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QUANDO A RECUSA DO MEDICAMENTO CONVOCA OUTROS MODOS DE CUIDADO: UMA EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO DE REDES VIVAS DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Este trabalho apresenta a construção de uma proposta compartilhada de cuidado em saúde mental, fruto da pesquisa Observatório Nacional da Produção do Cuidado à luz das redes temáticas do SUS: avalia quem pede, quem faz e quem usa, desenvolvida com profissionais da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de João Pessoa-PB. Esta construção se processou entre os meses de fevereiro e agosto de 2015, período no qual duas pesquisadoras da Universidade Federal da Paraíba acompanharam, durante quatro horas por semana, as atividades de uma equipe de CAPS III deste município. Todas as vivências foram registradas em diários de campo e posteriormente analisadas à luz do referencial da micropolítica em saúde (CAMPOS; MERHY, 1997). Por se tratar de uma pesquisa compartilhada, alguns profissionais do serviço tornaram-se também pesquisadores, na medida em que também processaram/analisaram os resultados da pesquisa (GOMES; MERHY, 2004), tornando-se coautores deste trabalho. A construção compartilhada de cuidado foi experienciada a partir da demanda recebida pelo CAPS para cuidar de uma família com sofrimento psíquico. O primeiro movimento da equipe foi realizar visita domiciliar, identificar quatro membros da família com demanda em saúde mental e administrar medicação de depósito. Contudo, destas quatro pessoas, uma foi a óbito devido complicações clínicas anteriores à ida do CAPS, outra aceitou o medicamento e outros dois apesar de tomarem a medicação num primeiro momento sob insistência da equipe, recusam este tipo de cuidado. Nenhum dos sujeitos apresentou disponibilidade para frequentar o CAPS. Tal situação convocou a equipe, em especial um técnico, a pensar outras ofertas de cuidado. Neste movimento, foram realizadas reuniões sistemáticas entre este profissional, acompanhado pelas pesquisadoras, com dois agentes comunitários de saúde e uma enfermeira da equipe de saúde da família da área. Na necessidade de novas ofertas de cuidado, foram produzidas novas visibilidades sobre esta família, a partir de visitas (quase semanais), que permitiram o efetivo encontro entre profissionais e família. Como resultado, foi produzido um genograma, com conhecimento da estória daquelas pessoas, suas potências de vida e demandas de cuidado (PEREIRA, et al., 2009). A partir de então, tem sido possível construir no encontro entre os membros desta família, os profissionais envolvidos no cuidado, além de profissionais do consultório na rua e do CAPS ad (pois um dos familiares é usuário de álcool) uma proposta terapêutica compartilhada e no território. Assim, no encontro efetivo entre diferentes sujeitos implicados, tem sido possível apostar na construção de redes vivas de cuidado centradas na família e que não se restringem às atividades desenvolvidas dentro do serviço.
Palavras-chave
cuidado, saúde mental, território.
Referências
CAMPOS, R.O., MERHY, E.E. O agir em saúde um desafio para o público. Ed. Hucitec, São Paulo,1997.
GOMES, M.P.C; MERHY, E.E. Pesquisadores in-mundo um estudo da produção do acesso e barreira em saúde mental. Coleção micropolítica do trabalho e cuidado em saúde. Editora Rede Unida, Porto Alegre, 2014.
PEREIRA, A.P.S., TEIXEIRA, G.M., BRESSAN, C.A.B., O genograma e o ecomapa no cuidado de enfermagem em saúde da família. Revista Brasileira de Enfermagem, v.62, núm.3, pp.407-416, Brasília, 2009