Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
INTEGRAÇÃO ENTRE VIGILÂNCIA EM SAÚDE E ATENÇÃO PRIMÁRIA NO BRASIL: DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES AO SUS
Manases José Bernardo de Lima

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Apresentação e objetivo do trabalho: Este artigo trata da integração entre a Vigilância em Saúde (VS) e da Atenção Primária em Saúde (APS) no Brasil. O objetivo principal foi analisar os desafios e as contribuições desta integração para o Sistema Único de Saúde (SUS), sob o ponto de vista dos gestores em saúde, nas três esferas de gestão. Esta integração se refere a um processo complexo e interdisciplinar de aproximações teórico-prático que visa bem mais que a inserção das ações de VS nas práticas da APS. O termo “Atenção Primária em Saúde” é considerado por Mello et al. (2009) como uma terceira expressão, uma variação terminológica adotada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em 2005 e pelo CONASS em 2007, originada da tradução de “Primary Health Care (PHC)”, referente à língua inglesa, impressa para a conferência de Alma Ata da OMS em 1978. Porém, de acordo com o autor, a APS teve seu definitivo momento de visualização após o clássico estudo “atenção médica primária”, o qual demonstrou que a imensa maioria da assistência médica nos Estados Unidos da América (EUA) e Reino Unido era realizada nesse nível de atenção. De acordo com Batistela (2009), o termo “Vigilância em Saúde” direciona ao verbo vigiar. A palavra tem sua origem no latim vigilare e, segundo o Dicionário Aurélio, significa observar atentamente, estar de sentinela, estar atento a. Segundo Waldman (1998), a vigilância passa ter o propósito de aprimorar as medidas de controle às doenças, e não só com a definição limitada e específica de observação de contatos de pacientes com doenças ditas “pestilenciais”. Sem a pretensão de reducionismo, é possível compreender VS à luz de três diferentes concepções definidas por Teixeira, Paim e Vilasboas (1998): a primeira concepção define VS no sentido de “Análise de Situação de Saúde”, contribuindo para ampliação e fomentação do Planejamento em Saúde (TEIXEIRA, 2003); a segunda define VS numa visão de “Integração Institucional entre a Vigilância Epidemiológica (VE) e a Vigilância Sanitária (VISA)”; o terceiro entendimento está ligado à ideia de uma “Proposta de Redefinição das Práticas Sanitárias”. Esta última vertente conceitual possui também duas concepções diferentes, que embora não sejam antagônicas, divergentes e excludentes, enfatizam aspectos distintos da VS. O primeiro aspecto valoriza a dimensão técnica da VS, na medida em que a percebe enquanto um “Modelo Assistencial Alternativo”. Desenvolvimento do trabalho: descrição da experiência ou método do estudo – Trata-se de um Estudo inovador e de natureza científica original, de paradigma teórico-metodológico fenomenológico e fenomenográfico, de pesquisa do tipo não experimental e exploratória, fundamentada na combinação de abordagem, de enfoque quantitativo, utilizando escopo de levantamento survey, de corte-transversal não probabilístico; e de enfoque qualitativo, utilizando método interpretativista; com análise de conteúdo do tipo temático e descritivo, com propósito de nível exploratório, analítico e interpretativo-explicativo, orientado à compreensão do fenômeno para os sujeitos estudados, por meio das pesquisas de campo e análise documental, utilizando uma triangulação de método e ênfase no enfoque qualitativo (SANTOS, 2009; MINAYO, 2010; BABBIE, 1999). Investigou-se as seguintes categorias de análise: Conceito, Desafios e Contribuições. Foram tratadas aqui as categorias “desafios”, ou “entraves”, e “contribuições”. A unidade de análise foi à gestão tripartite do SUS. Foram selecionados e estudados 16 estados, 29 municípios, cinco regiões do país e 6 instituições da esfera federal e analisou-se 23 publicações. Participaram 162 sujeitos (73% da amostra). Resultados e/ou impactos: os efeitos percebidos decorrentes da experiência ou resultados encontrados na pesquisa - Na sondagem de opinião a aplicação do questionário foi realizado de forma presencial, durante o Congresso Nacional de Secretário Municipal de Saúde, realizado em Brasília, em 2011. Participaram do estudo 149 sujeitos das três esferas de gestão (73,3% do esperado). A esfera de Gestão Federal apresentou o maior percentual de participação e a esfera municipal foi que apresentou o menor percentual de participação (64,44%), com maior participação dos secretários de saúde (70%) do que dos gestores de áreas técnicas. A menor participação foi dos Secretários Estaduais de Saúde (62,5%). Enquanto que na esfera federal a participação foi maior do que o esperado (120%), exceto em relação aos gestores ligados à FUNASA (26,67%). Os principais desafios para a gestão em saúde foram para esfera federal (81,3%); e em terceiro lugar do ponto de vista dos gestores da esfera estadual (49,2%). O Monitoramento e a Avaliação das ações de forma integrada foram compreendidos pelos gestores da esfera estadual como o mais importante desafio (57,6%), para a esfera municipal. Na opinião dos gestores das esferas municipal/estadual as 10 (dez) mais importantes contribuições são, seguindo respectivamente a ordem de classificação: o planejamento estratégico situacional (21,8%); a análise nas condições de vida e situação de saúde (13,5%); a integração entre os profissionais, equipes, ações e serviços de saúde (12,5%); a mudança de paradigma no modelo de gestão e de atenção à saúde (11,9%); a integralidade do cuidado na atenção à saúde (11,2%); a otimização e racionalização dos recursos humanos, materiais e financeiros (10,8%); a atenção à saúde de base territorial local (10,6%); o conhecimento local das situações de risco, vulnerabilidades, iniquidades e dos determinantes e condicionates da saúde (10,6%); o aumento do grau de resolutividade das ações e serviços de saúde – proatividade, eficiência, eficácia e efetividade (8,5%); o monitoramento e a avaliação integrados (8,1%). Os principais achados relacionados às contribuições da integração entre a VS e a APS para o SUS, dialogam com os achados encontrados sobre os principais desafios a serem enfrentados pelos gestores, investigados neste mesmo estudo: Planejamento em Saúde; Monitoramento e Avaliação; Território Único de atuação das equipes; Integração entre os profissionais, as equipes e as instituições. Considerações finais: Cada um dos resultados retratam uma especificidade das percepções dos sujeitos sobre os desafios e as contribuições da integração entre a VS e a APS no SUS, numa dada perspectiva subjetiva, para um tipo de gestor, em um tipo de esfera de gestão e numa determinada realidade locorregional. Percebe-se que a Triangulação de Método ampliou a capacidade investigativa; revelou peculiaridades por região e esfera de gestão; apontou semelhanças e diferenças melhor discutidas no trabalho; aprofundou os termos/concepções identificados; e fez emergir divergências e conflitos.

Palavras-chave


Vigilância em Saúde, Atenção Primária em Saúde, Gestão em Saúde, Integração em Saude

Referências


1.   CAMPOS, Carlos Eduardo Aguilera. “O desafio da integralidade segundo as perspectivas da     vigilância em saúde e da saúde da família”.Revista Ciências & Saúde, 2003, 8(2); pag. 569-584.

2.   MENDES, Eugênio Vilaça. O SUS e a Atenção Primária à Saúde. Entrevista concedida a Revista APS, V. 8, n. 2, p. 218-219, jul./dez. 2005

3.   BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. SUS 20 anos / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília: CONASS, 2009.      282p.

4.    MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em

Saúde /Maria Cecília de Souza Minayo.12.ed. – São Paulo: Hucitec, 2010.

5.  BABBIE, E. Métodos de pesquisas de Survey. Tradução de Guilherme Cezarino. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.