Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A CONTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL MÉDICO
André Bubna Hirayama, Alline Karolyne Cândida da Silva, Bárbara Oliveira Silva, Bárbara Lopes Martins, Jordanna Sousa Rocha, Bruno de Jesus Silva Oliveira, Jaqueline Francisca de Jesus Oliveira, Heloísa Silva Guerra, André de Castro Rocha

Última alteração: 2016-02-11

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Programa Saúde na Escola (PSE) faz parte de uma política intersetorial entre Saúde e Educação, instituído em 2007. A base deste programa é a articulação entre Escola e Rede Básica de Saúde, que se unem para promover saúde e educação integral, voltadas às crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública brasileira. Este relato descreve a experiência de acadêmicos de Medicina da UFG na participação em uma atividade do PSE, que, por meio da disciplina de Saúde Coletiva, mantém contato com as Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) logo no primeiro ano de graduação. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de inserção precoce de alunos de medicina, nas unidades de saúde da família, por meio da participação em uma atividade do Programa Saúde na Escola e relacionar esta inserção com a formação de profissionais críticos e aptos a atuar e melhorar a realidade. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Os acadêmicos desenvolveram uma ação educativa em junho de 2014, em uma escola municipal, na área de abrangência da UBSF Jardim Mariliza em Goiânia-Goiás, como parte do Programa Saúde na Escola. Juntamente com a enfermeira e a médica da UBSF, atenderam crianças de 2º e 3º anos, na faixa etária de 6 a 7 anos. Para a realização da ação, foram organizados em subgrupos pela professora para a participação nas atividades de avaliação médica, exame de acuidade visual, aferição de pressão arterial, avaliação da saúde e higiene bucal, aferição do peso e altura para cálculo do Índice da Massa Corporal (IMC). Alguns aspectos chamaram a atenção dos acadêmicos durante a participação nas atividades, um deles foi à necessidade da assinatura de termo de consentimento pelos pais ou responsáveis das crianças a serem atendidas, e o uso de prontuários na escola, diferentes dos que são usados na UBSF. Outro aspecto ressaltado pelos discentes foi que a médica da UBSF, cubana e participante do Programa Mais Médicos, não possuía ainda fluência na língua portuguesa, o que para os outros profissionais e estudantes de medicina não representava problema, mas o mesmo não aconteceu com as crianças. Observou-se que muitas delas não entendiam o que a médica falava e, ao serem indagadas sobre sua saúde, algumas diziam que não sabiam falar "inglês". Esta situação provocou uma indagação entre os acadêmicos sobre um possível comprometimento do atendimento das crianças por essa dificuldade na comunicação. Outro aspecto observado foi que, durante os procedimentos no PSE, a enfermeira solicita a fotocópia da caderneta vacinal do aluno para verificar se está atualizada, e, caso não esteja, as crianças são encaminhadas para o CAIS para atualizar o cartão de vacinas. Durante os exames e procedimentos realizados, destacaram-se: 1- na verificação do peso e do perímetro da cintura - diferenças nas estruturas corpóreas entre as crianças. Observou-se que algumas são bastante magras e outras obesas, o que pode ser o reflexo da alimentação em suas casas, requerendo um acompanhamento nutricional; 2 - a ausculta cardíaca e pulmonar permitiu o reconhecimento de uma criança com bradicardia, que foi encaminhada a um endocrinologista pela médica; 3 - pelo exame de pele, a médica percebeu em duas crianças a presença de pequenas manchas hipocoradas, muito semelhantes às manchas de Pitiríase Versicolor, o que foi medicado com a prescrição de pomada para o tratamento dermatológico; 4 - No exame da acuidade visual, percebeu-se a necessidade do profissional de saúde ter paciência, saber conversar com as crianças e esperar o tempo de cada uma; ressaltando ainda um aspecto abordado pelos professores de semiologia: nenhuma criança é igual à outra, pois cada uma apresenta uma dificuldade e um modo único de demonstrar com os dedos das mãos a imagem que estava visualizando; 5 - Na avaliação de saúde bucal, destaca-se a importância de identificar as necessidades de saúde bucal dos escolares, possibilitando o planejamento das ações a serem desenvolvidas, pois o cirurgião dentista pesquisava a existência de anormalidades dentofaciais, analisava a estética dental, presença de fluorese dentária, cárie dentária, doença periodontal e necessidade de tratamento, e observou-se que mais de 80% das crianças atendidas tinham cárie e/ou outra alteração bucal que necessitava ser encaminhada para o tratamento odontológico. Um fato interessante foi que as duas únicas crianças sem cárie eram irmãs, o que sugere atenção dos pais delas com relação à escovação dos dentes e a ingestão de alimentos cariogênicos. Além disso, notou-se também que as crianças, assim como qualquer indivíduo, apresentavam um perfil psicoemocional diferente, já que algumas tinham bastante medo de aferir a pressão, enquanto outras tinham curiosidade em saber qual o "barulhinho" que seu coração faz. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Esta experiência demonstrou a importância da participação do jovem acadêmico na realização do PSE, pois esta atividade contribui para a formação integral do futuro médico por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da rede pública de ensino. Sem esse contato “precoce”, o resultado é um estudante que, no final do curso, tem conhecimento das diferentes teorias biomédicas, mas apresenta deficiências nos aspectos de habilidades e atitudes para o relacionamento com o ser humano que tem à sua frente, o que compromete a  relação médico-paciente. O Ensino Médico atual reconhece a necessidade de preparar o graduando para lidar com os determinantes do processo saúde-doença e para atuar no cuidado à saúde em uma perspectiva interdisciplinar e intersetorial. Experiências cada vez mais cedo com a comunidade, em especial com crianças, amadurecem o lado humanístico do graduando, fazendo-o perceber que cada paciente é único e precisa ser tratado de acordo com seu contexto sociocultural e psicológico. Além disso, notou-se a importância do Programa Mais Médicos para as comunidades antes desassistidas; em que pesem o reconhecimento de algumas falhas; como a precária paramentação da profissional e a sua insuficiente preparação na língua portuguesa. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O futuro médico necessita vivenciar a visita às UBSF e acompanhar os programas de saúde ali realizados, como o PSE relatado, já no início de sua graduação, antes de ser um interno. Estas visitas favorecem a visão do paciente inserido na sua família e contexto sociocultural, possibilitando ao acadêmico, a abertura a um trabalho de parceria, colaboração e mútuo aprendizado. Prima-se, dessa forma, pela formação médica mais humanista, abandonando a Medicina meramente curativista.