Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ATENÇÃO INTEGRAL A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: IDENTIFICANDO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM SAÚDE A INSERÇÃO DE CONTEÚDOS
Maíra Cássia Borges de Oliveira, Daiana Kloh, Carine Vendruscolo

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Apresentação: Hegemonicamente, os processos de formação na área da saúde, por estarem fundamentados em modelo disciplinar centrado no conceito biomédico de saúde, remetem aos discentes e docentes pensarem na doença em sua dimensão biológica, tendo o cuidado fundamentado em medidas terapêuticas aplicáveis na patologia em questão. Esse tipo de formação reduz as outras dimensões do processo de conhecimento, as quais permitem configurar o exercício profissional como uma prática mediada por visões de mundo, intencionalidade e contradições. A abordagem da integralidade do cuidado na formação em saúde exige uma compreensão do ensino como um processo construído por docentes, discentes, profissionais de serviço e a comunidade, que se movimentam e atuam como sujeitos. Na condição de protagonistas, estes determinam as práticas de saúde, de educação e de controle social, e definem as estratégias que sustentam o modelo de ensino. O currículo das universidades brasileiras tem demonstrado inadequações em seu conteúdo e práticas pedagógicas para o exercício de atividades que envolvem a pluralidade das necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), o que inclui a temática sobre a violência. A violência doméstica representa toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. Pode ser cometida dentro e fora do lar, por qualquer um que mantenha uma relação de poder com a pessoa agredida, incluindo aqueles que exercem a função de pai ou mãe, mesmo sem laços de sangue. A maior parte dos casos de violência acontece em casa, afetando, sobretudo mulheres, crianças e idosos. Estima-se que, em todo o mundo, pelo menos uma em cada três mulheres já foi espancada, coagida ao sexo ou sofreu alguma outra forma de abuso durante a vida, sendo que o companheiro apresenta-se como o agressor mais comum. Objetivo: Identificar nos Planos Político-Pedagógicos (PPP) das Universidades Federais de Santa Catarina a inserção de conteúdo sobre violência como forma de instrumentalização dos profissionais da área da saúde. Os cursos elencados para a investigação foram os de Enfermagem e Medicina, sendo estes os profissionais que mais entram em contato com vítimas de violência. O Projeto Político-Pedagógico (PPP) tem sido objeto de estudos e debates entre os educadores. Sua finalidade é definir estratégias pedagógicas, tendo como previsão o que se deseja transformar, tanto no que se refere à concepções teóricas ou práticas, voltando-se para a operacionalização das metas da escola, para que os alunos possam ser preparados para o mundo em que vivem, interpretando e pensando a realidade como um todo, capazes de criticar e desenvolver expectativas e projetos em relação à sociedade. A partir dessas considerações surgem as inquietações sobre os motivos pelos quais é insuficientemente abordado o tema violência doméstica, no âmbito de alguns cursos da área da saúde, sendo essas as profissões que mais atuam em situações de violência no processo laboral. Acredita-se que a formação integral de profissionais da área da saúde compreende saberes, habilidades e competências específicas frente à situações que envolvam vítimas de violência doméstica. Metodologia: Este estudo consiste em uma pesquisa documental, de natureza qualitativa, visando analisar como a formação acadêmica em enfermagem e medicina está preparando os acadêmicos para atuarem em situações de violência doméstica. A fonte de informações são os PPP das Universidades Federais de Santa Catarina, quais sejam Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Federal da Fronteira Sul. Foi escolhido este estado devido ao número de Universidades Federais existentes, com os cursos de graduação da área da saúde que foram pesquisados. Os critérios de inclusão das universidades são os seguintes: a) ser universidade federal do estado; b) ter pelo menos um dos dois cursos a serem pesquisados a partir dos PPP. Os PPP foram pesquisados online, nos sites das universidades, verificando se estão dispostos de forma integral. O instrumento utilizado para a pesquisa foi o PPP vigente e mais atual dos cursos de graduação em Enfermagem e Medicina das Instituições de Ensino Superior (IES) selecionadas. Resultados e Discussão: Ao analisar o perfil das escolas e relacionar os conteúdos ministrados com a temática de violência doméstica, percebe-se o quanto as mesmas devem ser voltadas para a realidade atual da sociedade. Soma-se ao exposto que as disciplinas que trabalham a temática violência abordam timidamente o que é a violência, quais suas causas, os tipos de violência que são sofridas, seus sinais e sintomas, atitude dos profissionais a serem tomadas frente a situações que abordam esta temática, as redes de atendimento existentes, como denunciar as ocorrências e as leis que amparam as vítimas. Nesse contexto é de suma importância que durante a graduação de enfermeiros e médicos os acadêmicos estejam cientes sobre as políticas públicas existentes com conhecimento sobre as leis que regulamentam estes atendimentos e identifiquem o papel destes profissionais da área da saúde no atendimento das vítimas. Considerações Finais: Espera-se com este trabalhado resgatar a importância desse tema e sensibilizar uma readequação do ensino na graduação em enfermagem e medicina, de modo que os futuros profissionais estejam preparados para agir de maneira apropriada, qualificada em momentos críticos e situações difíceis, com equilíbrio para tomar decisões, objetivando um atendimento integral e a redução de mortalidade da população. Além disso espera-se uma maior adequação nos PPP que levem em consideração a inclusão de um novo cenário a nossa realidade: o crescente número de casos de violência e a grande demanda por serviços de saúde, que nos últimos anos só aumentou.

Palavras-chave


Formação em Saúde; Violência doméstica; Integralidade em saúde.

Referências


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