Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Educação Permanente em Saúde e as necessidades dos Agentes Comunitários
Gabriela Markus, Flávio Aparecido Zanaldi, Conrado Neves Sathler, Cátia Paranhos Martins

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


INTRODUÇÃO: Este trabalho faz parte do projeto de extensão: Acompanhamento e Apoio Técnico ao Programa Nacional de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) realizado pelos alunos do estágio supervisionado em Psicologia Social e Comunitária. Estudos que tratam da precariedade do trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) destacam sua rápida formação e carecerem de atualizações cotidianas. Eles participam de situações nas quais surgem questões diversas e, frequentemente, não têm com quem conversar para resolver as dúvidas e dificuldades, gerando frustrações diante de cobranças e expectativas não atingidas (RIBEIRO, AMARAL, STALIANO, 2015). O principal objetivo deste trabalho foi contribuir com as Ciências da Saúde por meio da compreensão do funcionamento de equipes da Estratégia da Saúde da Família (ESF) e, também, levantar dados sobre a saúde dos agentes e sua formação, observar se a Educação Permanente em Saúde (EPS) acontece em seu dia-a-dia, bem como, intervir facilitando esse processo. A EPS é a formação no próprio ambiente de trabalho, uma estratégia para a qualificação dos ACS e um espaço à sua voz. Em vista disto, este trabalho buscou compreender se a EPS está ou não acontecendo em uma Unidade Básica de Saúde do município de Dourados, em que momentos ocorrem e quais estratégias foram criadas para facilitar este processo. Há carência de estudos que as analisem e compreendam como o trabalhador lida com o sofrimento e o que pode ser aprimorado ou inserido. 1.1 Educação Permanente em Saúde. A EPS é uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) para o desenvolvimento e formação dos trabalhadores de saúde, ela sugere a problematização das práticas cotidianas no próprio ambiente de trabalho.  É o mundo da formação dentro do mundo do trabalho; de acordo com Ceccin (2005), é quadrilátero que envolve: atenção, gestão, ensino e controle social. A EPS toma como ponto de partida a realidade local do trabalho, juntamente com a gestão e a participação popular para avaliar, repensar as práticas e encontrar soluções para as dificuldades. A EPS é embasada na Lei 200 da Constituição Federal de 1988, no inciso III, no qual o SUS é o responsável pela formação dos trabalhadores da saúde (BRASIL, 1988). Há uma diferença entre educação permanente e educação continuada, a última é feita através de cursos para o aperfeiçoamento da profissão, num modelo acadêmico, já a EPS é a formação no dia-a-dia, por meio do ensino e aprendizado no contexto do trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009; MERHY, 2005). 1.2 Agente Comunitário de Saúde. Em 1990 foi criado o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) que levou à institucionalização do Programa de Saúde da Família (PSF) em 1994 (NASCIMENTO; CORREA, 2008). O ACS atua na Estratégia Saúde da Família, na Atenção Básica, segundo os princípios do SUS. O agente é o elo entre os serviços de saúde e a população, e deve morar na região em que atua. Como formação, é exigido desse profissional o Ensino Fundamental completo e o curso de qualificação básica (RIBEIRO, STALIANO, AMARAL, 2012; BRASIL, 2002). As principais atribuições deste profissional são: promoção e prevenção de doenças, educação em saúde, análise da comunidade, saneamento básico e melhoria do ambiente, participação das reuniões da ESF, registros para controle da saúde e visitas domiciliares (BRASIL, 2002).2. METODOLOGIA: A pesquisa apresentada é um relato de experiência, de natureza qualitativa, “um vaivém entre observação, reflexão e interpretação” (GIL, 2002, p.90). Como procedimento de coleta de dados foi realizada uma pesquisa bibliográfica, observação participante e rodas de conversa com os ACS (GIL, 2008). A observação participante pressupõe que o pesquisador compartilhe das ações no campo de pesquisa, com um diário de campo consolida e registra este trabalho. Na roda de conversa acontecem construções e reconstruções através de uma reflexão crítica da realidade, na qual os sujeitos negociam falas e experiências, percebendo possibilidades de ação (SAMPAIO et al, 2014). A análise dos dados seguirá os procedimentos da Análise do Discurso, compreendendo-a como associada a posições sócio-históricas e produtora de práticas sociais (FOUCAULT, 1969/2008). Buscar-se-á com esta pesquisa analisar os discursos do dia-a-dia dos ACS, observar processos de EPS e possíveis facilitadores dessa prática que podem contribuir para a formação, repensar o cotidiano e oportunizar um espaço de ressignificação do trabalho (MARTINS; MALAMUT, 2013). RESULTADOS PARCIAIS: A pesquisa ainda está em andamento, com os resultados parciais percebe-se a ausência da escuta e raramente há um espaço de diálogo na equipe. Nas reuniões observou-se que as ACS pouco trocam experiências. Apesar de gostarem do trabalho, as ACS sentem-se frustradas por não conseguirem auxiliar a população como gostariam nos problemas que encontram. O plano de carreiras mal formulado, o baixo salário e a desvalorização por parte do governo e outros profissionais também causam desconforto. Percebeu-se que eles entendem o conceito de saúde de forma ampliada, não apenas a relação saúde-doença, mas como resultante de influências ambientais e de alegrias e tristezas da população que acompanham de perto. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para a facilitação da EPS espaços de diálogos sobre as necessidades da população e os processos de trabalho precisam ser abertos para tornar o trabalho mais participativo em prol da saúde dos trabalhadores e usuários.

Palavras-chave


Educação; Sistema Único de Saúde; Trabalhador de Saúde

Referências


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