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AS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS NA ATENÇÃO PRÉ-NATAL: AS AÇÕES DOS ENFERMEIROS NA ZONA LESTE DO MUNICIPIO DE PORTO VELHO – RO
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Estudos apontam que a presença de enfermeiros qualificados para o atendimento à mulher no ciclo gravídico puerperal é um indicador de qualidade da assistência e de redução da morbimortalidade materna e neonatal. Nesta perspectiva, o enfermeiro deve ter habilidades necessárias, além de contar com apoio de um contexto facilitador em vários níveis do sistema de saúde. Isto inclui um marco de políticas e normas, medicamentos e materiais, equipamentos e infraestrutura adequados além de um eficiente e efetivo sistema de comunicação, referência e transporte. Por isso, o interesse em verificar se os enfermeiros que participaram deste estudo desenvolvem as competências essenciais estabelecidas pelo documento oficial da Confederação Internacional das Parteiras-ICM, visto que, nestas unidades o pré-natal é de responsabilidade dos enfermeiros. Este estudo teve como objetivo principal investigar a assistência à mulher durante o pré-natal na Zona Leste de Porto Velho-RO por meio das ações realizadas pelos enfermeiros, tendo por base as competências essenciais para o cuidado pré-natal. O delineamento do presente estudo foi descritivo, de abordagem quantitativa. Foi desenvolvido nas Unidades de Saúde da Família da Zona Leste do município de Porto Velho-RO. Estas unidades de saúde também são utilizadas como campo de ensino prático e estágio para alunos do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Fizeram parte deste estudo 19 enfermeiros que atendem as mulheres durante a gestação, no pré-natal, nas unidades de saúde da Zona Leste do município que se disponibilizaram a participar do estudo. Os critérios de exclusão foram: os enfermeiros que estavam de férias, licenças e que não aceitaram participar do estudo. Os procedimentos para a coleta dos dados aconteceram de duas formas: observação sistemática e não participante da atenção pré-natal oferecida pelos enfermeiros e demais membros de enfermagem e entrevista semiestruturada apenas com os enfermeiros que assistiram as gestantes na consulta de pré-natal. Os dados coletados foram digitados e analisados usando o Software StatisticalPackage for Social Sciences 20.0 (SPSS). As variáveis constantes dos questionários foram categorizadas e posteriormente organizadas em um banco de dados. Após, os resultados foram organizados através de estatística descritiva por meio de índices absolutos e percentuais, e apresentados em tabelas dispostas em planilhas do aplicativo Excel. Este trabalho só foi desenvolvido após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia, de acordo com as normas da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados: a jornada de trabalho dos profissionais que atuam nessas unidades é de 30 horas semanais. As equipes trabalham em apenas um turno. Cada equipe de saúde da família faz horário corrido de 07h às 13h ou de 13h às 19h. As consultas de enfermagem, no pré-natal, são programadas por dia da semana e horários reservados. Os agendamentos destas consultas são feitos pelos agentes comunitários de saúde, porém as equipes deixam vagas diárias para demanda espontânea. Algumas equipes fazem o agendamento das consultas subsequentes durante as atividades de grupo. As unidades visitadas realizam a coleta e a análise de material para exames laboratoriais simplificados (hemograma, EAS, parasitológico de fezes e glicemia). Exames como sorologias, urocultura, Preventivo do Câncer de Colo Uterino, o material é encaminhado e analisado no Laboratório Central – LACEN. Os resultados desses exames estão sendo entregues em até dez dias. A população deste estudo, que contou com 19 enfermeiros, é predominantemente do sexo feminino, casados ou em união estável, com a média de idade entre 30 e 39 anos; com mais de dez anos de formação 63,2%. Entre os profissionais que têm pós-graduação, 68,4% cursaram Saúde Pública/Saúde da Família. A maior parte deles trabalha a mais de dois anos na estratégia saúde da família, no atendimento pré-natal. Os dados evidenciam que 10 (52,6%) enfermeiros participaram de cursos de atualização na assistência pré-natal, sendo que alguns destes participaram em mais de um curso. De acordo com as informações obtidas durante o estudo, o desenvolvimento de habilidades para a consulta de enfermagem no pré-natal ocorreu durante os estágios na graduação e no cotidiano da vida profissional. 17 (89,5%) dos enfermeiros que participaram do estudo têm dois vínculos trabalhistas. As dificuldades relatadas foram: condições de trabalho inadequadas, falta de cursos de atualização, materiais e medicamentos. Foram feitas 50 observações de consultas de pré-natal. Em relação ao tempo de espera, variou de uma a cinco horas, como as consultas são por ordem de chegada, o tempo de espera depende da hora em que estas mulheres chegam à unidade. Das 50 consultas observadas, 12 (32%) das gestantes estavam acompanhadas, sendo quatro acompanhadas pelos maridos, três com filhos, duas com irmãs, duas com a mãe e uma acompanhada de uma prima. Estas gestantes estavam no primeiro, segundo ou no terceiro trimestre de gestação. As atividades realizadas com maior frequência foram à verificação do peso e da pressão arterial, data da última menstruação, idade gestacional, pesquisa de edema, ausculta do BCF, medida da altura uterina e anotação no prontuário e cartão da gestante. As ações e procedimentos que apresentaram menor frequência foram à inspeção de pele e mucosas, exame das mamas, de MMII, verificação do estado nutricional, atividades em grupo, orientações sobre amamentação, retorno para o puerpério. As ações não realizadas durante a coleta de dados foram o exame dos genitais externos e especular, frequência cardíaca, palpação da Tireóide, pescoço e axilas e ausculta cardiopulmonar. Os enfermeiros são responsáveis pela consulta pré-natal e os técnicos em enfermagem atuam na pré-consulta. Porém, as informações oferecidas pelos profissionais bem como a observação do funcionamento das unidades durante a pesquisa, mostraram que, em relação às competências essenciais e habilidades esperadas na assistência pré-natal foram realizadas com baixa frequência ou não foram realizadas. Para que esta assistência seja qualificada, é necessária a reorganização das ações a serem desenvolvidas tendo em vista as fragilidades encontradas que comprometem a atenção qualificada. Com os resultados deste estudo, percebe-se a necessidade de reorganização da dinâmica de trabalho dos enfermeiros, uma mudança que privilegie as ações que de fato são competências destes profissionais. Para que melhore essa assistência, prestada pelos enfermeiros, na Zona Leste de Porto Velho seria necessário estabelecer programas de capacitação de qualidade e de supervisão, sensibilizar a gestão municipal para proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento de enfermeiros capacitados, principalmente através das atividades de educação permanente. A relevância deste estudo foi disseminar os resultados obtidos, disponibilizando-os e apresentando-os em diferentes fóruns, assim permitindo que profissionais e alunos de pós-graduação e graduação reflitam e discutam cada vez mais sobre a temática investigada. E, principalmente, levar o profissional que atua mais diretamente nesta fase da vida das mulheres, o enfermeiro (a), a refletir sobre as competências essenciais para a assistência pré-natal.
Palavras-chave
Enfermeiros; Competências; Pré-Natal
Referências
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MACDONALD, M.; STARRS, A. La atención calificada durante el parto. Recomendaciones para política. New York: Edinbur, v.19, n.3, p.163-9, Sep. 2003.