Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Comunicação sobre o SUS: os desafios colocados por uma exposição
Vanessa Nolasco Ferreira, Carlos Henrique Assunção Paiva, Fernando Antônio Pires-Alves, Luiz Antônio Teixeira, Carlos Fidelis Ponte

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


Apresentação: A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Conselho Nacional de Saúde (CNS), confeccionou uma exposição sobre o Sistema Único de Saúde intitulada “Nos Caminhos do SUS”. Seu processo de criação oferece um cenário rico de discussões e disputas acerca do papel da participação social em nosso sistema de saúde e de aspectos essenciais a seu funcionamento. A ideia de uma exposição que fosse capaz de apresentar questões complexas sobre o SUS nasceu por volta de março de 2013. Nesse momento, a FIOCRUZ, por intermédio da Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC) e da Casa de Oswaldo Cruz (COC) sentavam-se com representantes do Ministério da Saúde para discutir ferramentas e estratégias de comunicação, em formato de uma exposição que fosse capaz de, em perspectiva histórica, discutir o papel da MS na trajetória da saúde pública nacional. Logo vieram os acontecimentos de junho de 2013, a população nas ruas provocou mudanças na agenda do governo, assim como o próprio Ministério, que foi imediatamente chamado a responder às questões colocadas pelos movimentos das ruas. A ideia de se produzir informações que dialogassem com as pessoas, que incorporassem o contraditório, as tensões, as críticas se radicalizava por vez. O documento preliminar aprovado no CNS deixava claro que tratava-se de uma exposição que deveria tomar como interlocutor o cidadão comum. Não deveríamos criar, portanto, um instrumento de comunicação para os já iniciados ou convencidos acerca da importância do SUS. Interessava-se nos apresentar o SUS para uma população carente de informações, que o vê, eventualmente, com desconfiança ou com pouco valor. Interessava também discutir esse mesmo sistema de saúde sob uma perspectiva de balanço: incorporar, de maneira crítica, o ponto de vista estabelecido pelo senso comum, segundo o qual, por exemplo, o sistema de saúde reduz-se à assistência à saúde ou de que seria impossível termos serviços públicos eficientes. Enfim, nos comprometemos a fazer uma exposição que incorporasse, eventualmente, o ponto de vista negativo de quem a vê. E, aos poucos, desconstruir suas perspectivas. Por fim, outro ponto de partida firmado no instrumento preliminar dizia respeito as nossas estratégias de contextualização do SUS como parte da trajetória da saúde pública brasileira. Com isso, queremos dizer que muitas de suas propostas e iniciativas situam-se em um contexto bastante amplo de experiências, de marchas e contramarchas que, na altura do final dos anos 70, configuraram-se na forma de um movimento pela Reforma Sanitária. Desenvolvimento do Trabalho: Lançava-se o desafio de produzir marcos contextuais que fossem capazes de dar conta tanto da potência, quanto das contradições do atual sistema de saúde. O uso da história, como estratégia de produção de uma narrativa, deveria ser feito “na medida”, isto é, com certa dose de economia. Não poderíamos cair na cilada de mobilizar informações que, ainda que contribuam para erudição, pouco explicariam sobre a problemática contemporânea, mas também não poderíamos tratar os desafios colocados para o SUS desapegados de um determinado contexto histórico. Foi com base nessa matriz inicial de ideias que iniciamos a primeira fase de construção da exposição. Sobre ela podemos dizer que já entre nós pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz, acostumados aos debates sobre o SUS e a Reforma Sanitária, a formulação de um texto base para a exposição constitui-se de um espaço de disputa e incessantes debates. Impactos e Reflexões Acerca da Construção de uma Exposição: Optamos por organizar a exposição em quatro eixos: Organização do SUS, Participação Social, Financiamento e Recursos Humanos. Já na primeira reunião para discussão do texto um sinal de alerta pairou sobre nossas cabeças: o academicismo de nossos textos. Quanto a essa questão foi possível refletir como o mundo acadêmico não está acostumado à interface com o “mundo real” onde o SUS realmente acontece. Outro imbróglio foi como abordar o Financiamento da Saúde sem mostrar uma infinidade de siglas que representam impostos e um cálculo que não consiste em um consenso para a própria área. Como dizer para o cidadão que sua participação através dos Conselhos de Saúde é fundamental, pois nesse espaço são arbitrados os gastos com saúde? A solução que encontramos foi mostrar que um Sistema Universal de Saúde precisa de muito dinheiro para funcionar e alternativa demonstração foi a perspectiva comparada. O financiamento e a complexidade do Sistema nos levam a abordagem da Organização do SUS na qual optamos por demonstrar a complexidade e abrangência do sistema que vai desde a prevenção com campanhas de imunização, proposição de políticas públicas sobre saneamento e segurança, por exemplo, até a realização e regulação de procedimentos cirúrgicos de alta complexidade como transplantes. Tudo isso passando pela produção de Ciência e Tecnologia. O Eixo RH também contou com discussões acaloradas sobre o que deveria ser levado em conta, pois a tendência é sempre voltar às questões para a regulação do trabalho médico, mas por mais que não se faça um Sistema de Saúde sem médicos, existe toda uma discussão que envolve a multidisciplinaridade e a necessidade de reconhecimento e conscientização da população de que muitos outros profissionais desempenham papéis igualmente importantes e funções primordiais no Sistema. Desse modo, a opção foi mostrar que a distribuição de profissionais é um ponto nodal para um país com dimensões continentais e com uma vertiginosa concentração de riquezas no Eixo Sudeste-Sul. Optamos por dar à Exposição um caráter urbano que remeta às manifestações que tomam conta das ruas e ambientes como praças, fazendo uso de grafite e estêncil, e sonorizada pelas manifestações que historicamente vêm tomando as ruas do Brasil, mas já vemos na escolha desse conceito uma questão crucial: ele não representa como um todo o país ao passo que apesar de sermos mais urbanos do que rurais, a maioria de nossos municípios é de pequeno porte e assemelha-se a uma atmosfera rural, embora a globalização faça com que quase todos os seres humanos saibam o que é e o que ocorre nas metrópoles. Principal resultado: Exposição “Nos caminhos do SUS”.  Sala de exposições temporárias, Museu da Vida (COC/FIOCRUZ), Av. Brasil, 4365, Manguinhos – Rio de Janeiro – RJ. Considerações Finais: Quais reflexões poderiam ser sintetizadas sobre o processo de comunicação sobre o SUS para as massas? Em primeiro lugar, nos perguntamos: qual seria nosso objetivo? Isto é, ao final da exposição, o que deveria ser retido como mais relevante pelo nosso expectador? Queremos contribuir para a construção de um ponto de vista de que o SUS não seja encarado apenas como uma política de governo, mas um empreendimento que remete às relações entre pessoas, estado e mercado. Nessa linha, situa-se em um debate sobre direito social e cidadania no Brasil. Em função disso, sua potência necessariamente envolve apoio e exercício da política por parte dos cidadãos e das instâncias representativas.    

Palavras-chave


Participação Social; Comunicação em Saúde;

Referências


ARAUJO, I.S; CARDOSO, J.M. Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2007

PAIM, J. S. & ALMEIDA-FILHOoN. (orgs). Saúde Coletiva: Teoria e Prática:, São Paulo: Medbook, 2014

GIOVANELLA,L. et al. Políticas e Sistema de Saúde no Brasil, Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2008.