Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Formação em Psicologia no Brasil e a experiência dos Bacharelados Interdisciplinares na UFBA
Monica Lima, Denise Coutinho

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Nesta comunicação, toma-se partido da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu, particularmente as noções de habitus, espaço dos possíveis e illusio em diálogo com os conceitos de inter e transdisciplinaridade com o objetivo de refletir sobre a dupla filiação da psicologia, que advoga sua inserção como ciência da saúde e como humanidades. Enfrentar o desafio de formar profissionais para a atuação no campo da saúde, sem abdicar da formação necessária em ciências humanas e sociais, é tarefa à qual os agentes formadores do campo da psicologia não podem furtar-se. A Psicologia é uma profissão que possibilita grande diversidade de âmbitos de atuação, não se restringindo ao campo da saúde, apesar de cada vez mais aumentar a presença de tais profissionais no SUS. Historicamente qualificado como campo de dispersão de conhecimentos, a psicologia parece ser palco de efeitos complexos decorrentes do vínculo a uma área em detrimento da outra. Este trabalho teve como ponto de partida a experiência de implantação dos Bacharelados Interdisciplinares (BI) na Universidades Federal da Bahia. Neste caso, interessa-nos o percurso do estudante que conclui um dos quatro BIs (Humanidades, Ciência e Tecnologia, Saúde e Artes) e decide ingressar no curso profissional de Psicologia. Na transição, o estudante pode ou não ter realizado, durante o BI, a área de concentração denominada Estudos da subjetividade e do comportamento humano. Em estudo anterior, realizamos acompanhamento de egressos da primeira e segunda turmas do BI, tendo apontado êxito na formação interdisciplinar, significativa para superar a especialização precoce e, de modo contundente, favorecer uma escolha profissional mais madura em relação àqueles jovens que ingressaram diretamente para o curso de psicologia, sem formação universitária e cidadã prévia. O curso de psicologia pode ser acessado por estudantes dos quatro BIs. Até o momento, a maioria que fez a escolha de seguir para o curso de psicologia veio do BI de Humanidades. Tal vinculação pode ser explicada pelo fato da formação em psicologia estar vinculada, na UFBA, à área de Ciências Humanas, apesar de ser uma das 14 profissões da área de saúde no Brasil. A experiência de implantação dos BIs e o trânsito para o curso de Psicologia fazem emergir interrogações sobre vantagens e desvantagens de vincular-se de modo exclusivo a Saúde ou a Humanidades. Este processo também produziu vigorosa revisão de normas há muito tempo naturalizadas e reflexões sobre a concepção tradicional da formação universitária no Brasil. Experiências de mobilidade, flexibilidade e interdisciplinaridade possibilitadas pelo BI parecem levar inevitavelmente à construção de autonomia por parte do estudante. Por outro lado, a formação linear, de cunho profissionalizante e disciplinar favorece passividade, acomodação e compreensão fragmentada da realidade. Por exemplo, o curso de psicologia, na UFBA, entendida como curso em Humanidades, não aceitava estudantes egresso do BI de Saúde. Após tensionamentos provocados pelo encontro entre sujeitos e dispositivos produzidos por modelos tão antagônicos, parte da normatização institucional teve que ser atualizada. Consideramos imprescindível problematizar a suposta necessidade de estabelecer, previamente e de modo burocratizado, o vínculo de um curso de graduação a uma área exclusivamente.

Palavras-chave


Formação em Psicologia; Bacharelados Interdisciplinares; Universidade

Referências


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