Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Relato de ações acadêmico-integrativas em uma Unidade de Saúde do município de Lagarto – Sergipe
Rhamon Ribeiro da Costa, Lívio Matheus Aragão dos Prazeres, Heloysa Morganna de Lima Marinho, Karine Vaccaro Tako, Heloisa Mendonça Bernini Soares da Silva

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Contextualização As necessidades profissionais e assistenciais das questões modernas em saúde têm modificado as diretrizes curriculares dos cursos de graduação. Estando inclusa nessas adaptações a utilização de metodologias ativas como proposta pedagógica, sendo elas a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e a Problematização, na qual esta segunda é fundamentada nos princípios do ‘arco de Maguerez’. Outro fundamento da ABP é possibilitar a interação entre ensino-serviço-comunidade, o qual na Universidade Federal de Sergipe – Campus Lagarto, ocorre através do módulo de aprendizagem denominado “PEC – Práticas de ensino na comunidade”. Através deste, no primeiro ano de graduação de todos os cursos do campus, ocorre a construção de um PPLS (Programação e Planejamento Local em Saúde), com turmas formadas por alunos de quatro cursos diferentes, de forma incitar a multiprofissionalidade e exercitar o trabalho em grupo. O objetivo desse relato é descrever as ações aplicadas por três diferentes turmas, em anos consecutivos, na “Unidade de Saúde – Cidade Nova” do município de Lagarto, e demonstrar as transformações geradas pelas mesmas. Caracterizando a Unidade de Saúde Atualmente a Unidade Básica de Saúde da Cidade Nova contém apenas uma equipe de saúde da família (ESF), sendo composta por uma enfermeira, um médico generalista, uma técnica de enfermagem, seis agentes comunitários de saúde (ACS) e quatro residentes, sendo duas enfermeiras, uma farmacêutica e uma psicóloga. A equipe atende 3.445 pessoas em 973 famílias. O território é vasto e muitas vezes torna-se difícil a realização de ações, visto que a equipe de saúde da família não tem transporte e não conta com recursos audiovisuais para dar suporte necessário à população. O perfil da população que a unidade abrange é predominantemente constituído por idosos, diabéticos e hipertensos, no total de 81 diabéticos e 313 hipertensos, segundo o relatório da situação de saúde e acompanhamentos das famílias da UBS. Relatando as ações. No ano de 2012 as medidas utilizadas para construção do PPLS na “Unidade de Saúde Cidade Nova” foram inteiramente voltadas à visão da população em ter o acesso à saúde de maneira mais próxima e eficaz. Contudo para que tal melhora ocorresse era necessária a contribuição de todos (ESF e Comunidade). Sendo assim, foram apresentadas como prioridades para a intervenção, o deslocamento das atividades do programa HIPERDIA até o povoado barro vermelho, fazendo com que houvesse uma maior participação da população local. A ação dos alunos se ateve a realização de palestra sobre hipertensão e diabetes, aferição de pressão arterial, coleta das medidas antropométricas e aconselhamento, no qual a enfermeira orientou medidas que pudessem ser tomadas e sobre a participação do paciente no programa Hiperdia.   Em 2013, iniciaram-se as ações com a aplicação de um questionário, a fim de traçar o perfil daquela área e listar os principais problemas. Com isso, a população relatou como mais relevantes: a falta de saneamento básico; onde os esgotos ficavam a “céu aberto”; a falta de pavimentação; e a coleta de lixo. Percebendo a amplitude problemática da comunidade, e a baixa resolutividade em curto prazo por parte da equipe, decidiu-se incentivar a criação de uma associação comunitária. Para que assim, pudesse se alcançar o empoderamento da população acerca do que foi previamente pontuado. Deixando um legado permanente para os mesmos, que ultrapassa quaisquer instâncias acadêmicas/profissionais, além da obtenção de resultados na saúde, economia, e em qualidade de vida em geral. Essas intervenções se basearam em rodas de conversas, nas quais discutia-se a importância da participação social na construção de melhores condições de vida, e saúde consequentemente, visando à totalidade dos aspectos biopsicossociais. Além disso, distribuíram-se panfletos contendo frases de efeito que demonstrassem a importância individual na própria saúde e na comunidade. Promoveu-se também o encontro dessa população com um chefe comunitário de uma área vizinha, para tirar possíveis dúvidas e com o intuito de apresentar um exemplo, que por sinal, possuía vários relatos de lutas e conquistas para compartilhar. Por fim, realizou-se uma reunião, na qual foram esclarecidas as questões burocráticas para a oficialização de uma associação e repassou-se a eles a responsabilidade da perpetuação dessa iniciativa. Dentro do ano de 2014, através de uma análise dos consolidados das fichas do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), foi constatado um alto índice de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes. Com o intuito de reduzir esses índices, foi elaborado um projeto de intervenção: Vida em Movimento, cujo objetivo geral é promover a qualidade de vida e o bem-estar físico e mental através da prática de exercícios físicos e atividades de socialização para o público alvo de diversas faixas etárias. Na execução dessa prática foi realizada uma avaliação através de um questionário elaborado pelo grupo, contendo os dados pessoais, anamnese e exame físico. Posteriormente realizou-se uma dinâmica de socialização; atividades de alongamento associados à respiração; exercícios aeróbios e automassagem, sempre com a supervisão acadêmica. As atividades realizadas também utilizaram de equipamentos confeccionados pelo próprio grupo, como as faixas para alongamento e cabos de vassouras. Foram realizados apenas dois encontros com os acadêmicos, contudo tal projeto tem continuidade nos dias de hoje a fim de manter uma interação social entre os participantes e a UBS. Refletindo As ações supracitadas refletem a importância da inserção acadêmica nos serviços de saúde, juntamente com a comunidade. Pois, a criação deste vínculo no início da formação colabora com a otimização de habilidades práticas e operacionalizantes, assim como no gerenciamento de ações multiestratégicas que visam desde público alvo à priorização e viabilidade. Além disso, o contato direto com a população inibe a concepção de fluxo unidirecional de conhecimento, na qual o acadêmico/profissional detém e controla as “informações importantes” enquanto a comunidade simplesmente as recebe. O que não se aplica ao conceito moderno de saúde, que abrange noções de qualidade de vida e bem-estar social. Assim, a proximidade possibilita o diálogo baseado na troca de experiências, gerando uma interação que dá “voz” à comunidade e fomenta a participação social, que é essencial para promover melhorias sociais e em saúde. Em meio a debates com os estudantes, percebe-se que estes não entendem a real relevância das suas intervenções. Por acreditarem que estas são eventos pontuais com influências no mínimo momentâneas sobre a comunidade, ou seja, com poucas modificações nos índices de saúde daquela. Contudo, a percepção dos profissionais da equipe do posto de apoio contradiz totalmente àquela ideia, de modo que os mesmos tendem a dar seguimento as ações, promovem novos vínculos entre discentes, docentes, profissionais e comunidade. Ressaltam a importância de espaços, como a PEC, para a construção do profissional de saúde humanizado e reafirmam que mesmo em intervenções pontuais, o conjunto de todas elas trazem benefícios coletivos tanto para UBS quanto para comunidade, fortalecendo assim o vínculo e fazendo-se cumprir as normas do Sistema Único de Saúde. Considerações Podemos considerar que atividades como essas são fundamentais para a formação de profissionais de saúde alinhados às novas diretrizes preconizadas pelos Ministérios da Educação e da Saúde, e mais do que isso, capazes de conhecer, compreender e buscar resolver os problemas reais da comunidade e da sociedade. Apesar de muitos estudantes não conseguirem perceber que as ações conseguem alcançar objetivos para macroproblemas, a comunidade sentirá as benesses dessas ações em um curto espaço de tempo.

Palavras-chave


Educação em saúde; Metodologias ativas; SUS.