Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Uma análise acerca dos instrumentos de gestão do trabalho nas secretarias de saúde da região Nordeste do Brasil
Rafael Rodolfo Tomaz de Lima, Dinorah de França Lima, Janete Lima de Castro

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Nas duas últimas décadas, o mercado de trabalho passou por diversas transformações que foram ocasionadas, em sua maioria, pela inserção de novas tecnologias oriundas da terceira revolução industrial, conhecida como a “era da informação”. Todavia, o mercado de trabalho manteve como uma de suas principais características a presença intensiva e uma forte dependência do trabalho humano. O sistema público e, por conseguinte, o Sistema Único de Saúde (SUS), não tem acompanhado com a mesma rapidez as transformações e inovações que ocorrem no mundo, sobretudo, no que concerne aos investimentos para o desenvolvimento da força de trabalho. O atual modelo de gestão encontrado nas instituições públicas de saúde é baseado no modelo de administração pública implantado em meados do século XIX, cujos princípios norteadores foram o formalismo, a impessoalidade, o controle rígido dos processos de trabalho, dentre outros. Ademais, as organizações públicas perderam a noção do seu principal objetivo, que é dar respaldo às necessidades da sociedade. Na área da saúde, isso implica diretamente na qualidade da assistência ofertada à população. Em decorrência disso, criam-se ambientes de trabalho complexos, em que os profissionais tornam-se cada vez mais desvalorizados e desmotivados, desenvolvendo de forma insatisfatória práticas de trabalho e, consecutivamente, de prestação de serviço à saúde. Para romper com essa realidade, bem como com a fragmentação e verticalização do processo de trabalho em saúde, o Ministério da Saúde vem incentivando, mais precisamente desde 2003, através da criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) e com a criação da Política Nacional de Humanização (PNH), a implantação de instrumentos de gestão do trabalho nos três níveis de gestão (federal, estadual e municipal) do SUS. Esses instrumentos, tais como a Avaliação de Desempenho; o Plano de Cargos, Carreiras e Salários; a Mesa de Negociação do Trabalho em Saúde; a Política de Educação Permanente em Saúde etc.; oportunizam o desenvolvimento de boas condições de trabalho, através da democratização e flexibilização das relações trabalhistas, qualificação dos profissionais para atuarem frente às exigências de saúde da população e promoção da saúde dos trabalhadores. Esta pesquisa, integrante do Projeto de Apoio a Estruturação da Rede de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde desenvolvido pelo Observatório de Recursos Humanos em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ObservaRH/UFRN) em parceria com o Departamento de Gestão e Regulação do Trabalho em Saúde (DEGERTS) do Ministério da Saúde, teve o objetivo de identificar os principais instrumentos de gestão do trabalho em saúde implantados nas secretarias municipais e estaduais de saúde da região Nordeste do Brasil. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, com uma abordagem quantitativa. A coleta dos dados ocorreu com a aplicação de um formulário, contendo perguntas fechadas, aos alunos do curso de especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, ofertado pela UFRN na modalidade de Educação a Distância (EaD). Além de alunos do citado curso, os sujeitos respondentes também atuavam nas secretarias de saúde investigadas. O levantamento dos dados ocorreu no período de novembro de 2013 a fevereiro de 2014 e o envio dos formulários respondidos pôde ser feito de duas formas: a) via sistema eletrônico desenvolvido para tal fim, ou b) durante o momento presencial de encerramento do curso. A análise dos dados obtidos foi realizada através da estatística descritiva, utilizando o software Statistic Package for Social Sciences (SPSS) for Windows, versão 20.0. Ressalta-se que esse estudo teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), vinculado à UFRN, respeitando as diretrizes e normas regulamentadoras da Resolução n.º 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) para pesquisas envolvendo seres humanos. De acordo com os 128 respondentes dessa pesquisa, 08 representando secretarias estaduais de saúde e 120 representando secretarias municipais de saúde, ficou evidenciado que 42,5% das instituições possuem Avaliação de Desempenho, enquanto 57,5% não possuem. 29,1% das instituições investigadas possuem Plano de Cargos, Carreiras e Salários contra 70,9% que não possuem. No que se refere à Mesa de Negociação do Trabalho em Saúde, apenas 16,1% das instituições investigadas possuem e 83,9% não possuem. 25,2% das secretarias de saúde analisadas possuem atividades de capacitação na área de gestão do trabalho e da educação na saúde, enquanto 74,8% não possuem. Por fim, porém não menos importante, 38,2% das instituições que participaram dessa pesquisa possuem Política de Educação Permanente em Saúde e 61,8% não possuem. Diante dos resultados encontrados, percebe-se que apesar do forte investimento do Ministério da Saúde, por meio da SGTES, para induzir o fortalecimento dos instrumentos de gestão do trabalho em saúde nas instâncias do SUS, as secretarias de saúde estudadas, sejam de âmbito estadual ou municipal, ainda enfrentam dificuldades para implementá-los. Tais dificuldades, que na maioria das vezes são de ordem econômica e estrutural, são reflexos do processo de descentralização do SUS, impulsionado pela Constituição Federal de 1988 e pela Reforma Sanitária Brasileira. O referido processo vem buscando adequar o sistema público de saúde brasileiro às características e singularidades presentes em cada região do nosso país. Todavia, como o Brasil é um país de dimensão continental formado por diferentes “Brasis” e realidades sociais e sanitárias distintas, é preciso criar estratégias diferenciadas para atender às necessidades dos setores de gestão do trabalho e da educação na saúde nos estados e municípios das diferentes regiões da nação. Ademais, partindo do pressuposto de que a saúde do trabalhador não é compreendida somente pela ausência de doenças ocupacionais, mas também pelo estímulo à criatividade, autonomia, protagonismo, participação, construção de boas práticas e condições de trabalho facilitadas por meio dos instrumentos de gestão do trabalho, a ausência de tais instrumentos nas instituições de saúde vinculadas ao SUS compromete a promoção da saúde do trabalhador. Consecutivamente, se o trabalhador da saúde não está saudável e desempenhando as suas habilidades de maneira satisfatória, a prestação da assistência à saúde dos usuários também não será de boa qualidade. Por fim, espera-se que os resultados desse estudo possam corroborar para o fortalecimento da área de gestão do trabalho e da educação na saúde no Nordeste brasileiro e nas demais regiões do país.

Palavras-chave


Recursos humanos; trabalho em saúde; gestão do trabalho.

Referências


  1. Castro JL, Vilar RLA, Liberalino FN. Gestão do trabalho e da educação na saúde. Natal: EDUFRN; 2012.
  2. Castro JL. Gerência de pessoal nos serviços de saúde. In: Santana JP, Castro JL, editores. Capacitação em Desenvolvimento de Recursos de Saúde – CADRHU. Natal: EDUFRN; 1999. p. 313-327.
  3. Assunção AA. Gestão das condições de trabalho e saúde dos trabalhadores da saúde. Belo Horizonte: NESCON/UFMG; 2012.