Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O OUTRO LADO DA PORTA GIRATÓRIA: APOIO COMUNITÁRIO NA PERCEPÇÃO DE USUÁRIOS INTERNADOS EM UMA UNIDADE PSIQUIÁTRICA
Luisa Horn de Castro Silveira, Cristianne Famer Rocha

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


Apresentação: A temática desse estudo emerge da prática cotidiana do trabalho em uma unidade psiquiátrica, durante o primeiro ano da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). A Reforma Psiquiátrica tem como princípio fundamental o cuidado em liberdade e prevê a internação breve em hospital geral quando esgotados os recursos extra-hospitalares. Tendo isso em vista, as frequentes reinternações em unidades psiquiátricas merecem um olhar atento dos profissionais de saúde para a melhor compreensão desse fenômeno e suas causas. Falar de apoio comunitário na percepção de portadores de sofrimento psíquico reforça uma ideia ampliada de saúde mental – preconizada pelas políticas públicas atuais –, analisando elementos do meio social e do modo de vida dos sujeitos e investigando se isso relaciona-se de alguma forma com o agravo dos sintomas, ou se existem fatores que afetam positivamente a saúde mental das pessoas entrevistadas. O objetivo desse estudo foi analisar a percepção sobre apoio comunitário em usuários com alto número de internações e comparar com a de usuários de primeira internação, na unidade psiquiátrica de um hospital geral de Porto Alegre. Método: Foi realizada uma entrevista semiestruturada com usuários com mais de cinco internações durante a vida e com usuários que estão em sua primeira internação psiquiátrica, abordando aspectos da sua vida em comunidade: relação com a vizinhança, identificação com o bairro, estrutura urbana, vínculo com os serviços territoriais de saúde, entre outros. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa. Os dados foram analisados a partir do proposto por Bardin (2004) em sua análise de conteúdo. Resultados: A comunidade é uma fonte de relações de apoio e ajuda em situações de crise. É possível perceber sentimentos de identificação e pertença em relação ao bairro na fala de ambos os grupos, porém, fica evidente que os usuários com maior número de internações vivem as relações comunitárias com certo afastamento e vínculos mais superficiais. A família, nesses casos, acaba por assumir o lugar dessas relações mais amplas, tornando-se fonte única de suporte para essas pessoas, o que aumenta a sobrecarga desses cuidadores. Esse desgaste pode ser uma das razões pela alta procura pelo internamento dos usuários recidivistas, que acabam estabelecendo um vínculo forte com o hospital, que ganha um status muitas vezes idealizado na vida desses sujeitos. Há um distanciamento maior dos usuários com múltiplas internações dos serviços de atenção básica, indicando que o cuidado em saúde mental é entendido pelos usuários como papel dos serviços especializados. Considerações finais: Os usuários com múltiplas internações psiquiátricas têm maior tendência ao isolamento, restringindo-se ao universo familiar e buscando menos apoio na rede comunitária. Além disso, os serviços territoriais ainda parecem pouco procurados em situações em que há sofrimento psíquico. Existe, portanto, uma necessidade de fomentar e potencializar as fontes de apoio formais e informais do território dos usuários, resgatando vínculos e retomando hábitos da vida em comunidade, aumentando a sensação de pertença a uma estrutura mais ampla.

Referências


BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.