Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O cuidado à criança com asma na Estratégia Saúde da Família: mobilizando agentes comunitários de saúde por meio da Educação Permanente
MARIA WANDERLEYA DE LAVOR CORIOLANO MARINUS, Thaisa de Farias Cavalcanti Santos, Lidia Ruiz Moreno, Luciane SOARES DE LIMA

Última alteração: 2015-11-03

Resumo


Apresentação: O estudo apresentado consistiu em uma Dissertação de Mestrado cujo objeto de estudo foram os cuidados à criança com asma na Estratégia Saúde da Família, por meio de estudo quase experimental do tipo antes e depois. A asma é uma doença crônica, de alta prevalência e morbidade, que afeta de modo substancial a vida das crianças/famílias, com repercussões sobre a qualidade de vida, hospitalizações, absenteísmo escolar, rendimento escolar, faltas ao trabalho (no caso dos pais), gerando altos custos econômicos e sociais para a família e para o sistema de saúde (IV DIRETRIZES BRASILEIRAS PARA O MANEJO DA ASMA, 1996; III CONSENSO BRASILEIRO NO MANEJO DA ASMA, 2002). O tratamento da asma envolve a terapia medicamentosa, somado a cuidados educativos que promovam o uso da medicação de forma adequada, cuidados com o ambiente doméstico, além de uma relação eficiente entre profissional-usuário para uma efetiva adesão ao tratamento. O controle ambiental inadequado pode ser decorrente de fatores econômicos, culturais, psicológicos, educacionais (JENTZSCH; CAMARGOS; MELO, 2006), dentre outros e requer por parte dos indivíduos/cuidadores, mudanças de comportamento inerentes a suas condições individuais que permitam minimizar o papel dos fatores desencadeantes na exacerbação da asma. O estudo teve a seguinte questão de pesquisa: “As condições ambientais dos domicílios de crianças com asma atendidas pela Estratégia Saúde da Família podem ser modificadas a partir de uma intervenção educativa com agentes comunitários de saúde?” Este estudo visou instrumentalizar o Agente Comunitário de Saúde através de conhecimentos sobre medidas preventivas a serem efetuadas em domicílios de crianças asmáticas, utilizando na intervenção educativa metodologias ativas de ensino-aprendizagem (metodologia da problematização), em consonância com as orientações do Ministério da Saúde, no que se refere à Educação Permanente dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), apropriando-se da realidade dos sujeitos no trabalho para o processo educativo de mudança e transformações sociais (BOGUS, 2007; BEHRENS, 1999; MIRANDA; BARROSO, 2004; MENDES et al. 2007; ALVIM; FERREIRA, 2007) . Desenvolvimento do trabalho: 1ª Fase) Na fase de construção do projeto de pesquisa, no mês de setembro de 2008, foi realizado um levantamento de estatísticas de atendimento médico diário no período de janeiro a julho de 2008, para seleção dos domicílios das crianças que atendiam aos critérios de inclusão; 2ª Fase) Foram recrutados os ACS das equipes selecionadas, para preencheram uma avaliação pré-teste, abordando conhecimentos sobre mitos e crenças relacionados à asma e fatores desencadeantes.  Após este contato foram realizadas visitas aos domicílios de crianças com asma no período de dezembro de 2008 a fevereiro de 2009, sendo localizados 95 domicílios. Estes foram visitados, utilizando um formulário com variáveis biológicas (sexo, idade, história familiar positiva para alergia), socioeconômicas e demográficas (renda, escolaridade do cuidador, número de pessoas no domicílio, número de cômodos), pesquisa de fatores desencadeantes (fumo, infecções de vias aéreas superiores), cuidados ambientais (limpeza do piso e móveis) e um instrumento de controle ambiental, que consistiu em um roteiro para observação domiciliar da sala e quarto, sendo considerado o controle ambiental adequado a pontuação ≤15 e inadequado, > 15. 3ª Fase) Nesta fase, realizada no período de março a maio de 2009 foi realizada uma intervenção educativa com os ACS, utilizando metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Nas equipes que atendiam os domicílios selecionados havia 34 ACS. Todos aceitaram participar da intervenção. Estes foram divididos em três grupos focais para a realização de cinco encontros com cada grupo. Na intervenção educativa foi utilizada a metodologia da problematização, com o Método do Arco de Maguerez (BERBEL, 1998). A intervenção consistiu em três grupos focais vivenciais, cada um com cinco encontros e momentos de dispersão caracterizados pelas visitas dos ACS aos domicílios, com o objetivo de identificar nos domicílios problemas relacionados ao controle ambiental, que funcionaram como cenários de aprendizagem (observação da realidade), identificação das causas e explicações da situação encontrada (pontos-chave). Durante os grupos focais foram discutidos temas relacionados ao conceito de asma, uso da medicação inalatória, reconhecimento dos fatores desencadeantes (teorização) e proposição de cuidados preventivos a serem implementados nos domicílios visitados na primeira etapa da pesquisa, com utilização de um roteiro sistematizado construído pelos ACS (hipóteses de solução), visando melhorar as condições ambientais dos domicílios das crianças asmáticas. Ao final da intervenção educativa, os educandos preencheram a avaliação pós-teste, abordando mitos e crenças relacionados à asma e fatores desencadeantes para a doença. 4ª Fase) Nesta etapa, denominada fase de dispersão das atividades educativas, os ACS realizaram visitas às crianças avaliadas na primeira fase, com a proposta de utilização de um roteiro de sistematização, elaborado pelos educandos (aplicação à realidade). O número mínimo de visitas a serem realizadas para abordagem da educação em asma era quatro. 5ª Fase) Os mesmos domicílios avaliados na primeira fase, foram reavaliados pela pesquisadora no período de julho a agosto de 2009, utilizando o mesmo instrumento de coleta de dados inicial. Resultados: Foram verificadas mudanças significativas na redução da limpeza do piso com vassoura, na redução do uso do fogão a carvão, bichos de pelúcia e no controle ambiental do quarto. O método de ensino-aprendizagem foi diferenciado quando se compara a intervenção educativa em grupos focais com os ACS e as orientações individualizadas executadas pelos ACS nas visitas domiciliares, o que pode ter contribuído para os resultados encontrados. O estudo revela limitações na prática de educação em saúde na atenção básica, os ACS não dispõem de ferramentas adequadas para realizarem ações de promoção à saúde, o foco continua centrado na doença e numa prática educativa tradicional, prescritiva, sem oportunidades de reflexão para os usuários, para o entendimento das limitações desta relação entre profissional-usuário, sendo necessária a educação permanente destes profissionais relacionando os saberes e práticas populares, com o conhecimento técnico-científico, propiciando a construção de um conhecimento duradouro e aplicável ao contexto de vida das famílias. Não foi possível apreender a relação entre usuário-ACS, como se processa esta relação, qual o grau de credibilidade, a confiança e a segurança que as famílias depositam neste trabalhador, apontando a necessidade de futuras pesquisas para elucidação desta questão e de outras semelhantes. É necessário avaliar também o tempo exigido para implementação das medidas educativas em tais visitas, o qual não pode ser reduzido, nem tampouco superestimado, sob o risco do excesso de informações dificultar o processamento e reflexão por parte dos cuidadores. Considerações finais: O estudo ratifica a necessidade de incorporação da asma como política pública de saúde, tendo em vista a sua alta prevalência e morbidade, fundamentada na educação de profissionais de saúde e usuários como um dos principais pilares, propiciando a incorporação de informações, reflexões e construção de medidas que minimizem os riscos para a falta de controle da doença. O uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem na educação permanente mostra-se como uma potencial ferramenta para a educação permanente de agentes comunitários de saúde no seu trabalho preventivo junto à população.

Palavras-chave


Asma; Agentes Comunitários de Saúde; Educação Permanente em Saúde

Referências


BEHRENS, M.A. A prática pedagógica e o desafio do paradigma emergente. Revista Brasileira de Estudos pedagógicos, v. 80, n.196, p. 383-403, 1999.

 

BERBEL, N.A.V. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunicação, Saúde, Educação, p.139-154, 1998.

BÓGUS, C.M. A educação popular em saúde como possibilidade para o incremento do controle social no setor saúde. O Mundo da Saúde São Paulo, v.31, n.3, p.346-354, 2007.

 

BRASIL. Portaria nº 198/GM/MS em 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como Estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências.Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

 

BRASIL. Asma e rinite: linhas de conduta em atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2004

III CONSENSO BRASILEIRO NO MANEJO DA ASMA 2002. Revista AMRIGS. v.46, n.3,4, p.151-172, 2002.

 

IV DIRETRIZES BRASILEIRAS PARA O MANEJO DA ASMA. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 32, Supl 7, p. 447-474, 2006.

 

JENTZSCH, N.S.; CAMARGOS, P.A.M.; MELO, E.M. Adesão às medidas de controle ambiental em lares de crianças e adolescentes asmáticos. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 32, p.189-194, 2006.