Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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“Girei minha vida e existência”: redes que fortalecem a vida e o SUS
Beatriz Cabral de Vasconcellos Vinhas

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


Relato de experiência sobre uma graduanda em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo, que participou do 11 º Congresso da Rede Unida como bolsista do PET Construção de Rede de Cuidado em Saúde da Mulher e da Criança, com o objetivo de evidenciar a potência dos encontros que emergem do espaço desse Congresso.   Atuei como Bolsista do PET Construção de Rede de Cuidado em Saúde da Mulher e da Criança, na Universidade Federal de São Paulo- Campus Baixada Santista, de seu início no segundo semestre de 2012 até o encerramento em Dezembro de 2014. Nesse período tive a oportunidade de conhecer e vivenciar o serviço no Sistema Único de Saúde em Santos, a partir de uma posição muito rica e pouco conhecida, com o olhar de uma “petiana”. Acompanhei as atividades relacionadas à Rede Cegonha, como Grupo de Gestantes,estudo de prontuários de pré-natal, orientação alimentar de gestantes, Visitas Domiciliares com Agentes Comunitários de Saúde, fluxo de encaminhamento de gestantes de risco, com a diferença de poder refletir sobre essas vivências na academia junto aos gestores do serviço em que estávamos inseridas e docentes da Universidade que pesquisam dentro da área. Nesse olhar único de “petiana”, me descobri encantada pela Rede de Cuidado do Sistema Único de Saúde em sua teoria e revoltada com a consolidação que observava na prática. Com isso, descobri no SUS meu foco de atuação mas não pela temática específica do meu PET. No primeiro semestre de 2014 seria realizado o 11º Congresso da Rede Unida - “Girar Vida , Políticas e Existências: a delicadeza da Educação e do Trabalho no cotidiano do SUS” e, como havia uma verba do Programa PET – Pró – Saúde para atividades complementares, foi decidido custear a viagem de alguns estudantes representando suas respectivas frentes de atuação, no caso, Saúde da Mulher e Criança e Saúde Mental. Assim, recebi a notícia de que iria para Fortaleza com minha colega, Fernanda, graduanda em fisioterapia, e então a experiência de tecer Redes iniciou, na consolidação de nós feitos com a força do afeto e na abertura para o encontro. A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (BONDÍA, 2001). Apesar do tempo que trabalhamos juntas no PET, nos (re)conhecemos e aproximamos mais durante a viagem. Fiquei alojada por dois dias no Centro de Formação e Capacitação Frei Humberto do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), onde estavam muitos outros estudantes de vários lugares, inclusive membros do MST que tive o prazer de conhecer, principalmente, pelo quarto que fiquei. Lá conheci Maria, mulher de muita força que apresentaria um trabalho no último dia. Por surpresa assisti sua apresentação, um projeto incrível envolvendo Universidade e Movimentos Sociais para promover ações de Saúde e Educação Ambiental no Sertão do Ceará, guardo como recordação o livro que ganhei. Nos dois últimos dias fiquei num Hostel, que também recebeu outros congressistas, lá conheci uma nutricionista e um enfermeiro de estados diferentes, que tenho vínculo até hoje por meio de redes sociais, pessoas que realizam trabalhos incríveis, que tenho muito prazer em acompanhar e trocar experiências do SUS que da certo. Durante os quatro dias de imersão naquele gigantesco evento com tantas atividades acontecendo ao mesmo tempo, me senti peculiarmente atraída por um determinado espaço, a tenda do VER-SUS (Vivências e Estágios da Realidade do Sistema Único de Saúde), projeto viabilizado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Rede Unida. Um projeto realizado por estudantes construindo vivências do SUS para os outros estudantes, com objetivo de conhecer a rede de cuidado e produzir reflexões sobre saúde e suas interfaces. Ouvi histórias de “versusianos” do nordeste até o Sul e descobri que logo voltaria para São Paulo ganhar minha mochila. Voltei para Unifesp com laços (re)conhecidos e fortalecidos, novos nós espalhados pelo país e um sonho: participar do VER-SUS. O Congresso foi em Abril, em Maio me aproximei da Comissão VER-SUS São Paulo, Junho realizava minha inscrição e em Julho fiz as malas para conhecer o município de São Bernardo do Campo e os serviços de saúde da cidade. Foi uma semana muito especial e de muito aprendizado, voltei para casa com uma certeza, iria ajudar na organização do próximo. E então fortalecemos a Comissão VER-SUS São Paulo, viabilizando a edição de Verão em Santos, Mauá, Guarulhos e São Paulo (Brazilândia). Toda essa vivência me permitiu enxergar para além das críticas, da menina que caiu de paraquedas com seis meses de graduação dentro de um Programa de Saúde de Família, para ver um mundo de possibilidades. Segundo Bondía (2001), a experiência não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver” nem “pré-dizer”. Reconheço a dialética dessa rede que permanece em movimento e, por isso, fica mais rica à medida que potencializa suas trocas, pois pude sair da zona de conforto do meu limite espaço-problema na oportunidade de conhecer outros contextos, com iguais ou diferentes problemáticas, que demonstraram que uma ação realizada no Norte pode funcionar no Sudeste, e que algo que foi potente para um lugar não funcionou em outro. A Rede Unida foi um disparador em minha produção de redes e meu divisor de águas, ao possibilitar encontros com pessoas que acreditam e constroem o SUS que dá certo, oxigenando minha formação. “Girei minha vida e existência” para um caminho de muita luta.

Palavras-chave


Rede Unida; Relato de Experiência; Formação.

Referências


Referências

BONDIA, JL. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Palestra proferida no 13º COLE-Congresso de Leitura do Brasil, realizado na Unicamp, Campinas/SP, no período de 17 a 20 de julho de 2001