Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Influência da gestão para o funcionamento das diferentes Unidades de Saúde visitadas durante o VER-SUS Uberlândia e Uberaba
Aline Cristina Barbosa Siqueira, Augusto César Ferreira Rocha, Cristiane de Souza Moraes Donegá, Gabriela Alves Martins Guimarães Lyrio Todo, Maria Juliana da Silva Almeida, Morgana de Oliveira Couto

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Apresentação: Trata-se de um relato de experiência que objetiva comparar criticamente as gestões de diferentes unidades de saúde visitadas durante as Vivências e Estágios na Realidade do SUS (VER-SUS) Uberlândia 2015.1 e VER-SUS Uberaba 2015.2. As vivências permitiram aos participantes analisarem e compararem algumas unidades de saúde de maneira crítica. No que se refere à gestão da atenção na saúde, é importante considerar que um dos principais entraves ao desenvolvimento da Reforma Sanitária brasileira tem sido, segundo Carvalho & amp; Cunha (2006), a falta de engajamento para que ocorram mudanças no processo de trabalho e falta de participação dos trabalhadores da área da saúde na melhoria da classe. Nesse sentido, percebe-se a importância de se considerar o trabalho desses profissionais como um elemento determinante para a mudança do modelo assistencial em saúde. Cabe lembrar que os modelos de assistência em saúde apresentam-se tanto como uma tradução pragmática das regras legislativas que normatizam o setor, de condicionantes macropolíticos (Estado, Políticas Públicas), econômicos e sociais, quanto pela ação política de sujeitos individuais e coletivos (Carvalho & Cunha, 2006). Os participantes das vivências constataram que todos os cargos de gestão de unidades de saúde em Uberaba são comissionados, sob indicação política, o que muitas vezes pode resultar em ineficiência administrativa, seguindo a lógica da “cordialidade”, descrita por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), não levando em conta a capacitação profissional. Soma-se a isso o fato de, na maioria das vezes, não existir um treinamento eficiente desses gestores, adaptado à realidade da unidade em questão. Em tais contextos vivenciados, foram identificados profissionais desde os mais capacitados até aqueles que são ausentes dos locais de sua responsabilidade. Tais percepções focais demonstram a necessidade de se construírem alternativas organizacionais que busquem a superação de uma determinada tradição gerencial fundamentada na transformação das pessoas em instrumentos que seguem os objetivos das instituições de saúde. É preciso para a superação dessa visão reducionista o estímulo do compromisso das equipes com a produção de saúde. Desenvolvimento do trabalho: Exemplos dessas realidades foram observados em março de 2015, durante o VER-SUS Uberlândia, quando os participantes visitaram instituições como a Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Rural Tangará e a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) Tibery, locais significativos para comparação de gestões. A primeira, apesar de contar com menos recursos em relação à cidade, garantiu melhorias na promoção e prevenção da saúde da população rural desde a sua fundação, em agosto de 2014. A UAI Tibery, que tem um fluxo populacional e verbas maiores, ainda assim não promove a totalidade dos benefícios que poderia ofertar às suas 11 áreas de referência. Apesar de tratar-se de níveis diferentes de atenção à saúde, essa comparação ocorreu pelos questionamentos relacionados à forma como acontecia a gestão das unidades, sendo percebido um maior conhecimento e articulação entre administração e saúde pública pela coordenação da UBSF Rural. O VER-SUS Uberaba, em julho de 2015, permitiu aos viventes o entendimento da discrepância do funcionamento das unidades de saúde de acordo com a gestão. No Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), não ocorrem atendimentos essenciais, como aqueles voltados para a saúde da mulher idosa, da mulher negra e da mulher transexual, que são populações submetidas a determinantes sociais da saúde que merecem uma atenção especializada. Diante o discurso da gestora, notou-se que mesmo contando com um dos melhores espaços físicos, em comparação a outras unidades de saúde, ele é pouco aproveitado. Na Residência Terapêutica, no bairro Fabrício, segundo relatos dos funcionários e observação dos viventes, o gestor aparece uma vez por mês. Em oposição ao CAISM, o local é alugado e inapropriado às atividades dos residentes, tendo, ainda assim, utilização máxima do espaço. A unidade funciona devido ao empenho dos funcionários, o que evidencia a importância do trabalho multiprofissional comprometido para o funcionamento adequado de uma unidade, ainda que a gestão em si não seja efetiva. Na Unidade Especializada em Reabilitação (UER), o gestor demonstrou pouco conhecimento sobre a instituição e os serviços prestados. Aqui observa-se que cargos comissionados têm a possibilidade de atrapalhar ou potencializar um funcionamento mais eficaz da instituição, de acordo com seu preparo profissional e sua motivação interna. O Centro de Saúde Eurico Vilela de Uberaba, abrangendo três gestões (básica, especializada e epidemiológica) necessitava de uma coordenação mais eficaz; possui, agora, um gestor comissionado, que está promovendo a unidade. Isso ficou evidente pois, antes dele a unidade estava com defasagem estrutural, materiais entulhados, e programas com pouca eficiência. Após seis meses de sua gerência, foi perceptível melhorias significativas, como a ausência de entulhos, reforma do prédio – cedido pelo Estado e inadequado para as atividades -, efetivação e criação de programas de saúde. Também foi possível conhecer o funcionamento da Farmácia de Acolhimento de Uberaba, inaugurada em junho de 2013, abrangendo tanto usuários da farmácia básica quanto os de medicamentos de alto custo. O objetivo da unidade é, por meio de uma equipe treinada, dar o atendimento correto, seguindo o fluxo farmacêutico preconizado pelo Ministério da Saúde. Foi possível observar que a presença de uma advogada, ainda que comissionada, comprometida na gestão da unidade juntamente com a ação de profissionais da área farmacêutica, resultou em otimização da distribuição e fluxo dos medicamentos no município. Ademais, houve redução da judicialização da Saúde, pois a coordenadora promoveu uma integração entre os médicos e juízes, reduzindo a necessidade de mandados judiciais para o fornecimento de medicamentos. Resultados: As realidades vivenciadas nas duas cidades apresentaram variedade de modelos de gestão que evidenciaram situações díspares de coordenadores comissionados e concursados. Enquanto uns desempenhavam a função eficazmente, dispostos a realizarem um atendimento multidisciplinar, que atenda às demandas biopsicossociais dos usuários, outros tinham como padrão a ineficácia. Em casos de gestão inoperante, percebia-se a importância dos profissionais que realizavam as atividades e geriam indiretamente a unidade. Outro entrave era a estrutura dos espaços, que prejudicava a gerência da maioria dos locais visitados, pois eram alugados ou cedidos e inapropriados. Assim, faz-se necessário a existência concomitante de um profissional gestor capacitado, perceptivo às necessidades estruturais, administrativas e sociais, e uma equipe comprometida com as demandas da saúde pública. Segundo Carvalho & Cunha (2006), o comprometimento dos trabalhadores de saúde deve necessariamente incluir a ideia de que: “A compreensão que temos sobre o que é saúde e doença condiciona o olhar sobre a realidade e define, em boa medida, o que é problema de saúde, assumindo um papel determinante sobre as características organizativas do setor da saúde”. Sendo assim, apenas o trabalho conjunto destes agentes sociais pode resultar no funcionamento ideal das unidades que compõem o SUS. Considerações finais Nos municípios de Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais, o cargo comissionado é um aspecto relevante, pois é adequado quando a pessoa indicada é capacitada para tal função, porém, um problema quando ela possui o cargo e não desenvolve melhorias esperadas. Também foi possível observar diversos fatores situacionais referentes ao modo de gestão, sendo possível afirmar que para que ocorra o funcionamento efetivo da unidade de saúde é preciso uma equipe adaptada à realidade do espaço e disposta a atuar em conjunto para a prevenção de doenças, promoção e reabilitação da saúde.

Palavras-chave


gestão; ver-sus; cargos; saúde

Referências


HOLANDA, Sérgio Buarque de, 1902-1982. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

CAMPOS, Gastão Wagner et al. Tratado de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: HUCITEC/FIOCRUZ, 2006.