Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PROTAGONIZANDO AS AÇÕES DE VISITA DOMICILIAR DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE: ELO ENTRE A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL, COMUNIDADE E DISCENTE DE ENFERMAGEM
AUDREY MOURA MOTA GERONIMO, GLAUCIA SIDNEIA MEDINA BELJAK, THAISSA BEZERRA BLANCO, KARINE FERREIRA DA SILVA, MARIA AUXILIADORA MACIEL DE MORAES

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


A saúde é reconhecida como direito de todos e dever do Estado a partir da Constituição de 1988, tornando-se um marco histórico na construção das políticas públicas. Mesmo estando prevista desde então no texto constitucional do Brasil, o desafio não se tornou menor. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), os princípios da integralidade, universalidade e equidade, incorporando novas tecnologias, saberes e práticas nas ações cotidianas, somadas a uma concepção de saúde para além do entendimento reducionista de ausência de doença, explicita-se a necessidade de se lutar por qualidade de vida. Faz-se necessário o comprometimento em promover, prevenir, cuidar, tratar, proteger e recuperar, ou seja, efetivar e manter a saúde sob o olhar da integralidade. Percebe-se que discutir saúde vai além, envolve a necessidade de se valorizar os trabalhadores de saúde, rompendo com a precarização das relações de trabalho, o baixo investimento em educação permanente, a baixa participação na gestão dos serviços e a fragilidade do vínculo com a população atendida, especialmente devido à dimensão subjetiva do trabalho em saúde. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi criada com o desafio de reorganizar a Atenção Básica (AB), trazendo em si a definição de território adstrito como base para a organização estrutural, visando reordenar o processo de trabalho mediante operações intersetoriais e ações de promoção, prevenção e atenção à saúde. Permite aos gestores, profissionais e usuários do SUS se compreenderem como protagonistas nesse processo, O território define em si a adstrição dos usuários, propiciando relações de vínculo, afetividade e confiança entre pessoas/famílias e grupos e profissionais/equipes; e estes se tornam referência da atenção, garantindo a continuidade e resolutividade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado. A AB representa a principal porta de entrada do sistema, iniciando com acolhimento, escuta e resposta resolutiva para a maioria dos problemas de saúde da comunidade, minorando danos/sofrimentos e se responsabilizando pela efetividade do cuidado em sua integralidade. Tal realidade somente é viável caso o trabalho seja realizado em equipe multiprofissional, permitindo que os saberes de todos se somassem e se concretizem na prática, com assunção da corresponsabilidade no processo de fazer saúde. Nessa perspectiva, o Agente Comunitário de Saúde (ACS) é o “elo” entre equipe e comunidade. Apresenta-se um relato de experiência que descreve a realização de encontros provocativos visando a valorização desses como protagonistas e corresponsáveis na ESF do Novo Colorado, Cuiabá/MT, a partir de metodologia de aprendizagem ativa, realizada pela disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto, que compõe a grade curricular do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Esta metodologia contribui no exercício do uso de instrumentos/ferramentas que são aplicadas no decorrer das atividades acadêmicas no campo da prática. Espera-se uma formação crítica do futuro profissional da enfermagem, favorecendo a sua autonomia, o despertar da curiosidade e estímulo à tomada de decisões individuais e coletivas. A metodologia utilizada no diálogo provocativo foi da problematização de Charles Maguerez, baseada na participação ativa dos sujeitos, considerando o contexto da história de vida e experiências no cenário do trabalho, procurando valorizar e considerar o ritmo de aprendizado individual e significativo de cada um. Conforme estipulado, os ACSs devem residir na área de atuação da equipe, vivenciando o cotidiano das famílias/indivíduo/comunidade, fato que explicita o pertencimento, qualificando-os a ter ciência das verdadeiras demandas da comunidade. Para o exercício de suas funções são capacitados para reunir informações sobre saúde e reordenamento da comunidade no território de abrangência, cabendo-lhes o cadastramento das pessoas do território e a devida atualização, além da orientação às famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis. O acompanhamento se dá por meio de visitas domiciliárias e ações educativas, buscando sempre a integração entre equipe de saúde e população adscrita atendida, além do desenvolvimento das atividades de promoção da saúde, prevenção das doenças/agravos e vigilância, mantendo como referência a média de uma visita/família/mês ou mais, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade. São responsáveis por cobrir toda a população cadastrada, com 750 pessoas por ACS no máximo e 12 agentes por equipe de ESF, produzindo dados capazes de dimensionar os principais problemas de saúde da comunidade, viabilizando o direcionamento de esforços e ações. Identificou-se como obstáculos enfrentados pelos ACSs a dificuldade de lidar com o tempo, excesso de trabalho, preservação do espaço familiar durante as visitas, trazendo questões de ética e moral, tempo de descanso, desqualificação do seu trabalho e desgaste físico. É uma atividade que requer formação, oferta de condições e adequado monitoramento, visando suprir as demandas que vão surgindo. Entretanto, o que se observa são relatos de descaso e insatisfação que, não sendo uma situação isolada, chamou a atenção dos discentes durante a realização de atividades no campo prático e suscitou a vontade de contribuir com os agentes que acolhem a todos durante essa fase de formação profissional. Ademais, os ACSs podem ser considerados a base da ESF, já que se não trabalharem em sintonia com o esperado, nada na unidade poderá ser encaminhado de forma satisfatória. Para tanto, dividiu-se a atividade em dois momentos. No primeiro foi realizada uma aproximação por meio de chuvas tempestivas de questões objetivando socializar o conhecimento acumulado de cada agente, buscando respostas para 04 (quatro) questões previamente estabelecidas: “o que você entende por saúde?”; “o que é ser ACS?”; “quais os direitos e deveres dos ACS?”, e, por fim, “quais os desafios e as dificuldades que encontram no exercício diário de suas atividades?”. Buscou-se promover a valorização do trabalho das ACSs. No segundo momento se aprofundou nos entraves e desafios para a realização de visita domiciliar, contextualizada às necessidades de saúde da família, identificando as dificuldades vivenciadas na prática individual das agentes. Nessa discussão foi atrelada a importância de promover o diálogo sobre participação popular e controle social nas visitas domiciliares, visando o fortalecimento do Conselho Gestor Local. Essas oficinas resultaram na criação de folder sobre Controle Social, para posterior divulgação pelas ACSs no território. Como resultado, identificou-se a necessidade de iniciar um processo de revisão da produtividade das visitas domiciliares exigidas pelo Ministério da Saúde desses profissionais (meta mensal); assim como buscar meios de valorização e adequada formação profissional junto aos gestores responsáveis, oferecendo condições mínimas que garantam tanto o pleno cumprimento de suas atividades, quanto a manutenção de sua própria saúde e bem-estar. Frente ao exposto, considera-se que a experiência foi imensamente valiosa, subsidiando a potencialidade tanto das ACSs, quanto das acadêmicas no exercício da prática de fazer saúde. Os agentes se perceberam parte de um contexto, identificando a importância de seu papel político, ligando a equipe multiprofissional, comunidade e discentes. A insuficiência de materiais/insumos básicos, infraestrutura e valorização profissional não é novidade no que se refere ao SUS. Todavia, a integração da formação acadêmica e as necessidades locais de reconstrução da saúde enquanto um processo ativo, coletivo e heterogêneo, permitiu nesse cenário que a atividade prática da disciplina proporcionasse uma vivência reflexiva e participativa. E a ferramenta que contempla para esse olhar crítico e autônomo das discentes nesse processo é a metodologia ativa, que conduz a um aprendizado significativo, fato que deve ser estimulado no ambiente acadêmico com vistas a suscitar descobertas de potencialidade dos futuros enfermeiros para a prática cotidiana em saúde.

Palavras-chave


Enfermagem; Estratégia de Saúde da Família; Agentes Comunitários de Saúde.

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