Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Adolescer no cenário de vulnerabilidade: o espaço da escola na prevenção ao uso de drogas
Emanueli Paludo, Edna Linhares Garcia, Mauriceia Eloisa Moraes, Julia Souza de Moraes, Vitória Merten Fernandes

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Este trabalho apresenta uma discussão sobre drogas, adolescência e educação. No ano de 2010 a pesquisa “A Realidade do Crack em Santa Cruz do Sul” iniciou um levantamento de dados sobre usuários de crack e familiares para auxiliar na definição de estratégias para o enfrentamento dos problemas advindos do uso de cra­ck e outras drogas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Universidade de Santa Cruz do Sul (nº 2527/10) e todos participantes assinaram um Termo de Consentimento. Numa primeira etapa foram entrevistados 100 usuários de crack e 100 familiares de usuários, contatados por meio de serviços de saúde e associações comunitárias. Os dados apontaram que o uso de drogas tem inicio em idade precoce entre 10 a 15 anos, seguido de 16 a 21 anos (GARCIA et al., 2012). Uma segunda etapa propôs a análise das entrevistas realizadas com familiares a partir de metodologia qualitativa, especificamente da análise dos sentidos produzidos no cotidiano (SPINK, 2000). A terceira etapa da pesquisa designou incluir as escolas do município – localizadas em territórios onde o tráfico de drogas se presentifica com muita intensidade – como espaço para escuta das narrativas de adolescentes sobre as drogas, buscando compreender a dimensão que esta temática ocupa nos processos de subjetividade do sujeito adolescente. Objetivou-se evidenciar e analisar estratégias d fortalecimento e espaços de proteção dentre outros fatores que ajudam a não construir ou sustentar demandas de drogas frente a uma permanente e cotidiana oferta. Para operacionalização da proposta, realizou-se rodas de conversa em três escolas diferentes, ao longo de quatro encontros por escola, com a participação de 30 adolescentes de 10 a 17 anos. Constatou-se que os adolescentes participantes procuram a escola buscando participar de projetos, atividades esportivas, de lazer, encontrar amigos e, finalmente, frequentar aulas, sobre as quais não demonstram desejo entusiástico de participação. Percebeu-se que a escola representa um lugar de proteção do cotidiano violento das ruas do bairro em que moram e que, embora gostem muito do seu local de nascimento, expressam direta e indiretamente desejo de não estarem mais no local, apresentando angustia frente o desejo por mudança de endereço. Desta forma é possível observar que a droga se faz presente pelo contexto da violência produzida pelo tráfico e pelo envolvimento deste no cotidiano dos adolescentes. Conclui-se que quando o assunto é droga, há uma dificuldade na abordagem do tema por parte dos professores e dos adolescentes, em contrapartida, observa-se que após iniciada as atividades, os estudantes demonstram interesse na discussão, expressando uma necessidade de que se constituam espaços para debaterem esta problemática sem julgamentos morais, uma vez que finda por se tratar de um assunto de extrema intimidade para eles, especialmente pelo envolvimento que suas narrativas revelam ao longo da pesquisa.

Palavras-chave


Adolescência; Drogas; Escola.

Referências


GARCIA, E. L. et al. (Re)conhecendo o perfil do usuário de crack de Santa Cruz do Sul.  Barbarói. Santa Cruz do Sul, v. 36, Edição Especial, p. 83-95, 2012.

SPINK, Mary Jane P. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. 2. ed São Paulo: Cortez, 2000.