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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA INTERVENÇÃO NO HIPERDIA
Última alteração: 2015-11-02
Resumo
Este trabalho faz parte do projeto de extensão: Acompanhamento e apoio técnico ao Programa Nacional de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ- AB) que está sendo realizado pelos alunos do último ano do curso de psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no estágio Supervisionado em Psicologia Social e Comunitária. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e a Diabetes Mellitus (DM) são doenças que acometem grande parte da população brasileira e se não forem tratadas precocemente podem gerar agravos e invalidez (Ministério da Saúde, 2002). Diante disso, este trabalho tem como proposta analisar e intervir no HiperDia: programa do Ministério da Saúde que tem por objetivo acompanhar e monitorar os usuários com HAS e DM na Atenção Básica. A intervenção começou no período de março de 2015, inicialmente com observações a respeito do funcionamento do programa e a partir disso, desenvolveram-se estratégias com o intuito de melhorar a assistência. A Atenção Básica tem como uma de suas responsabilidades a prevenção de agravos, sendo HAS e DM pré-condições para doenças mais graves, como por exemplo: Acidente Vascular Cerebral e Insuficiência Renal, dentre outras (SOUZA e GOMES, 2015). O programa HiperDia tem por intuito promover a prevenção e orientar os cuidados que os pacientes devem tomar a fim de evitar agravos das doenças e para garantir uma melhor qualidade de vida. Devida a essa demanda, esse trabalho foi realizado com uma equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) de um bairro da periferia de Dourados (MS), na qual o programa acontece em duas igrejas próximas a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro, atendendo toda a população que mora nos arredores, por volta de 7 bairros que são divididos em micro áreas. Semanalmente é realizado o HiperDia abrangendo uma região e cada Agente Comunitária de Saúde (ACS) é responsável por uma microárea e por fazer o convite às famílias que possuem hipertensos e diabéticos. O programa acontece nas quintas-feiras no período matutino. Nos encontros observados, foi notado que os pacientes chegam bem cedo e pegam uma senha, para que a triagem seja feita por ordem de chegada. Também notou-se que a adesão da população é positiva e sempre participam por volta de 30 ou mais pessoas. Diante disso esta pesquisa faz-se necessária para analisar o que tem sido feito nesses encontros e observar se eles têm apresentado resultados eficazes, como por exemplo: diminuição dos índices de hipertensão, diabetes e seus agravos. Este relato caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, na qual o ambiente é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave (GIL, 2006), nesse caso foi realizada a observação do cotidiano do HiperDia, das atividades realizadas que possuíam resultados positivos e também observar os desafios encontrados pela equipe. A partir disso, foi traçada uma estratégia de colaboração com o programa, realizando atividades que possam trazer melhorias para a saúde da população. Após esse período de observação, notou-se que o programa, apesar de ter boa adesão da população não possuía nenhuma atividade que envolvessem os pacientes. Em alguns programas eram realizadas palestras com temas de prevenção, saúde bucal e realização de exercícios físicos, mas nem sempre surtiam resultados, pois mesmo assim, os pacientes apresentavam índices elevados de HAS e DM. Durante a realização do programa, foi notada a necessidade de um espaço para que fossem ouvidas as queixas trazidas pelos pacientes, investigar a história de vida deles, saber a quanto tempo é hipertenso ou diabético, o que faz para melhorar ou controlar a enfermidade. Para isso, a estratégia pensada foi então de promover uma roda de conversa com os participantes em parceria com a equipe da ESF, com o objetivo de escutar a população e promover uma troca de informações, valorizando o saber popular. No programa eram realizadas apenas a triagem pelo enfermeiro com o auxílio das ACS’s, realizando os processos de: aferição de pressão arterial, controle de glicemia, medida de circunferência abdominal, peso e altura, algumas consultas médicas e troca de receitas. Então com a sugestão das rodas de conversas exposta para o enfermeiro chefe e a equipe, foram observadas algumas mudanças. No mês de agosto de 2015 iniciaram-se as rodas de conversa, sendo realizadas pelas estagiárias com o apoio da equipe da EFS, e foi possível perceber que nessas rodas os pacientes expõem suas angústias, trocam informações sobre medicamentos, fornecem dicas para melhorar a saúde e esse momento proporciona o diálogo da comunidade que muitas vezes só assistia passivamente o programa. As rodas de conversa acontecem após a triagem, antes de passarem pela consulta médica, é um momento de espera que passou a ter utilidade, pois muitas vezes as pessoas se queixavam da demora pela consulta. Então, a roda de conversa está preenchendo esse momento de maneira produtiva promovendo oportunidades para as pessoas conhecerem-se, ouvirem os outros usuários e a comunidade. Nesses momentos é perguntado aos pacientes há quanto tempo residem no bairro e se conhecem todos que frequentam o programa, alguns começam a contar as experiências que fizeram e os auxiliaram a melhorar a qualidade de vida. São passadas informações sobre grupos de caminhada que um paciente conhece então pode compartilhar com os demais, dentre outras informações. É possível também durante a roda de conversa promover a vinculação do paciente com a equipe, pois torna-se um momento em que o paciente sente-se valorizado, pois são levados em consideração as suas opiniões e o conhecimento que ele possui e pode passar adiante, em alguns casos as pessoas começam a contar as suas dificuldades diárias e aqueles que compartilham de situações semelhantes podem ajudar uns aos outros. Além de continuar o procedimento padrão de controle das HAS e DM, consulta médica, troca de receitas, o programa possui um diferencial que proporciona um encontro de promoção de saúde entre a população que leva em consideração o saber popular e o aumento do conhecimento dos serviços da rede. Com o intuito de contribuir com o HiperDia, esta pesquisa faz-se necessária para mostrar que algumas técnicas de intervenção podem contribuir para promover uma melhor qualidade de vida. Essas pessoas podem conviver com essas doenças por muito tempo sem possuírem agravamentos em relação às pessoas que não procuram esse tipo de cuidado. Por fim, espero que essa pesquisa intervenção sirva para contribuir com os trabalhadores de saúde que procuram estratégias para melhorar a qualidade de programas do SUS.
Palavras-chave
Saúde, Prevenção, Intervenção.
Referências
BRASIL, Ministério da Saúde. Plano de Reorganização da Atenção Básica à Hipertensão arterial e do Diabetes mellitus: Manual de hipertensão arterial e diabetes mellitus/ Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. p. 07-89.
GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
SOUZA e GOMES LT, GRACIANO MMC, TERRA e SOUZA LH et al. Avaliação da atenção primária aos hipertensos cadastrados no HiperDia. Revenferm UFPE online.Recife, 9(4):7347-56, abr., 2015