Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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INTERVENÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM PARA PACIENTES EM INÍCIO DE TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ângelo Rodolfo Santiago, Ednéia Albino Nunes Cerchiari, Rogério Dias Renovato

Última alteração: 2015-11-03

Resumo


APRESENTAÇÃO: O câncer é considerado a segunda causa de mortalidade em nosso país, superada apenas pelas doenças cardiovasculares, estando entre as principais causas de morbidade e mortalidade ao redor do mundo, com variações em sua incidência. Evidências apontam que nos países em desenvolvimento o câncer também venha se tornar uma emergência epidemiológica, considerando que mais da metade dos 10 milhões de novos casos anuais estão nos países menos desenvolvidos (WHO, 2012). Ao longo do tratamento, as reações adversas são definidas como sendo qualquer evento nocivo e não intencional que ocorreu na vigência do uso de medicamento, resultantes da quimioterapia e são bastante temidas pelos doentes, familiares e até mesmo por profissionais da saúde, em decorrência do desafio em prevenir ou atenuar seus desconfortos. As reações adversas mais comuns são: náuseas, vômitos, mucosite, alopécia, mielotoxicidade, leucopenia, trombocitopenia, estomatite, esofagite, diarréias severas, úlceras gastrintestinais, sangramento, dor precordial, arritmias cardíacas, infarto do miocárdio, isquemia, insuficiência cardíaca, fraqueza muscular por neuropatia periférica e afasia. Podem ocorrer também eritema, descamação em mãos e pés, rash cutâneo, dermatite de contato, fibrose pulmonar e tromboflebite. Pontua-se, então, a necessidade dos profissionais realizarem assistência e intervenções educativas mais efetivas, com intuito de proporcionar maior segurança e compreensão sobre todo o tratamento, contribuindo para atenuar o medo e promover a recuperação. A literatura científica ressalta que o paciente bem orientado, esclarecido e assistido tem maiores chances de sucesso no tratamento e adere com maior facilidade à terapêutica proposta (BARBOSA; TELLES, 2008). Desta forma, o presente estudo tem como objetivo relatar a prática de intervenções educativas de enfermagem realizadas para pacientes que iniciarão o tratamento quimioterápico pela primeira vez, em um hospital de Dourados no Estado de Mato Grosso do Sul. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O Centro de Tratamento de Câncer de Dourados-MS (CTCD) apresenta 50 leitos, sendo referência de qualidade para prestação assistência à pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), particulares e alguns convênios. O CTCD realiza cerca de mais de 1000 procedimentos mensais entre consultas, exames, internações, quimioterapias e radioterapia. A unidade de aplicação de quimioterapia endovenosa atende por dia aproximadamente 30 pacientes ambulatoriais que serão submetidos à quimioterapia de curta ou longa duração. A média de pacientes novos para protocolo quimioterápico é de 30 a 40 novos casos mês. A equipe de enfermagem promove intervenções educativas relacionadas às rotinas de aplicação da medicação, possíveis reações adversas imediatas e tardias aos quimioterápicos empregados no seu tratamento. As ações educativas estendem-se também aos familiares e acompanhantes, e são realizadas no próprio local. Vale ressaltar que os pressupostos das intervenções estão fundamentadas no binômio educação-cuidado, considerando as singularidades de cada paciente. As principais temáticas das intervenções educativas referem-se à rotina do tratamento, horário e assiduidade, a importância de não faltar nos dias agendados, para não ocorrer atrasos no tratamento e diminuir sua eficácia, as principais reações adversas imediatas e tardias, alimentação saudável, ingestão hídrica e adoção de hábitos para uma melhor qualidade de vida. Essas intervenções geralmente são iniciadas antes da aplicação do quimioterápico, pois, muitos pacientes mostram-se ansiosos necessitando assim compreender melhor o tratamento, sua finalidade e perspectivas. Todos os pacientes antes do início do tratamento recebem orientações psicológicas, pois dispomos de uma psicóloga que realiza o acompanhamento para os pacientes e familiares que necessitam dessa especialidade. No momento das orientações é entregue uma cartilha aos pacientes com uma linguagem acessível aos mesmos. RESULTADOS: Com a realização das intervenções educativas um dos resultados mais evidentes é a diminuição das reações adversas tardias que podem levar ao adiamento do tratamento. Portanto, vivenciamos melhora na qualidade de vida dos pacientes, quando a educação em saúde se concretiza nesses espaços de cuidado. Sabe-se que a educação em saúde não é apenas a transferência de informações, mas sim o entendimento crítico e reflexivo por parte do sujeito. Por isso, deve-se observar e valorizar o conhecimento que o indivíduo já possui sobre o tema e promover a participação ativa do paciente na construção do próprio conhecimento e seu cuidado (BACKES et al., 2008). Conforme relata Bagnato e Renovato (2006), as práticas educativas em saúde podem ser encontros com pessoas de diferentes saberes, experiências, culturas, representações, lugares sociais, valores, necessidades, práticas sociais, o que corrobora a relevância de ações educativas em um espaço de cuidado oncológico, em que sentidos e significados que vão sendo construídos e desconstruídos num tempo e espaço históricos. Com a realização das intervenções educativas no início do tratamento quimioterápico, verificou-se que esse trabalho é fundamental para a conscientização dos pacientes oncológicos acerca do seu cuidado, para a construção de conhecimento, preparando-os para os cuidados domiciliares com mais confiança. O profissional da enfermagem atua como mediador, e assim estabelece as interlocuções com os pacientes/sujeitos/seres humanos. Espera-se, portanto, consolidar os espaços de intersubjetividade, numa perspectiva de reciprocidade dialógica (BAGNATO; RENOVATO, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS: As intervenções educativas de enfermagem para pacientes em início do tratamento quimioterápico mostrou-se relevantes, pois proporcionam redução da ansiedade, possível diminuição das reações adversas e também conhecimento das dificuldades e dúvidas enfrentadas por esses pacientes no decorrer da terapêutica. Conhecimentos que se estenderão a outros espaços, como seus domicílios. Por isso, o processo educativo a ser desenvolvido pela equipe de enfermagem durante o tratamento quimioterápico deve ser planejado e organizado, adotando estratégias que facilitem a compreensão das orientações prestadas para o paciente e seu familiar no que se refere ao cuidado domiciliar, tendo em vista que o melhor lugar para a eficácia do tratamento é na sua residência junto de seus familiares. É observado que os pacientes que compreendem as intervenções educativas de enfermagem realizadas no início do tratamento quimioterápico conseguem terminá-lo sem nenhuma interrupção, mesmo apresentando algumas reações adversas imediatas ou tardias. O comprometimento da equipe de enfermagem busca atentar para multidimensionalidade do ser humano que requer o tratamento quimioterápico. Assim, pretende-se com este relato de experiência, dar visibilidade e devida importância à educação em saúde para pacientes oncológicos e familiares que vivenciam muito sofrimento desde o diagnóstico da doença até o início e no decorrer de todo o tratamento tendo como ponto de reflexão a importância do cuidado e do manejo das reações adversas a essa modalidade de tratamento, tendo como base a família, o apoio desses pacientes.   

Palavras-chave


enfermagem oncológica; aprendizagem; efeitos colaterais e reações adversas a medicamentos.

Referências


 

Referências

BACKES, V. M. S. et al. Competência dos enfermeiros na atuação como educador em saúde. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 61, n. 6, p. 858-865, 2008. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/reben/v61n6/a11v61n6> . Acesso em: 12 de set. 2015.

BAGNATO M. H. S.; RENOVATO R. D. Práticas educativas em saúde: um território de saber, poder e produção de identidades. In: Rodrigues R. M.; Deitos R. A, organizadores. Estado, desenvolvimento, democracia e políticas sociais. Cascavel (PR): UNIOESTE/GPPS; 2006.

BARBOSA, L. G.; TELLES, P. C. P. Conhecimento de Pacientes Oncológicos Sobre a Quimioterapia. ciência, cuidado e saúde. v. 7, n. 3, p. 370-375, 2008.

World Health Organization, Systems of continuing education: priority to district health personnel. Technical Report Series 803, Who, Geneva, 2012.