Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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REFLEXÃO, CRIAÇÃO E REINVENÇÃO DO TRABALHO NA SAÚDE
Tanise de Oliveira Fernandes

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


Apresentação: Este trabalho é parte de reflexões desenvolvidas no Trabalho de Conclusão de Residência do Programa de Residência em Saúde do HUGD/UFGD. Pretende discutir acerca do processo de formação de trabalhadores no contexto da Saúde Pública. Visa explorar a Educação Permanente em Saúde (EPS) como estratégia para a mudança do modelo hegemônico de saúde e provocador de transformações das práticas de trabalho, considerando a Residência Multiprofissional em Saúde como uma modalidade de ensino em serviço que converge com a EPS. Também são discutidos os processos de subjetivação, ético-políticos e institucionais envolvidos na formação e no trabalho na área da saúde. As Residências em Saúde como possibilidades de trabalho na saúde são desenvolvidas em uma trama de complexidade. O que se produz como resultado deste labor é de uma imensa diversidade, podendo resultar na produção do cuidado e a autonomia, o sofrimento, a opressão e também o adoecimento. Os caminhos para produzir saúde estão diretamente relacionados com as concepções do profissional sobre o que é saúde e qual a forma que se produz tal bem. Estas percepções são solidificadas durante a formação profissional, no contexto e nas condições de trabalho vigentes, e também, a partir de um elemento de grande importância, a possibilidade de Educação Permanente em Saúde (EPS). A EPS é parte do movimento em direção à consolidação e fortalecimento da Reforma Sanitária Brasileira e do SUS. Surge a partir da necessidade da articulação entre todas as esferas do SUS e as instituições formadoras, considerando a importância dos trabalhadores da saúde pública. Tem em evidência a construção da educação em serviço/educação permanente em saúde (BRASIL, 2003). É a abertura para o diálogo e reflexão do trabalho na saúde pública, considerando seus desafios, as riquezas e complexidades encontradas nestes contextos. Na mesma lógica da EPS, a Residência Multidisciplinar em Saúde (RMS) é criada como uma provocação à mudança do modelo de saúde vigente e uma estratégia de transformação das práticas nesse contexto. Consiste em uma modalidade de pós-graduação (lato sensu) na formação de trabalhadores da saúde, com a finalidade de uma mudança na perspectiva do desenho tecno-assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS) (RESIDÊNCIA..., 2014; BRASIL, 2006). Esta transformação do modelo tecno-assistencial corresponde à reforma dos modos de se produzir saúde no SUS. As propostas que se colocam são para o investimento na dimensão humana envolvida nos serviços de saúde. Incide em desenvolver um paradigma que tenha compromisso com a prática, com a intervenção humana no processo saúde e doença, e no seu compromisso com a produção de saúde (CAMPOS, 2007). Desse modo, as Residências em Saúde se configuram como inovadoras e potentes possibilidades em articular a inserção no contexto de trabalho em saúde, na prática profissional com um maior diálogo entre diferentes áreas de formação, tendo como resultado o desenvolvimento de um entendimento ampliado do processo saúde-doença e das necessidades de saúde da população. Os atravessamentos e composições do trabalho em saúde. Ao falarmos dos processos de trabalho na saúde também devemos problematizar sobre os atravessamentos políticos, subjetivos e institucionais que a produção de saúde recebe. Como se dá a produção em saúde tendo como principal ator para sua concretização a figura do trabalhador? O trabalho em saúde, assim como outras formas de trabalho, está imerso na lógica do capitalismo contemporâneo. Esta lógica utiliza de novas formas de exploração, passando pelos processos de produção de subjetividade, na mistura de tempo de vida e tempo de trabalho. Desse modo, há a captura da dimensão subjetiva do trabalho, que é definida como trabalho imaterial (COCCO, 2013). Uma característica do trabalho imaterial é a dimensão afetiva de relações. Nesse sentindo, Hardt (2003) define o trabalho que envolve a interação e contatos entre pessoas como um trabalho imaterial afetivo. Os produtos deste tipo de trabalho são intangíveis, ocorrendo a presença afetiva e a criação e/ou manipulação de afetos. O próprio trabalho na saúde é um exemplo: há a interação e comunicação humana, resultando em elementos não concretos e mensuráveis, como um sentimento de cuidado e de bem-estar. Nesse sentindo, o trabalho dos profissionais de saúde são trabalhos afetivos imateriais, em que os afetos, sentimentos e a interação entre sujeitos se fazem presente, estabelecendo uma complexa relação entre a equipe de saúde e os usuários/pacientes. O trabalho afetivo é uma estratégia de produção de lucros e sustentação do sistema capitalista vigente (HARDT, 2003). Mas por outro lado, a produção de afetos, de subjetividades, e de formas de vida que o trabalho afetivo possibilita, podem ser elementos potenciais para a libertação e produções que escapem a esta captura. Ao contextualizar esta discussão, é possível identificar em diversos espaços de saúde o atravessamento e a captura de trabalhos afetivos. Lugares em que a saúde é percebida apenas como um bem de consumo, um produto a ser vendido e consumido. Esta concepção desconsidera o aspecto relacional deste tipo de labor, sustentado a relação hierárquica e distante entre trabalhadores, e entre trabalhadores e usuários. Em suma, há produção de saúde envolvida por afetos endurecidos e descolados de sentido e cuidado. Por outro lado, é possível identificar, nesses mesmos espaços e compondo a realidade do serviço de saúde, movimentos que escapam às amarras de uma produção de saúde pautada apenas na lógica produtivista. Há diversos atos, singelos ou mais representativos, da produção de uma saúde envolvida por subjetivações criativas de cuidado, de relações simétricas e de respeito ao usuário. Práticas que reinventam e resistem ao sistema duro e frio da saúde enquanto objeto. Considerações finais: O trabalho na saúde pública é envolvido pelo constante desafio aos trabalhadores, e justamente por isso, é a possibilidade da criação e reinvenção das práticas.  O diálogo e a reflexão da experiência do trabalho na saúde e de seus desafios são estratégias fundamentais para a ressignificação de práticas e ações. Indo ao encontro a essas concepções, o fortalecimento deste modo de perceber e agir no trabalho em saúde é a proposta da EPS, principalmente nas Residências em Saúde, sendo importantes agenciadores de mudanças que considerem a complexidade do encontro afetivo com o/os outro/outros possíveis, bem como, a dimensão subjetiva e os atravessamentos de ordem institucional nos espaços de produção de saúde.

Palavras-chave


trabalho na saúde; residência em saúde; educação permanente na saúde

Referências


BRASIL. MINISTÉRIO da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Políticas de Formação e Desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde. p.1-21, 2003. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pol_formacao_desenv.pdf>. Acesso em: 06 dez. 2014.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Residência Multiprofissional em Saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/residencia_multiprofissional.pdf> Acesso em: 24 jan. 2015.

CAMPOS, Gastão Wagner de Souza. Saúde Paidéia. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2007.

COCCO, Giuseppe. Introdução à 2° edição. In: LAZZARATO, Maurizio; NEGRI, Antonio.  Trabalho Imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. 2°ed. Editora Lamparina, 2013, p. 7-31.

HARDT, Michael. O trabalho afetivo. In: PELBART, Peter Pál; COSTA. Rogério da. (Org.). Cadernos de Subjetividade: o reencamento do concreto. Editora HUCITEC. São Paulo, 2003.

RESIDÊNCIA multiprofissional. [S.I, 2014?]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12501&Itemid=86>. Acesso em: 18 out. 2014. Informação postada no Portal do Ministério da Educação no hiperlink Residência Multiprofissional.