Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO PARA PACIENTES COM DEFICIÊNCIA: UMA EXPERIÊNCIA ACADÊMICA
Marcia Cancado Figueiredo, Veridiana Germano Ecke, Francesca Moro Leonard, kethlen Pinzon, Taiane Furtado, Andressa Haas
Última alteração: 2015-10-22
Resumo
APRESENTAÇÃO: Segundo dados da OMS, 10% da população mundial é constituída por pessoas com deficiência seja esta, mental, física, anomalias congênitas, distúrbios comportamentais, transtornos psiquiátricos, distúrbios sensoriais e de comunicação (HADDAD, 2007). Deste modo, o cirurgião-dentista deve saber realizar uma anamnese minuciosa a fim de detectar possíveis alterações e assim, proporcionar um atendimento odontológico integral, seguro e individualizado na abordagem e plano de tratamento com características peculiares, ainda que a moléstia de base seja a mesma. Atualmente, no Brasil, o número de especialistas para o atendimento odontológico a essa população é pequeno, muitas vezes, limita-se a instituições, onde o cirurgião-dentista, em raros casos, integra uma equipe multidisciplinar e desempenha importante papel na manutenção e melhoria da qualidade de vida desses pacientes. Atentos a essa falta de capacitação profissional e grupos de estudo que discutam métodos facilitadores de prevenção e tratamento odontológico voltados para esses pacientes e, diante da escassez de programas odontológicos voltado para pessoas com deficiência, foi instituído em 2005 esta atividade de extensão, perfazendo 10 anos de existência. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO Este programa de extensão interdisciplinar visa formar e capacitar acadêmicos de odontologia no atendimento odontológico a pacientes com deficiência, com o objetivo de oferecer uma melhora na qualidade de vida destes pacientes. Com vista nas peculiaridades do atendimento a pacientes com deficiência que vai desde o manejo ao tratamento, além da integralidade, também é nosso objetivo fazer com que os acadêmicos se sintam melhor preparados para lidar com situações referentes à saúde bucal e comportamento dessa população. Nesse contexto, ao longo dos dez anos, os atendimentos, além de serem a pacientes que vêm por livre demanda, são estendidos também àqueles oriundos das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Porto Alegre e da grande Porto Alegre, devido ao convênio entre Faculdade de Odontologia da UFRGS e Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (Centro de Especialidade Odontológica CEO/UFRGS). Os acadêmicos como forma de contribuir com todo esse processo de transformação e auxiliar no planejamento de ações em saúde para uma melhor qualidade deste programa de extensão, aprendem e descrevem as condições de saúde desta população de deficientes, investigam os fatores determinantes das situações de saúde dos mesmos e, avaliam o impacto das ações de saúde instituídas, proporcionando, através de seus resultados, a possibilidade de contribuir para uma melhor resolubilidade no âmbito da qualidade de vida dos mesmos. RESULTADOS: É um desafio trabalhar com a promoção da saúde no setor público, especialmente com pacientes deficientes, é prejudicado por fatores como situação socioeconômica baixa, necessidade de grandes deslocamentos, dificuldade de transporte, tempo despendido nos diversos tratamentos de reabilitação paralelos ao tratamento odontológico, predisposição que esses pacientes têm de adoecer, associados à falta de compreensão, interesse e resistência dos pais sobre a importância da saúde bucal. Estes fatores justificam a forte relação entre o baixo nível de escolaridade (50,7% têm 1º grau incompleto), renda familiar (41% vivem com 2 salários mínimos) dos responsáveis pelos nossos pacientes e as suas péssimas condições de saúde bucal. O que se trabalha com os acadêmicos nesta referida extensão é que, para atender de forma adequada os pacientes com deficiência, é necessário observar o todo, perceber o paciente integralmente, conhecer as reações orgânicas, avaliar as complicações advindas da evolução de cada síndrome e/ou alteração sistêmica, atentar para interações medicamentosas, de forma que a atuação do cirurgião-dentista propicie a esse sujeito saúde e função do sistema estomatognático. O Retardo de Desenvolvimento: Neuro-Psico-Motor (DNPM) foi o mais prevalente no diagnóstico de nossos pacientes (40,4%) e fatores como idade, grau de deficiência mental e um padrão ruim de higiene bucal, a má oclusão, a alta incidência de cáries e doença periodontal foi alta nestes pacientes. Além desta alteração de normalidade, pôde-se observar muitas outras, como Síndrome de West, Síndrome de Smith Lemli Optiz, Hiperatividade, Esquizofrenia e SIDA que não foram citadas no presente estudo por não terem tido uma frequência significante na população avaliada. O fato de um paciente ser portador de determinada deficiência, não exclui a possibilidade de apresentar alguma outra característica. As diferentes necessidades foram computadas separadamente, podendo um paciente pertencer a mais de um grupo. Entre as associações decidiu-se trabalhar apenas com Síndrome de Down e Cardiopatias, além de Retardo de DNPM e Epilepsia pela frequência em que aparecem na amostra estudada. Na análise dos medicamentos utilizados por esse grupo de pacientes, pôde-se verificar a maior prevalência do uso de anticonvulsivantes, seguidos de Antipsicóticos, Tranquilizantes e Antidepressivos. Outros fármacos como Anti-hipertensivos e Anticolinérgicos são utilizados em menor escala. Essas condições podem e devem ser prevenidas com precoce atendimento a todos os deficientes, principalmente com a participação ativa dos cuidadores no processo de introdução aos cuidados de higiene bucal e análise do tipo de alimentação devida, associados ao tratamento ambulatorial realizada nesta ação de extensão. Infelizmente, há uma carência muito grande de ações odontológicas voltadas para a pessoa com deficiência. Um dos fatores que mais contribuem para esta atenção excludente é a pouca formação de recursos humanos para atendê-los. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O Brasil é o campeão mundial em número de dentistas, 219.575 mil registrados nos Conselhos Regionais, sendo 401 com especialização em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais e destes, apenas 22 atuando no Rio Grande do Sul. Deste modo, é evidente a necessidade de que se continue formando e capacitando acadêmicos de qualidade na área de odontologia para o atendimento ao deficiente com foco nas iniciativas de prevenção e promoção de saúde e que aborde também as questões clínicas dos mesmos.
Palavras-chave
Paciente com deficiência; saúde bucal;cirurgião-dentista
Referências
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