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LOUCURA E CULTURA: REINVENTANDO A SAÚDE MENTAL
Última alteração: 2015-10-31
Resumo
Apresentação: O presente trabalho é um relato da experiência da construção coletiva do movimento da Luta Antimanicomial no município de Marília/SP. De formação autônoma e independente, este grupo realiza intervenções artístico-culturais com o objetivo de promover o debate sobre as práticas de cuidado em saúde mental e reinserção social. Desenvolvimento do trabalho: A partir da iniciativa de profissionais de Terapia Ocupacional de Marília, nasceu o desejo de promover discussões em favor do cuidado humanizado em saúde mental no município. Iniciou-se então um processo de mobilização dos serviços, profissionais, usuários, gestores e secretarias municipais para a construção da I Semana Cultural da Luta Antimanicomial, com um cronograma de atividades que proporcionou rodas de conversa, panfletagem, passeata, apresentações e oficinas culturais. Em 2014, a II Semana Cultural da Luta Antimanicomial de Marília foi redesenhada a partir da criação de uma comissão autônoma e independente, que além da formação anterior incluía também líderes comunitários, comunidade acadêmica e conselhos regionais de profissões. Nesta edição foi possível ampliar as discussões sobre o tema por meio de oficinas, exibição de filmes, manifestações culturais, plenária e passeata. No ano de 2015, a terceira edição prosseguiu contando com a participação voluntária de seus integrantes e tornou-se mais aberta a contribuição dos diferentes atores e movimentos sociais de Marília. A articulação junto à iniciativas culturais possibilitou a diversificação das ações incluindo um Sarau interativo de música, arte e poesia (construído colaborativamente com a comunidade) e também uma sólida parceria com o movimento Hip Hop. Resultados: É possível observar, nesta experiência, que as relações de saber-poder ainda permeiam os espaços de formação profissional e os serviços de saúde mental, criando um obstáculo para a efetiva transformação no que diz respeito ao lugar social dado à loucura e ao diferente, perpetuando o modelo hegemônico que estigmatiza e marginaliza as pessoas em sofrimento mental. Apesar disso, ao longo desses três anos de realização da Semana Cultural da Luta Antimanicomial em Marília, verificou-se que o movimento contribuiu para a popularização do debate sobre a necessidade de superação do olhar e das práticas manicomiais. Mesmo após o encerramento das atividades, realizadas às vésperas do 18 de Maio, permanece a articulação junto à comunidade acadêmica e grupos culturais para dar continuidade às discussões em prol da garantia de direitos, cidadania e inclusão social. Considerações finais: O propósito do movimento da Luta Antimanicomial de Marília é defender o direito dos sujeitos em sofrimento mental à vida, à liberdade e ao convívio em sociedade, com discussões/ações que mobilizem usuários, familiares, profissionais, gestores e comunidade na militância por um cuidado verdadeiramente humanizado, participativo e empoderador, que respeite as necessidades e a singularidade de cada um dos atores sociais envolvidos. A consolidação desta organização coletiva enquanto “frente” ou “fórum” permanente mostra-se importante para assegurar a representatividade popular e o reconhecimento das reivindicações desse movimento perante a gestão local.
Palavras-chave
Luta Antimanicomila; Cultura; Empoderamento; Comunidade