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Influência da gestão para o funcionamento das diferentes Unidades de Saúde visitadas durante o VER-SUS Uberlândia e Uberaba
Última alteração: 2015-10-30
Resumo
Apresentação: Trata-se de um relato de experiência que objetiva comparar criticamente as gestões de diferentes unidades de saúde visitadas durante as Vivências e Estágios na Realidade do SUS (VER-SUS) Uberlândia 2015.1 e VER-SUS Uberaba 2015.2. As vivências permitiram aos participantes analisarem e compararem algumas unidades de saúde de maneira crítica. No que se refere à gestão da atenção na saúde, é importante considerar que um dos principais entraves ao desenvolvimento da Reforma Sanitária brasileira tem sido, segundo Carvalho & amp; Cunha (2006), a falta de engajamento para que ocorram mudanças no processo de trabalho e falta de participação dos trabalhadores da área da saúde na melhoria da classe. Nesse sentido, percebe-se a importância de se considerar o trabalho desses profissionais como um elemento determinante para a mudança do modelo assistencial em saúde. Cabe lembrar que os modelos de assistência em saúde apresentam-se tanto como uma tradução pragmática das regras legislativas que normatizam o setor, de condicionantes macropolíticos (Estado, Políticas Públicas), econômicos e sociais, quanto pela ação política de sujeitos individuais e coletivos (Carvalho & Cunha, 2006). Os participantes das vivências constataram que todos os cargos de gestão de unidades de saúde em Uberaba são comissionados, sob indicação política, o que muitas vezes pode resultar em ineficiência administrativa, seguindo a lógica da “cordialidade”, descrita por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), não levando em conta a capacitação profissional. Soma-se a isso o fato de, na maioria das vezes, não existir um treinamento eficiente desses gestores, adaptado à realidade da unidade em questão. Em tais contextos vivenciados, foram identificados profissionais desde os mais capacitados até aqueles que são ausentes dos locais de sua responsabilidade. Tais percepções focais demonstram a necessidade de se construírem alternativas organizacionais que busquem a superação de uma determinada tradição gerencial fundamentada na transformação das pessoas em instrumentos que seguem os objetivos das instituições de saúde. É preciso para a superação dessa visão reducionista o estímulo do compromisso das equipes com a produção de saúde. Desenvolvimento do trabalho: Exemplos dessas realidades foram observados em março de 2015, durante o VER-SUS Uberlândia, quando os participantes visitaram instituições como a Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Rural Tangará e a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) Tibery, locais significativos para comparação de gestões. A primeira, apesar de contar com menos recursos em relação à cidade, garantiu melhorias na promoção e prevenção da saúde da população rural desde a sua fundação, em agosto de 2014. A UAI Tibery, que tem um fluxo populacional e verbas maiores, ainda assim não promove a totalidade dos benefícios que poderia ofertar às suas 11 áreas de referência. Apesar de tratar-se de níveis diferentes de atenção à saúde, essa comparação ocorreu pelos questionamentos relacionados à forma como acontecia a gestão das unidades, sendo percebido um maior conhecimento e articulação entre administração e saúde pública pela coordenação da UBSF Rural. O VER-SUS Uberaba, em julho de 2015, permitiu aos viventes o entendimento da discrepância do funcionamento das unidades de saúde de acordo com a gestão. No Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), não ocorrem atendimentos essenciais, como aqueles voltados para a saúde da mulher idosa, da mulher negra e da mulher transexual, que são populações submetidas a determinantes sociais da saúde que merecem uma atenção especializada. Diante o discurso da gestora, notou-se que mesmo contando com um dos melhores espaços físicos, em comparação a outras unidades de saúde, ele é pouco aproveitado. Na Residência Terapêutica, no bairro Fabrício, segundo relatos dos funcionários e observação dos viventes, o gestor aparece uma vez por mês. Em oposição ao CAISM, o local é alugado e inapropriado às atividades dos residentes, tendo, ainda assim, utilização máxima do espaço. A unidade funciona devido ao empenho dos funcionários, o que evidencia a importância do trabalho multiprofissional comprometido para o funcionamento adequado de uma unidade, ainda que a gestão em si não seja efetiva. Na Unidade Especializada em Reabilitação (UER), o gestor demonstrou pouco conhecimento sobre a instituição e os serviços prestados. Aqui observa-se que cargos comissionados têm a possibilidade de atrapalhar ou potencializar um funcionamento mais eficaz da instituição, de acordo com seu preparo profissional e sua motivação interna. O Centro de Saúde Eurico Vilela de Uberaba, abrangendo três gestões (básica, especializada e epidemiológica) necessitava de uma coordenação mais eficaz; possui, agora, um gestor comissionado, que está promovendo a unidade. Isso ficou evidente pois, antes dele a unidade estava com defasagem estrutural, materiais entulhados, e programas com pouca eficiência. Após seis meses de sua gerência, foi perceptível melhorias significativas, como a ausência de entulhos, reforma do prédio – cedido pelo Estado e inadequado para as atividades -, efetivação e criação de programas de saúde. Também foi possível conhecer o funcionamento da Farmácia de Acolhimento de Uberaba, inaugurada em junho de 2013, abrangendo tanto usuários da farmácia básica quanto os de medicamentos de alto custo. O objetivo da unidade é, por meio de uma equipe treinada, dar o atendimento correto, seguindo o fluxo farmacêutico preconizado pelo Ministério da Saúde. Foi possível observar que a presença de uma advogada, ainda que comissionada, comprometida na gestão da unidade juntamente com a ação de profissionais da área farmacêutica, resultou em otimização da distribuição e fluxo dos medicamentos no município. Ademais, houve redução da judicialização da Saúde, pois a coordenadora promoveu uma integração entre os médicos e juízes, reduzindo a necessidade de mandados judiciais para o fornecimento de medicamentos. Resultados: As realidades vivenciadas nas duas cidades apresentaram variedade de modelos de gestão que evidenciaram situações díspares de coordenadores comissionados e concursados. Enquanto uns desempenhavam a função eficazmente, dispostos a realizarem um atendimento multidisciplinar, que atenda às demandas biopsicossociais dos usuários, outros tinham como padrão a ineficácia. Em casos de gestão inoperante, percebia-se a importância dos profissionais que realizavam as atividades e geriam indiretamente a unidade. Outro entrave era a estrutura dos espaços, que prejudicava a gerência da maioria dos locais visitados, pois eram alugados ou cedidos e inapropriados. Assim, faz-se necessário a existência concomitante de um profissional gestor capacitado, perceptivo às necessidades estruturais, administrativas e sociais, e uma equipe comprometida com as demandas da saúde pública. Segundo Carvalho & Cunha (2006), o comprometimento dos trabalhadores de saúde deve necessariamente incluir a ideia de que: “A compreensão que temos sobre o que é saúde e doença condiciona o olhar sobre a realidade e define, em boa medida, o que é problema de saúde, assumindo um papel determinante sobre as características organizativas do setor da saúde”. Sendo assim, apenas o trabalho conjunto destes agentes sociais pode resultar no funcionamento ideal das unidades que compõem o SUS. Considerações finais Nos municípios de Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais, o cargo comissionado é um aspecto relevante, pois é adequado quando a pessoa indicada é capacitada para tal função, porém, um problema quando ela possui o cargo e não desenvolve melhorias esperadas. Também foi possível observar diversos fatores situacionais referentes ao modo de gestão, sendo possível afirmar que para que ocorra o funcionamento efetivo da unidade de saúde é preciso uma equipe adaptada à realidade do espaço e disposta a atuar em conjunto para a prevenção de doenças, promoção e reabilitação da saúde.
Palavras-chave
gestão; ver-sus; cargos; saúde
Referências
HOLANDA, Sérgio Buarque de, 1902-1982. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
CAMPOS, Gastão Wagner et al. Tratado de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: HUCITEC/FIOCRUZ, 2006.