Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL COMO MEIO DE QUALIFICAÇÃO PARA O TRABALHO NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE
Valeria Baccarin Ianiski, Camila Eichelberg Madruga, Sara Gallert Sperling, Marli Kronbauer, Maria Cristina Ehlert

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


Apresentação A atenção básica se constitui como a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), orientando-se “pelos princípios da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social” (BRASIL, 2012b, p. 19). Tem entre suas diretrizes o desenvolvimento de ações que impactem nos condicionantes e determinantes da saúde da população, desenvolvendo ações articuladas com os vários pontos de atenção das redes e políticas públicas. A atenção básica consolida-se como uma estratégia para o desenvolvimento de ações que visam à promoção, proteção e recuperação da saúde em um determinado território, evidenciando a importância da qualificação do profissional de saúde. Nesse contexto, inserem-se as residências multiprofissionais e em área profissional da saúde, instituídas pela Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, que objetivam a qualificação dos profissionais de saúde, integrando as áreas da saúde e educação (BRASIL, 2005). Conforme o Art. 3º, § 2º da Resolução nº 2, de 13 de abril de 2012, da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde, as residências multiprofissionais “constituem programas de integração ensino-serviço-comunidade [...] particularmente em áreas prioritárias para o SUS”, orientadas pelos princípios e diretrizes do mesmo (BRASIL, 2012a). Considerando a complexidade do cuidado ofertado pela atenção básica, instituíram-se as residências multiprofissionais em saúde da família, visando qualificar os profissionais para atuarem na porta de entrada do sistema. Assim, este trabalho objetiva contribuir para a discussão acerca da importância da residência multiprofissional na qualificação do profissional atuante na saúde da família. Desenvolvimento: As residências multiprofissionais são estruturadas por meio das atividades de formação e de ensino em serviço, que perfazem uma carga horária de 5.760 horas, distribuídas em 60 horas semanais durante dois anos. Os profissionais residentes inserem-se nos processos de trabalho das equipes de saúde, contribuindo na realização das diferentes ações que compõem o trabalho na atenção básica, onde se destacam atividades comunitárias (escolas, creches, praças, reuniões com a comunidade), grupos de saúde, atendimentos individuais, acolhimento de demanda espontânea, atenção domiciliar e articulação com as instituições da rede de atenção. Além do ensino em serviço, são desenvolvidas atividades de formação voltadas à articulação teórico-prática e análise acerca do trabalho desenvolvido pelos profissionais da saúde. A estrutura da residência multiprofissional contribui para uma vivência intensa da realidade dos serviços de Atenção Básica, o que proporciona ao profissional uma gama de experiências no âmbito da promoção, proteção e recuperação da saúde. Impactos: A Atenção Básica que temos hoje é o resultado da experiência acumulada de vários atores na consolidação do Sistema Único de Saúde. O alto grau de capilaridade e proximidade com a vida das pessoas é que se faz o diferencial deste sistema de saúde que avisa atender a todas as pessoas. A Atenção Básica deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde (BRASIL, 1990; BRASIL, 2012b). Sendo a Atenção Básica o primeiro contato do sujeito com o serviço, é necessário que este de conta de um conjunto de ações de saúde que envolva o âmbito individual e coletivo em que este está inserido, proporcionando atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades, associados à gestão do cuidado, dinamicidade e resolutividade da assistência (BRASIL, 2012b). O processo de trabalho dos serviços de atenção básica, por desenvolver-se tão próximo à realidade de vida da população, incorpora o cuidado de um amplo leque de demandas e condições de saúde. Conforme Mendes (2015), a atenção básica atende uma demanda ampla quantitativamente, que envolve principalmente o cuidado de condições de saúde crônicas. O autor destaca também que o trabalho vai além dos diagnósticos, dado a quantidade também significativa de problemas gerais e específicos. Outra característica da demanda na atenção básica são as variações sazonais e temporais, embora o cuidado de questões crônicas se mantenha ao longo do ano. O processo de trabalho apresenta ainda a necessidade de intervir no âmbito do cuidado preventivo, envolvendo a prevenção de fatores de risco, rastreamento de doenças, imunização e vacinação, estímulo à adoção de hábitos de vida saudáveis, dentre outros (MENDES, 2015). Outra demanda de trabalho na atenção básica é a atenção domiciliar, desenvolvida por toda a equipe multiprofissional. Portanto, diferentemente do olhar reducionista da atenção básica como espaço de cuidados simples e básicos, observa-se que a atenção básica atende uma demanda complexa, o que requer a qualificação permanente e o olhar sensível à realidade dos profissionais de saúde. Os serviços prestados possuem uma complexidade e necessidade de intervenções articuladas tanto intersetorialmente quanto nos vários níveis de gestão do SUS. Neste sentido, a qualificação do profissional que atua na AB, torna-se imprescindível. Por meio da educação permanente, se dá também a qualificação que permite aos profissionais atuantes de diferentes áreas um maior desenvolvimento de suas capacidades, auxiliando na melhoria e garantia da qualidade da atenção (CARDOSO, 2012). Desta forma, verifica-se que a educação permanente, também considerada como um desdobramento de mudanças na formação dos profissionais de saúde constitui-se como um importante instrumento de aperfeiçoamento, proporcionador de aprendizagens e reflexões críticas sobre o processo de trabalho bem como, a transformação das práticas profissionais na equipe de saúde (CARDOSO, 2012). Considerações finais: A complexidade do trabalho na atenção básica necessita aperfeiçoamento e aprimoramento dos profissionais que nela irão atuar. A Residência Multiprofissional em Saúde da Família, caracterizada como um dos meios para a educação permanente contribui de forma significativa na formação dos profissionais de saúde, preparando-os para uma atuação qualificada na AB e com conhecimentos práticos na mesma.

Palavras-chave


Saúde da família; Educação continuada; Atenção primária à saúde

Referências


Referências

BRASIL. Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005. Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, e 10.429, de 24 de abril de 2002; e dá outras providências. Brasília/DF, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11129.htm>. Acesso em: 18/junho/2015.

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