Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
POTENCIALIDADES DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Robéria Mandú da Silva Siqueira, Any Karoliny Macena Samudio, Edivania Anacleto Pinheiro, Eliza Farias Sampaio, Fabiana Martins de Paula
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Introdução: A educação popular em saúde reconhece que os saberes são construídos diferentemente. Assim, por meio da interação entre sujeitos é possível que se tornem comuns ao serem compartilhados (GONÇALVES et al., 2008). Para que a comunidade comece a envolver-se como interlocutora é necessário que “as mensagens não lhe sejam alheias ou estranhas, mas que as sinta suas, que se reconheça nelas” (IPEA, IPLAN, 1989). São descritos dois modelos de educação em saúde, o primeiro diz respeito ao modelo tradicional onde as escolhas consideradas saudáveis pelos profissionais da saúde são propostas como as únicas opções possíveis e disponíveis aos indivíduos. Enquanto o segundo é o modelo radical, diz respeito à busca do fortalecimento da consciência crítica das pessoas, transferindo o foco das ações educativas para um investimento no potencial dos grupos sociais. (SOUZA et al., 2005). Para Rigon (2011) a prática de educação em saúde no dia a dia do contexto hospitalar é reconhecida pelas enfermeiras por meio de orientações, nos cuidados diários, nas orientações para a alta hospitalar, preparando para a continuidade do cuidado em casa. Também consideram o conhecimento como a base para a sua atuação, seguido por competência, responsabilidade, dedicação e comprometimento. Apesar das enfermeiras desejarem realizar a educação em saúde, nem sempre conseguem fazer devido a diversos fatores, dentre os quais, destacaram a dificuldade de lidar com culturas diferentes, a falta de pessoal e a falta de disponibilidade e de comprometimento da equipe como um todo. Segundo Colome e Oliveira (2012) além dos enfermeiros, que desde a formação são instigados a desenvolver a educação em saúde, outros representantes das profissões da saúde foram considerados como agentes autorizados a planejar, coordenar e desenvolver ações educativas em saúde. No entanto, para outros profissionais contrapondo-se aos tradicionalistas, fazer a educação em saúde não é prerrogativa apenas dos profissionais da saúde e que essa prática se configura como um campo de parceria entre profissionais da saúde, profissionais de outras áreas e membros da comunidade, assim, sendo um campo ampliado e intersetorial. Descrição da experiência: A Residência Multiprofissional do Hospital São Julião/Campo Grande/MS, Brasil, tem o objetivo de desenvolver a pós-graduação unindo ensino, pesquisa e serviço na reabilitação ao idoso, contempla os profissionais da Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Serviço Social e Psicologia. Foi-nos apresentado a Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI), tendo como premissa a presença de cuidador/família. O cuidador/família é treinado e capacitado para o ato de cuidar em domicílio. Uma vez na semana acontece a reunião entre equipe de saúde e cuidadores, sendo que cada reunião é ministrada por um profissional da saúde, trabalhando com temas que podem surgir dos próprios cuidadores como uma demanda espontânea ou de necessidades levantadas pelos profissionais. Os temas podem abranger tanto cuidados com o paciente quanto o autocuidado, uma vez que para cuidar é preciso preocupar-se consigo mesmo. A forma de abordar os temas contempla o saber compartilhado, onde os profissionais não são os detentores do saber, mas trazem a reflexão sobre a problemática levantada. Após a roda de conversa entre profissional da saúde e cuidadores é feita uma abordagem utilizando vídeos, grupos de debates, dinâmicas, folders e discussões sobre os temas de forma diversa, ao final abre o espaço para que coloquem as suas considerações sobre a reunião e possam solicitar o tema da próxima, que será ministrada por outra área profissional. Impactos: Considera-se que ao realizar a educação em saúde é possível o empoderamento do indivíduo para o ato de cuidar do outro ou praticar o autocuidado, assim o cuidador/família refletirá sobre o seu hábito de vida e por meio da reflexão crítica e apoio profissional terá a capacidade para incorporar hábitos mais saudáveis. Uma comunidade que esteja consciente da sua situação de saúde e instrumentalizada para melhorar a prática de vida pode reduzir as morbidades crônico-degenerativas que crescem cada vez mais na sociedade contemporânea. Além disso, o fato de instrumentalizar a família para o ato de cuidar do individuo é de extrema importância, uma vez que a mesma encontra-se em situação de despreparo para lidar com conflitos do cuidar e do ser cuidado, isso é expresso na reunião com muita frequência. É notória a diferença entre o cuidador que esteve há mais tempo na reabilitação e assim já presenciou várias reuniões e os que estão iniciando, proporcionando troca de saberes entre os mesmos. Apesar de se falar em educação em saúde na Atenção Primária é extremamente importante que a Atenção Secundária também se aproprie da mesma, pois é nesse momento que o individuo e a família necessitam de atenção quanto às medidas de prevenção primária, secundária e de maiores complicações, e também que possam construir uma reflexão sobre a sua vida e sobre as mudanças cabíveis em curto, médio e longo prazo. Com cuidadores/família mais conscientes da realidade e de como contribuir para a reabilitação a chance desses indivíduos retornarem aos atendimentos de níveis Secundários e Terciários é reduzida, assim a Atenção Primária pode continuar com o acompanhamento da atenção à saúde dispensada à família. Considerações finais: Por conseguinte, a educação em saúde pode ser realizada por diversos profissionais e tem um impacto que pode até não ser sentido de imediato, contudo durante os anos que se seguem é possível que as doenças crônicas degenerativas sejam reduzidas. É preciso a incorporação dos serviços de saúde, independentemente do nível de atenção na prática da educação em saúde dos indivíduos e famílias para o ato de cuidar e para o empoderar-se. A reunião com os cuidadores é uma prática que possibilita uma abordagem ampla e que contribui para auxiliar no processo de reabilitação e consequentemente melhorar a rede de atenção por contribuir para menos reinternações ocasionadas por práticas passíveis de prevenção. Na reabilitação é preciso que se capacite a família para o ato de cuidar e de estimular, assim essa prática de educação em saúde é indispensável no âmbito hospitalar. Como a prática de cuidar também gera um conflito interno de desgaste físico e mental, ter um ambiente que possibilite a expressão dos sentimentos, angústias, dúvidas e anseios do cuidador/família proporciona satisfação do mesmo, devido à redução da sua ansiedade que emerge do desconhecimento e da sensação de incapacidade perante à situação de invalidez do indivíduo que está sendo cuidado.
Referências
COLOMÉ, J. S.; OLIVEIRA, D. L. L. C. Educação em saúde: por quem e para quem? A visão de estudantes de graduação em enfermagem. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jan-Mar; 21(1): 177-84
GONÇALVES, M. C. et al. Educação permanente em saúde: dispositivo para a qualificação da Estratégia Saúde da Família. Belém: UFPA, 2008.
IPEA, IPLAN. Subsídios metodológicos para a prática da educação e participação em saneamento rural. Brasília:Ipea, 1989.
SOUZA, A.C.; et al. A educação em saúde com grupos na comunidade: uma estratégia facilitadora da promoção da saúde. Rev Gaúcha Enferm. 2005 Ago; 26(2):147-53.
RIGON, A. G. Ações educativas de enfermeiros no contexto de unidades de internação hospitalar. 2011. 125 f. [Dissertação] – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, RS, 2011.