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Trabalho de Campo Supervisionado II: uma experiência curricular de inserção na APS
Última alteração: 2015-10-22
Resumo
O componente Trabalho de Campo Supervisionado II é desenvolvido na segunda fase do curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense e, a partir da diversificação de cenários de ensino-aprendizagem, propõe o desenvolvimento de competências em três grandes eixos: território, processo de trabalho e cuidado integral à saúde, sobretudo no campo das unidades de APS. O objetivo do trabalho é analisar o papel de TCSII na formação dos alunos do curso de Medicina no que se refere às possíveis contribuições e alcance da disciplina para a formação de profissionais mais sensíveis às demandas do SUS, capazes de reconhecer os múltiplos determinantes do processo saúde/doença e a importância do trabalho em equipe. É apresentado relato de experiência de um grupo estudantes de medicina, no contexto da disciplina de TCS II, em uma unidade do Programa Médico de Família de Niterói, durante o ano de 2014, respectivamente, 3º e 4º períodos do curso. Nos dois semestres, os alunos acompanharam a rotina do PMF, focados nos três eixos que caracterizam a disciplina. Da experiência do campo, acompanhada por meio de análise de conteúdo dos relatos escritos das vivências e reflexões cotidianas, emergiram categorias utilizadas para descrever e analisar as contribuições da inserção sistemática na APS, como um dispositivo de mudança na formação em saúde, particularmente na formação médica. Cinco foram as categorias que emergiram do campo e que servem como eixo condutor para apresentar as principais contribuições da APS como dispositivo de transformação da formação em saúde: Reconstrução do conceito de complexidade em saúde e de hierarquia da rede – desconstrução do imaginário que remete a APS a um nível de baixa complexidade e aproximação à realidade do processo de constituição das Redes de Atenção à Saúde de regionalização e os atravessamentos provocados pelos fluxos informais; Organização do processo de trabalho na APS e a longitudinalidade do cuidado – o conhecimento ampliado sobre o usuário possibilitado pelo vínculo permite realização de diagnóstico e tratamento mais assertivos assim como a organização do processo de trabalho da equipe amplia ou limita as possibilidades de atuação na APS; Inserção no território e o papel do Agente Comunitário de Saúde – reconhecimento da importância da visita domiciliar para o desenvolvimento da Vigilância em Saúde e o papel e importância do ACS; Quem é o médico da APS? - percepção das implicações da atuação da APS de profissionais sem residência em MFC; Outros espaços de aprendizagem: atuação em ações de promoção da saúde – evidenciou-se o espaço das práticas promocionais como dispositivo de transformação social e deslocamento de um olhar prescritivo para uma escuta empática, mobilizadora de afetos, dimensão relegada no processo de formação. A APS como cenário de aprendizagem é um espaço potencial para oferecer uma nova perspectiva de formação. Ainda assim, observamos que, de certo modo, o currículo do curso de Medicina reproduz o ideário de desvalorização da APS, circunscrevendo-a a um período no qual ainda não foram cursadas disciplinas clínicas, reforçando o imaginário de que a APS é lugar apenas de atividades preventivas e promocionais.
Palavras-chave
Educação em saúde, currículo, Atenção Primária à Saúde