e avaliação final. No momento da alta hospitalar, são entregues orientações. Foram também implementadas atividades relacionadas à inserção dos nutricionistas nas consultas ambulatoriais de promoção da adesão ao tratamento. A atuação do serviço social é norteada pelo Projeto de Reforma Sanitária e o projeto ético-político da profissão, em defesa dos direitos à saúde, preconizados no SUS. A inserção do assistente social na equipe multiprofissional trouxe desafio do trabalho no enfoque interdisciplinar, visando atender os aspectos biopsicossociais, contribuindo para que o sujeito seja tratado e cuidado em sua totalidade. Para tanto, a apropriação das políticas públicas e a articulação do trabalho com outros profissionais que compõem a rede foram fundamentais para a melhoria dos processos de trabalho e a efetivação dos direitos à saúde. Para o desenvolvimento das ações, foram utilizados os instrumentos de trabalho do assistente social, em atividades conjuntas, sempre buscando a interdisciplinaridade, mas cientes de que ainda estamos em um processo de conquistas e aprendizado com as demais áreas. Para as preceptoras, o desafio em orientar o trabalho das residentes foi grande, mas rico em aprendizado conjunto, oportunizando a aprendizagem diária, socialização de experiências, construção de novos saberes e novas possibilidades de transformação da realidade. O serviço de psicologia da residência abrange: os pacientes de CCI, através da atuação na psicoterapia breve, individual ou em grupo, com foco na deficiência e nos seus impactos para o paciente e sua família; os pacientes idosos da instituição de longa permanência do HSJ, através do atendimento individualizado e em grupo, com realização de atividades cognitivas e aplicação de instrumentos para avaliação, brincadeiras e trabalho com imagem através de fotografias; o projeto Atendimento Multidisciplinar do Idoso (AMI), desenvolvido por uma equipe transdisciplinar, onde a psicologia é responsável por atividades específicas para a população idosa; e a educação em saúde, através de rodas de conversa com familiares de pacientes internados, com pacientes ambulatoriais e com diagnóstico de hanseníase, com materiais informativos e conversas educativas em filas de espera. Na área organizacional, a psicologia participa dos processos de seleção, recrutamento e acolhimento de funcionários. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O trabalho multiprofissional desenvolvido por todas as áreas de atuação da residência em CCI representa um desafio a ser trabalhado coletivamente. Contudo, ressaltamos que todas as áreas vêm ampliando seus espaços dentro da instituição, desde a criação da residência multiprofissional. Além disso, o contínuo avanço nas construções e conquistas coletivas da equipe multiprofissional da residência certamente contribuirão para a formação de profissionais capacitados e habilitados para a formatação e composição de redes de atenção à saúde que favoreçam a implementação e concretização dos princípios e diretrizes do SUS.
Palavras-chave
Preceptoria; Educação em saúde; Cuidados Continuados Integrados