Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
SAÚDE OCUPACIONAL: PARAMETROS DA SAÚDE MENTAL DOS POLICIAIS CIVIS DO MATO GROSSO DO SUL
Ana Alice Brites de BARROS, Dâmaris de Oliveira Antunes
Última alteração: 2016-01-12
Resumo
RESUMO: Dada a influência que o trabalho exerce no cotidiano do indivíduo e consequentemente na saúde mental dos trabalhadores, o presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência da Síndrome de Burnout nos Policiais Civis do Mato Grosso do Sul. Em uma amostra de n=180 servidores foram aplicados os seguintes instrumentos (i) Questionário sociodemográfico e (ii) Maslach Burnout Inventory- MBI (MASLACH, 1988), validado por Tamayo e Tróccoli (2009). Os resultados evidenciaram uma baixa exaustão emocional e despersonalização, entretanto, uma preocupante baixa realização pessoal dos trabalhadores. Este último dado merece ser destacado, uma vez que o modelo teórico de Maslach utilizado nesse estudo descreve a síndrome de Burnout como um processo em que a exaustão emocional é a dimensão precursora da síndrome, sendo seguida por despersonalização e, na sequência, pelo sentimento de baixa realização pessoal. Neste sentido, recomenda-se que a instituição amplie seus programas de prevenção e promoção da saúde mental no trabalho. INTRODUÇÃO: Entre os transtornos mentais relacionados ao trabalho reconhecidos no Brasil, destaca-se neste trabalho, a Síndrome de Burnout, identificada como "Sensação de Estar Acabado" ("Síndrome de Burn-out", "Síndrome do esgotamento profissional") (Z 73.0). A intensificação da violência exige políticas mais eficazes de segurança pública, que podem acarretar sobrecarga física e emocional aos indivíduos que trabalham no setor (Souza et al., 2007). Andrade, Souza e Minayo (2009), apontam que o trabalho dos policiais situa-se no campo dos serviços públicos atuando como agente repressor da criminalidade, garantindo a ordem, e convivendo com a violência que se exerce sobre eles. Souza, Franco, Meireles, Ferreira e Santos (2007) acrescentam que os policiais, além de lidar com a pressão da sociedade para que a atividade policial seja eficiente, as precárias condições de trabalho interferem no desempenho desses profissionais, gerando desgaste, insatisfação e provocando estresse e sofrimento psíquico, com sérias repercussões na saúde física e mental do trabalhador. Guimarães et al. (2014) sinalizam que há duas variáveis que envolvem o trabalho do policial: o perigo e a autoridade. Tal combinação deixaria o policial em constante pressão pela eficiência. Um comportamento contínuo de insegurança poderia ser gerado pela presença do perigo causando isolamento do indivíduo, de outros segmentos sociais. Porém, para Gasparetto (1998), a atividade policial moderna exige do profissional o constante aperfeiçoamento das relações públicas e interpessoais, a fim de permitir a interação com a comunidade, sem que, contudo, perca a energia e a autoridade que devem emanar, naturalmente, de sua personalidade. MÉTODO E INSTRUMENTOS: Neste contexto, a presente pesquisa teve o objetivo de investigar a prevalência da Síndrome de Burnout nos policiais Civis de Mato Grosso do Sul-MS, participantes do curso de especialização promovido pela Academia de Polícia Civil. A amostra foi composta por conveniência, dadas as características desse tipo de trabalho, totalizando 180 participantes. Para realização da pesquisa foram utilizados (i) o Questionário sociodemográfico e ocupacional (QSDO), adaptado para a realidade da instituição e composto por questões abertas e fechadas e (ii) o Inventário de Burnout de Maslach - Maslach Burnout Inventory - MBI (MASLACH, 1988), validado para uso no Brasil por Tamayo e Tróccoli (2009) que avalia os sentimentos e atitudes do profissional em seu trabalho, nas seguintes dimensões: Exaustão Emocional, Despersonalização e Realização Pessoal. O inventário contém 20 itens numa escala de pontuação tipo likertde 1 a 5, sendo 1 para "nunca", 2 para "raramente", 3 para "algumas vezes", 4 para indicar "frequentemente" e 5 para "sempre". A análise dos dados estatísticos foi realizada através do software estatístico Statistic Package for the Social Sciences - SPSS. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em relação aos dados sociodemográficos, foi possível verificar que a amostra constituiu-se, principalmente, por indivíduos do sexo masculino (81,1%), com idade inferior a 40 anos, casados (75%) e com ensino superior completo (52,2%). No que se refere aos resultados da avaliação das dimensões do Burnout, verifica-se que 92,8% dos policiais apresentaram baixo nível de Despersonalização, 82,8% mostraram baixo nível de Exaustão Emocional e foram identificados 61,7% que percebem baixo nível de Realização Pessoal no Trabalho. Resultado semelhante foi identificado em estudos realizados por e Carlotto e Palazzo (2006). Ressalta-se o alto percentual de baixa realização pessoal dos participantes, situação que pode indicar a possibilidade da síndrome de Burnout encontrar-se em curso, uma vez que o modelo teórico de Maslach utilizado nesse estudo descreve a Síndrome de Burnout como um processo em que a exaustão emocional é a dimensão precursora da síndrome, sendo seguida por despersonalização e, na sequência, pelo sentimento de baixa realização pessoal. Na diminuição da realização pessoal no trabalho o indivíduo autoavalia-se de forma negativa, sentindo-se infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional, experimentando um declínio no sentimento de competência e êxito no seu trabalho e da capacidade de interagir com as pessoas (Guimarães & Cardoso, 2004). Em estudo realizado por Mayer (2006) com policiais militares foi identificado resultado semelhante, com alto nível de baixa realização pessoal. De acordo com a autora tal resultado remete à necessidade do desenvolvimento de ações preventivas e interventivas. Os resultados obtidos com relação aos índices de Burnout confirmam a primeira hipótese do estudo – a de que os Policiais Civis apresentariam Burnout. Neste grupo, verificamos, considerando o total da amostra, 1,1% dos Policiais apresentaram sintomas da síndrome em seu estado crônico, em grande maioria (80,6%), os índices são satisfatórios e mostram a ausência da síndrome, no entanto 9,4% dos avaliados não responderam. Apesar disso, vemos que 8,9% apresentam o Burnout em curso, o que é considerável um nível alarmante e indica a necessidade de intervenção com esse público. Tendo em vista as constantes pressões as quais o policial está exposto, as dificuldades enfrentadas pela realidade desta profissão, torna-se relevante o estudo acerca da qualidade de vida do policial civil para que se crie possibilidades de avanço na promoção da qualidade de vida e saúde mental destes profissionais. Os conteúdos coletados contribuirão para promover ações que auxiliem o manejo da Saúde Mental e a Qualidade de Vida desses policiais. Dessa forma, ainda é possível uma ação preventiva por parte da organização policial. Tal ação poderia incluir: 1) a aplicação de um efetivo programa de diagnóstico, orientação e controle do estresse, bem como de identificação dos eventos estressores, presentes no dia a dia dos policiais, através de check-up médico e psicológico anual; 2) a implementação de um programa de atividade física, esporte, ioga e lazer; 3) a construção ou recuperação de espaços adequados a essas práticas; e 4) o aumento do número de policiais, a fim de evitar a sobrecarga de trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A análise dos resultados permite concluir que casos de Burnout vem ocorrendo entre Policiais Civis de Mato Grosso do Sul. A sintomatologia de Burnout manifesta-se, principalmente, por meio de sintomas psicológicos, com baixos níveis de sintomas físicos e com predominância na Baixa Realização Pessoal. A satisfação dos trabalhadores já é vista pelos empresários como um dos principais responsáveis pelo sucesso de qualquer negócio e, dado que o funcionário satisfeito e motivado possui maiores índices de produtividade, menor índice de absenteísmo e carrega os valores da empresa consigo. Esta questão passa pela qualidade de vida dos trabalhadores. É notória a necessidade do Psicólogo da Saúde Ocupacional tenha treinamento clínico para trabalhar também no aconselhamento e auxílio ao trabalhador; tendo em vista seu papel em saúde ocupacional ou outros programas da saúde melhorando suas habilidades e desempenho em projetos para detectar e tratar o estresse e os transtornos psicológicos de origem ocupacional; atuando no treinamento organizacional para que possa compreender os dados epidemiológicos em saúde e segurança ocupacional, utilizando seus recursos interpretação de aspectos psicossociais dos mesmos. Entretanto, com as constantes mudanças nas relações de trabalho que assolam as sociedades industriais torna-se cada vez mais difícil precisar quais aspectos do trabalho, das demandas psicológicas, das categorias ocupacionais ou das relações sociais apresentam maior risco à saúde do trabalhador, fazendo com que o esclarecimento desses e de outros aspectos e as suas implicações sejam um importante desafio a ser enfrentado pelos futuros pesquisadores, especialmente em estudos e na fase diagnóstica dando devida atenção ao nexo causal. Do ponto de vista o aproveitamento da pesquisa, foi possível aproximar o acadêmico da atuação profissional sendo de grande valia para carreira acadêmica. O contato com as ferramentas de investigação de aspectos psicossociais fornece subsídios técnicos para uma produção acadêmica os interesses voltados para área da Saúde Ocupacional. Além disso, devem ser realizados estudos longitudinais, nos quais sejam utilizados instrumentos de pesquisa específicos para essa população, com o objetivo de propiciar maior conhecimento sobre o estresse no ambiente organizacional e, principalmente, para identificar os elementos estressores. Finalmente, trabalhos como o presente devem ser repetidos em outras corporações policiais brasileiras, para permitir uma comparação entre os resultados obtidos, a qual poderá confirmar, ampliar ou mesmo refutar os achados deste estudo. É de suma importância, a participação ativa em discussões que visem promover ações de prevenção e promoção da saúde do trabalhador, uma vez que se assume o compromisso com a qualidade da prestação de serviço, zelando pela Segurança Pública.
Palavras-chave
Saúde Mental e Trabalho; Síndrome de Burnout; Psicologia.
Referências
REFERÊNCIAS
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