Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
SOLIDÃO EM IDOSOS E O (RE)ESTABELECIMENTO DE REDE SOCIAL: A VIVÊNCIA JUNTO À COMUNIDADE DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DO NOVO COLORADO, CUIABÁ/MT
THAISSA BLANCO BEZERRA, AUDREY MOURA MOTA GERONIMO, GLAUCIA SIDNEIA MEDINA BELJAK, ANA CLAUDIA PROPODOSKI DE SOUZA, LUCAS LUIS MOREIRA FRANCA, MAGALI OLIVI

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Enquanto ser caracteristicamente social, o homem necessita de redes sociais significativas em todas as fases da sua vida, tanto para a sua sobrevivência, como protetoras da saúde, facilitadoras da autonomia e de uma autoavaliação positiva e satisfação com a vida. Com o envelhecimento tais redes apresentam uma importância ainda mais significativa, já que o indivíduo passa para uma das fases de maior vulnerabilidade, sendo inquestionável que é na família que os idosos deveriam encontrar a satisfação das suas necessidades. Quando se fala em envelhecimento, refere-se a um processo ou conjunto de processos que ocorrem em organismos vivos e com o passar do tempo levam a uma perda da adaptabilidade ou a deficiência funcional. Assim, um grande desafio para todos os envolvidos com os idosos é a necessidade de desenvolver um olhar mais humanizado de modo que estes sejam valorizados em sua integralidade e individualidade, sem esquecer que além de seres humanos, podem sim ser produtivos e contribuir tanto na melhoria, quanto na manutenção de sua própria saúde. Nesse cenário de valorização do idoso, aparece como entrave que proporcione satisfação e alcance de um envelhecimento bem sucedido a necessidade de reconhecer que tanto o bem estar físico, quanto o emocional precisam estar em sincronia. No que se refere ao emocional, a solidão decorrente do isolamento social crescente ao qual o idoso se vê submetido acaba por comprometer a plenitude de seu processo de envelhecimento. Eis um relato de experiência resultante da ação de intervenção desenvolvida através da observação da realidade na unidade de Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Novo Colorado, na cidade de Cuiabá, por acadêmicos do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), integrando a metodologia ativa como forma de ensino-aprendizagem na disciplina Fundamentos de Educação em Saúde, compondo o rol de disciplinas do 5° semestre do curso. Formou-se um grupo de trabalho para construção e execução do projeto de intervenção com docentes e discentes. Ficou claro o princípio pedagógico da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e o cenário das ações foi composto pela unidade de ESF. Após observação da realidade e identificação de uma situação problema, determinou-se o isolamento social do idoso como foco da ação. As redes sociais dos idosos sofrem significativo impacto ao longo dos anos. Com a aposentadoria e as mudanças decorrentes de falecimentos e mudanças inerentes à idade, fica explícita a necessidade de buscar meios de fortalecer as redes sociais que se mantiveram com o passar do tempo e ampliá-las a partir da formação de novas redes sociais. A metodologia utilizada foi baseada no Método do Arco de Charles Maguerez, que consiste em uma das estratégias de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento da problematização. Alicerçada na participação ativa dos sujeitos, a Metodologia da Problematização considera o contexto de vida, a história e as experiências dos sujeitos envolvidos, considerando o ritmo de aprendizado individual de cada um. Como estratégia para intervenção, foram propostas ações de Educação em Saúde e criação de um grupo de convivência de idosas para trocar experiências, aprender sobre artesanato, culinária, de forma a ampliar essa interação e sociabilização entre elas. O foco central das atividades foi oferecer uma alternativa que promova a (re) integração do idoso no grupo social ao qual faz parte, bem como oportunizar um espaço para orientações de educação em saúde e que favorecesse a melhoria de sua qualidade de vida. Com o envelhecimento da população, tornou-se urgente uma mudança na compreensão das necessidades particulares exigidas por esse grupo de indivíduos. Voltar o olhar para a melhoria da qualidade de vida, sem deixar de valorizar e reconhecer o processo de marginalização e exclusão social ao qual estão submetidos passa a ser prioridade quando se fala em saúde. A pessoa idosa, quando incapaz de produzir tanto quanto antes, passa a representar uma carga, cujo transporte não é de interesse de muitos. Ademais, a população mundial de idosos está crescendo continuamente e a solidão interfere na qualidade de vida dessas pessoas, que se privam do convívio. A doença no idoso tem significados especiais, trazendo consigo o medo da dependência física, a desesperança em obter melhoras, a impotência diante da situação e a percepção do inexorável destino que se aproxima: a morte. Assim, ressalta-se a importância exercida pela rede social, que promove base emotiva e desenvolve relacionamento interpessoal. Fatores culturais e contatos sociais podem interferir em hábitos de saúde através da rede de apoio social, considerando que as interações sociais influenciam no comportamento e cotidiano dos indivíduos. Portanto, práticas de socialização e criação de vínculos devem ser estimulados, acarretando a formação de redes de apoio social mediante ações simples, tais como projetos de culinária, dança e artesanato, contribuindo para a manutenção de hábitos de saúde, bem como a prevenção da depressão. Para alcançar os objetivos propostos nessa ação de intervenção, foi realizada a criação do grupo de idosas, estando presentes 35 mulheres da comunidade, explicitando os objetivos da ação e evidenciando que o grupo deveria ser não apenas uma conquista da comunidade, mas acima de tudo um espaço coletivo de suporte mútuo. A atividade foi iniciada com uma técnica de quebra-gelo, visando promover a integração das presentes, sendo repassadas informações sobre os objetivos da criação do grupo e de educação em saúde sobre hábitos alimentares saudáveis. Realizou-se oficina de sucos naturais e orientações de artesanato para organizar as atividades futuras, encerrando o dia com uma avaliação das ações desenvolvidas. São muitas as possibilidades a serem exploradas no que se refere à proposta central que nos conduziu à criação do grupo, que era estabelecer um espaço de renovação e estabelecimento de vínculos, fortalecendo as redes sociais das envolvidas, além da possibilidade de geração de renda e tantas outras que venham a surgir. Percebe-se que a experiência foi imensamente valiosa, possibilitando o viés entre o conhecimento teórico acumulado na academia e a realidade prática advinda do desenvolvimento do trabalho, somado à bagagem individual de cada um dos participantes da equipe. Desenvolver a capacidade técnica para identificar as diferentes demandas advindas da população assistida, permite uma assistência que preze por atender essas necessidades e dar retorno aos indivíduos atendidos partindo de um atendimento humanizado e comprometido com o vínculo estabelecido. Vale ressaltar que todas as nossas expectativas foram superadas, fato que impulsiona e valoriza o uso de metodologias ativas nos diversos campos práticos, garantindo uma formação crítica e comprometida com o futuro exercício profissional. O mais importante é que as ações realizadas não alcançaram apenas idosos, conseguindo envolver também adultos e jovens da comunidade, ressaltando a necessidade de se oferecer opções de ocupação para os moradores indistintamente, fato que merece um olhar mais cuidadoso em futuras ações. Por fim, fortaleceu o entendimento acerca da importância da educação em saúde para a Enfermagem, contribuindo positiva e decisivamente na busca da autonomia dos cidadãos da comunidade assistida pela unidade de saúde, fato que fortalece sobremaneira o controle social, revelando o imprescindível papel das unidades de ESF nas incontáveis comunidades no território nacional.

Palavras-chave


Solidão em idosos; Redes sociais; Estratégia de Saúde da Família.

Referências


ARAUJO, M. de; CICONELLI, R. M.; PEDROSO, M. C. Redes sociais: uma proposta para o estudo do comportamento alimentar no planejamento e execução de programas educativos. Arquivos Catarinenses de Medicina, 2010, v. 39, n. 04, p. 87-94.

BORILLE, D. C.; BRUSAMARELLO, T.; PAES, M. R.; MAZZA, V. A.; LACERDA, M. R.; MAFTUM, M. A. A aplicação do método do arco da problematização na coleta de dados em pesquisa de enfermagem: relato de experiência. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, 2012, v. 21, n. 1, p. 209-16.

FERNANDES, P. M. O idoso e a assistência familiar: uma abordagem da família cuidadora economicamente dependente do idoso. 2014. Disponível em: <http://www.castelobranco.br/ sistema/novoenfoque/files/07/14.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2014. 13 p.

FREITAS, P. da C. B. de. Solidão em Idosos: percepção em função da rede social. Universidade Católica Portuguesa; Centro Regional de Braga; Faculdade de Ciências Sociais. II Ciclo em Gerontologia Social Aplicada. Braga, 2011.

LOPES, R. F.; LOPES, M. T. F.; CAMARA, V. D. Entendendo a solidão do idoso. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 2009; v. 6; n. 3; p. 373-81.

MOTA, F. R. do N.; OLIVEIRA, E. T.; MARQUES, M. B.; BESSA, M. E. P.; LEITE, B. M. B.; SILVA, M. J. da. Família e redes sociais de apoio para o atendimento das demandas de saúde do idoso. Escola Anna Nery, 2010, v. 14, n. 04, p. 833-8.

PÁUL, C., FONSECA, A. M. Envelhecer em Portugal. Lisboa: Climepsi Editores, 2005.

PEDROZO, S. K.; PORTELLA, M. R.. Solidão na velhice: algumas reflexões a partir da compreensão de um grupo de idosos. Boletim da Saúde, 2003, v. 17, n. 2.

PRADO, M. L.; VELHO, M. B.; ESPÍNDOLA, D. S.; SOBRINHO, S. H.; BACKES, V. M. S. Refletindo sobre as estratégias de metodologia ativa. Revista da Escola Anna Nery, 2012, v. 16; n. 1; p. 172-7.

SPIRDUSO, W. W. Dimensões físicas do envelhecimento. São Paulo: Manole, 2005.