Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ENSINO HÍBRIDO NA FORMAÇÃO EM FISIOTERAPIA: POTENCIALIDADES, DESAFIOS E LIMITAÇÕES
Thatiane Lopes Valentim Di Paschoale Ostolin, Victor Zuniga Dourado

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


APRESENTAÇÃO: A postura ativa do estudante na construção do conhecimento é o princípio norteador do processo de ensino-aprendizagem no ensino de Cinesiologia. Seguindo esse modelo, os módulos de Cinesiologia I e II, destinados aos estudantes de Fisioterapia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), englobam desde a revisão das estruturas anatômicas, perpassando pelo estudo da biomecânica até a fisiologia do exercício aplicada à clínica. Estes conteúdos costumam ser memorizados pelos estudantes em modelos tradicionais de ensino centrados na figura do professor. Acredita-se que o uso de metodologias ativas vai ao encontro do perfil dos universitários da atualidade, assim como a realização de atividades não presenciais em complementaridade ao conteúdo abordado em sala de aula. Nesta perspectiva, entende-se ainda que o uso do ambiente virtual de aprendizagem (AVA) favorece o aumento do desempenho dos estudantes e o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes coerentes e contextualizadas ao flexibilizar o processo de ensino-aprendizagem; contribui na horizontalização das relações estabelecidas entre atores envolvidos e estimula o protagonismo dos alunos na busca e produção de conhecimento através da interatividade e da maior aproximação da realidade, demandas e expectativas deles advindas. Ainda neste espectro, dada a grande diversidade de temáticas e focos de atuação, a presença de monitores, atuando como auxiliares didáticos e tutores faz-se necessária como facilitadores e promotores da interação professor-aluno, além de proporcionar a vivência didático-pedagógica que fará a diferença na integralidade da sua formação. Diante disso, tem-se como propósito romper com fazeres tradicionais, estimulando que o estudante desenvolva seu papel enquanto protagonista do processo de ensino-aprendizagem. Desenvolvimento do trabalho: Implantado em 2012, os participantes desta iniciativa tem sido os estudantes de Cinesiologia do Curso de Fisioterapia da UNIFESP, Campus Baixada Santista. A experiência consiste, basicamente, na associação de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, uso de AVA e atividades de monitoria como eixos estruturantes do processo formativo. Os módulos contam com uma página na internet em plataforma Moodle, na qual são disponibilizados inúmeros materiais em diversos formatos, assim como oferecidos outros recursos virtuais. O uso da página também figura na composição das notas, de modo que são identificados aspectos qualitativos do acesso e ponderados em sua relevância no desempenho no decorrer dos módulos. No que se refere ao módulo de Cinesiologia I, as atividades desenvolvidas presencialmente são em formato de aprendizagem baseada em problematização, intitulada Aprendizagem Ativa, segundo a estratégia teambasedlearning (TBL), na qual, nos primeiros minutos da aula, os estudantes são agrupados para resolução de problemas e casos clínicos. Ao longo do semestre, estes grupos são mantidos com intuito de formarem equipes. A metodologia de problematização é seguida de aula expositiva dialogada, mantendo o caráter propositivo e complementando o conteúdo abordado. Os materiais produzidos, semanalmente, são anexados à plataforma Moodle pelos estudantes. O AVA também é utilizado para disponibilização de materiais, artigos, vídeos e aplicação de questionários. Já quanto ao módulo II, as aulas presenciais configuram-se em duas etapas. A primeira, na qual é solicitado ao alunado que visualize cerca de duas a três vídeo-aulas de duração de dez a quinze minutos e acesse aos textos complementares na plataforma Moodle. Logo após, são aplicados questionários online individuais a respeito da temática abordada. Após a realização das atividades prévias, os estudantes assistem a uma aula expositiva dialogada, compondo a segunda etapa. Com a finalidade de elaborar materiais e trocar experiências entre estudantes, a monitoria emerge como espaço privilegiado de colaboração entre os alunos e reconstrução contínua da iniciativa proposta na interação do alunado-docência. As atividades deste eixo foram desenvolvidas segundo as demandas e carências advindas dos próprios alunos, que cursam e cursaram os respectivos módulos. A princípio, foram realizadas a elaboração e a construção de materiais para estudo, ações para facilitação da aprendizagem através da prática aplicada e monitorias presenciais e à distância. Dentre os materiais confeccionados, destacam-se gravações dos movimentos humanos com descrição da ativação muscular, provas de função muscular e avaliações de goniometria, além de roteiros de estudo dirigidos, questionários, sessões tutoriais via Moodle e orientações para ensino baseado em problemas. No que diz respeito ao estudo-livre, foram disponibilizados horários semanais para a discussão dos problemas e a elucidação de dúvidas, assim como a realização de simulados práticos. IMPACTOS: Ainda em fase de análise, a iniciativa tem despertado interesse dos estudantes seja ao desafiar por meio de problemas ou através de aulas mais propositivas seja pelo uso do ambiente virtual. Há também a aproximação da prática docente, além do estímulo ao trabalho coletivo no cenário das aulas e da monitoria, tal qual a investigação e interpretação das principais demandas observadas no decorrer do processo, de modo a possibilitar o aperfeiçoamento das atividades previstas nos módulos. Cabe ressaltar que é preciso problematizar continuamente o uso do AVA para evitar incorrer numa transposição da realidade tradicional vivenciada em sala de aula para mídia, mantendo relações verticalizadas e restringindo a plataforma a uma mera “biblioteca”. Além disso, observaram-se outros achados que oferecem mais qualidade no entendimento de como o alunado desfruta do AVA do que o número de acessos, sendo importante também salientar a adequação da carga horária presencial e virtual para docência e alunado. Como desafios, destacam-se a carência na formação dos docentes atuantes; a instrumentalização pobre e inapropriada para uso de AVA; a inadequação do tempo destinado às atividades em relação às ferramentas virtuais disponíveis; a relevância da efetivação da tríade base de dados, interatividade e avaliação; e a gestão das competências, habilidades e atitudes no que se refere ao processo avaliativo e sua articulação com a proposta. A maior limitação reflete-se na falta de planejamento e contextualização da colaboração do AVA na matriz curricular, que permanece ainda sufocando os estudantes com excesso de aulas tradicionais, carga horária extensa e demanda exagerada de produtivismo acadêmico. Tal experiência pautada nestes três eixos resultou também na escrita de um projeto de mestrado, ainda em andamento, caracterizado enquanto um estudo prospectivo de natureza mista, isto é, quantitativa e qualitativa, com objetivo de verificar se há correlação entre o uso do Moodle, como ferramenta complementar ao ensino presencial de Cinesiologia, e o rendimento acadêmico dos estudantes ao final dos módulos, assim como identificar as percepções do alunado acerca da experiência desenvolvida através da observação em sala de aula, escrita de diários de campo, aplicação de questionários e coleta de dados provenientes da plataforma Moodle. Os dados analisados quantitativamente serão expressos, descritivamente, em média, desvio padrão e mediana e as correlações serão obtidas com coeficiente de Pearson e regressão linear múltipla. Os achados qualitativos, por sua vez, serão abordados segundo a análise do discurso. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O projeto tem dado continuidade às atividades com a construção ininterrupta de uma base de dados para estudo no ambiente Moodle por docentes e alunos, assim como no desenvolvimento da pesquisa sobre a associação de metodologias ativas e o uso do AVA como facilitadores do processo ensino-aprendizagem. O cenário composto na experiência tem mostrado potencial para formar profissionais para um campo abrangente, complexo e interdisciplinar como o da saúde, sendo ainda preciso explorar as dimensões ética, estética e política desta iniciativa, a transformação das relações estabelecidas, os recursos fornecidos pela plataforma, a aplicabilidade na interface saúde, corpo e educação e as possibilidades de planejamento colaborativo.

Palavras-chave


ensino híbrido; ambiente virtual de aprendizagem; metodologia ativa