Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Participação Social: Conferência Livre da Parteiras em Comunidade Quilombola
Rogério Andrade dos Santos

Última alteração: 2015-11-04

Resumo


Exercendo Participação Social, o Movimento Popular de Saúde de Sergipe (MOPS-SE) mobilizou juventudes, movimento LGBT e mulheres parteiras de comunidades quilombolas a organizar conferências livres para, discutindo suas especificidades, fortalecer as políticas de equidade no SUS. Este trabalho pretende refletir as contribuições da Conferência Livre das Parteiras no Quilombola Serra da Guia, em Poço Redondo - SE à construção de um SUS cada vez mais equânime e à formação em saúde, tanto pela militância popular, quanto pelo espaço deliberativo das Conferências Públicas. Participaram da conferência alunos e professores de cursos de saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), membros do MOPS-SE, técnicos da Secretaria Estadual de Assistência Social, moradores e parteiras do próprio e de outros quilombolas de Sergipe. Umas das parteiras, também rezadeira, iniciou a conferência com oração e aspersão de água com um ramo de planta, seguida de muita “cantoria” e danças para confraternizar com o povo quilombola e visitantes presentes. As discussões consistiram em reflexões de seus modos de vida, produção e adoecimento; uso das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), o ofício de parteira e outras formas de cuidados que os caracterizam; e a reflexão sobre mediação de conflitos nas comunidades evitando violência. O modo de vida e de produção da maioria dos quilombolas assemelha-se bastante, em moradia, práticas agrícolas, alimentação, cultura, trabalho, artesanato e relação com o SUS. As formas de adoecimento tornam-se também semelhantes entre si, portanto específicas deste povo, especificando também as forma de cuidar em saúde, partindo sempre da ancestralidade nos tratamentos com PICS, ervas medicinais, rezas, novenas, promessas, preservação do ofício de parteiras e defesa do parto normal, ilustrado por um caso presente de grávida com cesariana marcada pela posição do bebê, que procurou a parteira do Serra da Guia que, massageando sua barriga, colocou o bebê em posição de nascimento, provocando o parto normal no dia seguinte. Tais conhecimentos a habilitaram a ministrar minicursos e oficinas pela UFS para formação de doulas e complementar formação de estudantes no cuidado a gestante e puérperas. A mediação de conflitos nos quilombolas acontecia, no passado, por duelos de “cantorias”, samba de coco e danças de rodas, que os unia como uma família, por isso apontaram fortalecer a cultura como meio de unificar as várias as famílias da comunidade em uma única família pela cultura ancestral a todos, fortalecendo o poder de mediar conflito pelo valor que terá para as partes envolvidas. Como resultado, esta experiência despertou militância popular nos alunos ao discutir saberes acadêmicos e populares, evitando que o acadêmico imponha-se desemponderando as comunidades de seus saberes; preparou às comunidades para o protagonismo nas conferência municipais, elegendo delegados quilombolas em dois municípios de Sergipe; propiciou entender o valor das PICS, principalmente as práticas ancestrais de cada comunidade tradicional, reafirmando a importância do parto natural e do ofício de "parteira" como exercícios da autonomia do sujeito e da comunidade sobre sua saúde; e apresentou a cultura como forma de unificar a comunidade.

Palavras-chave


participação social; conferência livre; parteiras quilombolas