Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RODA DE CONVERSA COM AGENTES COMUNITÁRIOS
Flávio Aparecido Zanaldi, Gabriela Markus, Conrado Neves Salther, Catia Paranhos Martins

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Este trabalho faz parte do projeto de extensão: Acompanhamento e apoio técnico ao Programa Nacional de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) que está sendo realizado pelos alunos do último ano do curso da psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no estágio Supervisionado em Psicologia Social e Comunitária. Tendo em vista a saúde do trabalhador da Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS) percebe-se um alto número de afastamentos no trabalho, além disso, observa-se a falta de espaços de comunicação entre os próprios trabalhadores, o que impede a construção de processos de enfrentamento das relações de poder e trabalho, inibindo o desenvolvimento e a autonomia desses profissionais que, por serem silenciados,acabam excluídos da gestão e têm desvalorizados seus potenciais na instituição. Um ambiente de trabalho que não contribua com as relações dos trabalhadores ou na mobilização e na participação impossibilita a criação de meios que assegurem a melhor qualidade de vida e gera consequentemente o adoecimento. Quando o trabalho se torna um processo de criação, o trabalhador é levado a produzir e reproduzir o seu desejo, de maneira que se sinta satisfeito pelo reconhecimento interno que sua tarefa lhe proporciona, logo ele não executa simplesmente um roteiro socialmente estabelecido. Ao levar em conta que o Agente Comunitário de Saúde (ACS) é um ator importante na implementação do SUS e no fortalecimento dos serviços por meio de uma maior integração entre a Atenção Básica e a comunidade, ao ouvir esse profissional a gestão abre espaço para a expressão de suas angústias, de seu sofrimento e, dessa forma, possibilita ao trabalhador tornar-se um fator de transformação social. “De acordo com Morosini (2003) Programa de Saúde da Família (PSF) desempenha um papel fundamental no cenário das políticas de saúde no Brasil, sendo considerado o principal eixo reformulador da atenção à saúde. Entre os elementos da saúde da família, destaca-se o trabalho do ACS, que tem como missão ser o elo entre a comunidade e o SUS. O ACS alem de um trabalhador da saúde, é um membro da comunidade e, também, um usuário do sistema de saúde, o que torna ainda mais complexa a situação desse profissional. Ele enfrenta o dia a dia da comunidade na qual trabalha e, na maioria das vezes, não tem espaço para poder expressar seu sofrimento e sua angústia, o que leva a perda do seu potencial de crescimento profissional e pessoal. “De acordo com Marquis e Huston (2005), algumas das fontes mais comuns de conflito organizacional situam-se em problemas de comunicação, na estrutura organizacional e no comportamento individual nas organizações (apud ALMEIRA 2007).” O objetivo do trabalho é contribuir  com as Ciências da Saúde por meio da compreensão do funcionamento de equipes da Estratégia da Saúde da Família, compreender a realidade dos ACS, ouvir seus relatos e dar a oportunidade de expressão do seu sofrimento e suas angústias, problematizar as questões que surgem nos discursos dos ACS sobre Saúde, levantar dados por meio de pesquisas bibliográficas, observação participante e com rodas de conversa e, por fim, avaliar os dados por meio da análise de discurso e contribuir em conjunto com os Agentes Comunitários nas maneiras de intervenção que busquem auxiliar nas resoluções dos problemas. Será adotada a metodologia da pesquisa qualitativa, utilizando a observação participante, conhecendo a história dos ACS e compreendendo os discursos que os cercam (MINAYO, 2012). Além disso, como forma de procedimentos de coleta de dados será utilizada a pesquisa bibliográfica, em sites como SCIELO, BVS, DEDALUS-USP, como também a biblioteca da UFGD. As rodas de conversa também serão utilizadas, em conjunto com a observação participante como forma de coleta de dados. De acordo com MOURA e LIMA (2014), a roda de conversa é uma forma de produzir dados em que o pesquisador se insere como sujeito da pesquisa, já que participa da conversa e ao mesmo tempo produz dados para discussão, sendo um instrumento que permite a partilha de experiências e o desenvolvimento de reflexão sobre as práticas educativas dos sujeitos, em um processo de interação. A análise de dados será por meio da Análise das regularidades, das rupturas ou das omissões discursivas. A análise do Discurso preocupa-se em compreender os sentidos que o sujeito manifesta através do seu discurso (CAREGNATO, 2006). Nos resultados percebe-se que os ACS possuem a necessidade de expressar suas angustias, suas frustrações, seus desejos, suas alegrias, ou seja, o ambiente de trabalho em que estão inseridos não possibilita um espaço de diálogo para estes trabalhadores. Nos relatos dos ACS observam-se várias histórias que representam o quanto este trabalho é desgastante e o quanto é difícil lidar com o usuário e os outros companheiros da Unidade Básica de Saúde, da mesma forma, relatam um sentimento de impotência quanto as condições de trabalho, já que muitas vezes são cobrados pelos usuários quanto a exames, remédios, consultas e não podem fazer nada. Os ACS observam na comunidade: miséria, violência, abandono, exclusão e adoecimento sem suporte institucional.  Além disso, relatam que percebem uma diferença entre eles mesmos e os demais profissionais da UBS, que na maioria das vezes apenas enxerga o conceito de saúde como uma relação saúde-doença em um plano biológico e não de uma forma mais ampla, considerando o ambiente, o acesso, as alegrias e as tristezas da população. Portanto, ao abrir um espaço de diálogo, em que a angústia e o sofrimento possam ser pensados em conjunto, de forma reflexiva e critica, o ACS tem a oportunidade de rever seu trabalho e buscar soluções, como também problematizar, construir e desconstruir seu cotidiano profissional, qualificando sua atuação e contribuindo para a melhora institucional como um todo.  Este projeto de estágio e extensão propiciou a obtenção da experiência de campo, podendo ouvir os discursos e construir em conjunto as alternativas de expansão das possibilidades de construção de enfrentamento das dificuldades. Este projetoé, também, em sua concepção global, uma oportunidade muito gratificante e importante na formação profissional para o futuro quando se pretende atuar no SUS e chegar minimamente preparados para intervir em campo e contribuir com a psicologia na construção da Saúde Comunitária.

Palavras-chave


Saúde do trabalhador; Extratégia da Saúde da Familia; SUS

Referências


CAREGNATO, Rita Catalina Aquino; MUTTI, Regina. Pesquisa Qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo.Texto contexto - enferm., Florianópolis , v. 15, n. 4, p. 679-684, Dec. 2006. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072006000400017&lng=en&nrm=iso

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https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/90578/243657.pdf?sequence=1> acesso 1/7/2015