Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Formação em Saúde Pública e sua relação com a Medicina de Família
João José Batista de Campos, Francisco Torres Gonsález, Manuel Gurpegui Fernández de Legaria, Arthur Vizzotto Zolin, Gabriela Cristine Queiroz Maria, Maria Soledad Quesada Muñoz

Última alteração: 2015-11-29

Resumo


O interesse em compreender as diferenças e semelhanças entre o sistema de saúde na Espanha e no Brasil, como um campo de conhecimento e formação educacional nesta área, reside no fato de que ambos os sistemas consideram a Atenção Primária à Saúde como a principal estratégia do sistema. No ano de 2014, o sistema nacional de saúde espanhol apresentava uma cobertura de 100% da população, sendo que 80% dos gastos em saúde era público, o que representava 7,6% do produto interno bruto (PIB). Deste total o gasto farmacêutico era em média 25% do total e desde o ano 2002 toda a gestão do sistema de saúde foi transferida para as Comunidades Autônomas, completando assim o processo de descentralização, que previa a constituição espanhola de 1978. A comparação do sistema de saúde espanhol deve ter em conta as dimensões dos dois países: enquanto a dimensão do Brasil corresponde a 17 vezes o território da Espanha com os seus 504.030 Km2, para uma população de 47 milhões de espanhóis, que é 4,3 vezes menor que a brasileira. É necessário também assinalar, que em termos de pirâmide populacional existe um grande envelhecimento da população espanhola. A Faculdade de Medicina da Universidade de Granada (UGR), com quase 500 anos de existência, incluiu no seu projeto pedagógico correspondente à nova formação curricular, induzida pelo processo de Bolonha, o internato médico de um ano na 6ª série, que começou a sua primeira oferta do que passou a se chamar de GRADO em setembro de 2015, mantendo ainda uma estrutura de ensino tradicional da 1ª à 5ª série. Analisar a educação médica na graduação no que corresponde à Saúde Pública, Medicina Preventiva e Atenção Primária, dentro do Currículo da Faculdade de Medicina da Universidade de Granada e sua relação com a Medicina de Família, na formação médica, dando especial importância à opinião dos estudantes, foi o objetivo desta investigação. Foram utilizados dados quantitativos, como uma estratégia de aproximação com a realidade e aprofundando a complexidade dos temas tratados e implicados, utilizando também a abordagem qualitativa, na percepção dos representantes eleitos dos estudantes de Medicina, de cada uma das seis séries do curso, dos principais professores da área de Saúde Pública envolvidos com o curso e com os gestores do curso de Medicina. As técnicas de investigação utilizadas foram as seguintes: grupo focal de discussão com os delegados dos estudantes de medicina, entrevistas semiestruturadas com os professores e gestores responsáveis pela graduação médica sobre a sua percepção sobre o currículo efetivamente executado e não apenas o prescrito no projeto pedagógico do grado de medicina. Todas as entrevistas e o grupo focal foram executados por um só entrevistador, em forma oral, gravada e transcrita por estudantes de medicina brasileiros, colaboradores desta investigação e uma estudante espanhola da 3ª série do curso de medicina da UGR. Com esta estratégia procuramos garantir uma maior validez dos dados coletados, uma vez que os problemas e limitações de um determinado método puderam ser compensados de alguma forma, com o uso de outros procedimentos investigativos, como a análise de documentos e inclusive através de conversas informais com alguns professores e estudantes do curso considerados como informantes chave. Os aspectos éticos e legais da pesquisa foram aprovados por parte do Comitê de Ética para análise de projetos de investigação do respectivo Centro de Estudos e os participantes firmaram o consentimento informado, depois de serem explicados os objetivos gerais do estudo e assegurada a confidencialidade de suas identidades. Impactos na visão dos protagonistas: os estudantes. A partir das opiniões dos estudantes recolhidas no grupo focal e em entrevistas de forma específica, pôde-se extrair os temas centrais que mais os preocupam em relação à formação médica em geral e em Medicina Familiar y Comunitária em particular. Destaca-se, a pouca motivação existente de grande parte do professorado, como se cita a continuação: “…hay profesores que dan la sensación de que están porque tienen que estar y no tienen ninguna motivación ni ninguna gana de formar ni a médicos ni a personas realmente. Van, imparten una clase y no se preocupan de si se ha entendido, si realmente se puede hacer de una forma más fácil de entender o tampoco entienden a veces cuando quieres transmitirles tu opinión como estudiante; es un trabajo más y no se esfuerzan por mejorarlo”. (Estudiante 8) Outro assunto que desperta grande interesse dos estudantes são as atividades práticas em relação a carga horária teórica, que desenvolvem durante o curso, que consideram insuficientes e não estão de acordo com o estipulado no Plano de Bolonha, segundo seus critérios, tal como se expõe na citação seguinte: “Hay asignaturas que se centran mucho en transmitirnos de forma teórica algo que se va a llevar a cabo de forma práctica, el sistema de enseñanza en este tipo de asignaturas no debería ser así y en lugar de tener más horas teóricas respecto a la práctica, se debería invertir: tener más horas de prácticas con respecto a la teoría. No podemos consentir que en una asignatura donde nos enseñan a relacionarnos con el paciente tengamos una práctica de una hora en toda la asignatura” (Estudiante 7) Para muitos estudantes na raiz de todos os conflitos que se apresentam esta a falta de adequação por parte das Faculdades de Medicina ao novo plano de estudos, à luz do Plano de Bolonha: “…la adecuación de las asignaturas al Plan Bolonia está íntimamente relacionado con el profesorado; nosotros tenemos asignaturas que no han cambiado prácticamente nada (ni la teoría, ni la práctica, ni la forma docente) de Licenciatura a Grado y son dos sistemas completamente distintos. Son dos sistemas que buscan, uno la evaluación final y otro la evaluación continuada; uno que busca la clase magistral frente al otro que promueve la participación del alumnado, el primero se centra en el profesor y el segundo en el alumno, entonces son dos sistemas que no se pueden igualar, realmente solo hemos tenido una asignatura que siga el Plan Bolonia.” (Estudiante 5) Os resultados apontam que para uma mudança real no processo de ensino e aprendizagem, são necessárias mudanças profundas de metodologias, aonde os estudantes venham a ter um papel mais ativo. Além disso, deve ser aumentada a importância da Medicina de Família, como disciplina acadêmica, e, portanto, a presença do referido campo de conhecimento e prática dentro da Universidade. Destacaram que a avaliação contínua do processo de educação permanente em saúde é um componente chave, para os ajustes necessários e a busca persistente de acumulação de poder técnico e político para a institucionalização e sustentabilidade de uma mudança efetiva do GRADO na Espanha. No entanto, a condução do processo de mudança não é simples e não se deve improvisar. Existe a necessidade de uma ação estratégica para a construção de canais de discussão e de comunicação coletiva, sendo a acumulação de poder por parte da área da Medicina de Família, necessária para se conseguir a transformação e diminuir a resistência interna, especialmente nesta nova etapa de mudança do prédio da Faculdade de Medicina para o Parque Tecnológico da Saúde. Esta investigação foi vinculada e apoiada pela Rede "Maristán" (www.redmaristan.org) e financiada pela CAPES e pela Universidade Estadual de Londrina. 

Palavras-chave


Educação Médica; Currículo, Saúde Coletiva

Referências


1.Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía. Manual de Competencias del/de la Médico/a de Familia de Atención Primaria. Programa de Acreditación de Competencias Profesionales del Sistema Sanitario de Andalucía. Octubre, 2011.

2. Alberto Infante Campos & Adriana Cavalcanti de Aguiar. ¿Es necesaria una segunda reforma de la atención primaria en España? Revista Ciência & Saúde Coletiva. 2013, 18(1): 17-23.

3. Aldaisa Cassanho Forster. Estudo sobre a formação em Atenção Primária e Medicina de Família no Curso de Medicina da Universidade Autónoma de Madrid, Espanha, 1999/2000, Livre-docência. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP, Brasil, 2004.

4. Almeida C. As reformas sanitárias dos anos 80: crise ou transição? Cad. Saúde Pública 1995; 11(4): 639-642.

5. Almeida C. Saúde e equidade nas reformas contemporâneas. Saúde em Debate 2000; 24: 6-21.

6. AMSE – The Association of Medical Schools in Europe. Lisbon Declaration on the relationship between Medical Schools and Healthcare Systems. Conference, Faculty of Medicine, New University of Lisbon, 14 –16 June 2007.

7. ANDALUCÍA. Modelo de gestión por competencias del Sistema Sanitario Público de Andalucía (Sevilla): Junta de Andalucía. Consejería de Salud, 2006.

8. ANDALUCÍA. Plan estratégico de formación integral del Sistema Sanitario de Andalucía (Sevilla): Junta de Andalucía. Consejería de Salud, 2009.

9. Arcadi Gual. Una ‘nueva troncalidad’ para la formación sanitaria especializada. ¿Es necesaria? EDUC MED 2010; 13 (1): 1-3.

10. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa. Edições 70, 1979.

11. Cambil Hernández ME. El Hospital Universitario Virgen de las Nieves. Editorial Atrio. Granada, 2011.

12. Carabaño Jiménez A y Cambil Hernández ME. La Facultad de Medicina y el Hospital Clínico San Cecilio: pasado, presente y futuro. Universidad de Granada. Granada, 2012.

13. Carabaño Jiménez A. Los estudios de Medicina en la Universidad de Granada (1943 – 2004). Editorial Universidad de Granada. Granada, 2007.

14. Casado Vicente V. Tratado de Medicina de Familia y Comunitária (2 Tomos). Sociedade Española de Medicina Familia y Comunitaria (semFYC). Editoral Medica Panamericana, 2012.

15. Donlin M. Long. Competency-based Residency Training: The Next Advance in Graduate Medical Education. Academic Medicine, vol.75, N.12/December, 2000.

16. Forster AC, Laprega MR, Dal-Fabbro AL, Rocha GM, Dos Santos JS, Yazlle MED, De Souza CS y Daneluzzi JC. Metodología de aprendizaje en atención primaria y medicina de familia. Aten Primaria 2002. 30 de junio. 30 (2): 125-129.

17.  Forster AC, Passos ADC, Dal Fabbro AL, Laprega MR. Transformation and trends in preventive and social medicine education at the undergraduate level in a Brazilian medical school. Gac Sanit (Barcelona) 2001; 15: 519-522.

18.  Forster AC. Considerações sobre a formação em Medicina de Família e Atenção Primária. Medicina Ribeirão Preto, 2001; 34: 202-203.

19. Hyppola H, Kumpusalo E, Virjo I et al. Evaluation of undergraduate medical education in Finnish community-oriented and traditional medical faculties: a 10-year follow-up. Med Educ 2000; 34: 1016-1018.

20. José Saura Llamasa, José Galcerá Tomásb, Carmen Botella Martínezc y Miembros del Foro de Jefes de Estudios de la Región de Murcia. El Jefe de Estudios y la Comisión de Docencia ante los cambios en la Formación Especializada introducidos por el Real Decreto 183/2008. REV CLÍN MED FAM 2011; 4 (2): 120-126.

21. Juan Carlos I Rey de España  (El Presidente del Gobierno, JOSÉ MARÍA AZNAR LÓPEZ). LEY 16 de cohesión y calidad del Sistema Nacional de Salud.  BOE núm. 128, de 28 de mayo, 2003.

22. Juan Carlos I Rey de España (La Ministra de Sanidad y Consumo, ELENA SALGADO MÉNDEZ). REAL DECRETO 1030, por el que se establece la cartera de servicios comunes del Sistema Nacional de Salud y el procedimiento para su actualización. MINISTERIO DE SANIDAD Y CONSUMO. BOE núm. 222, 15 de septiembre 2006.

23. Juan Carlos I Rey de España (La Vicepresidenta Primera del Gobierno y Ministra de la Presidencia, MARÍA TERESA FERNÁNDEZ DE LA VEGA SANZ). REAL DECRETO 183, por el que se determinan y clasifican las especialidades en Ciencias de la Salud y se desarrollan determinados aspectos del sistema de formación sanitaria especializada. BOE núm. 45, 8 de febrero, 2008.

24. Juan Carlos I Rey de España (La Ministra de Educación y Ciencia, MERCEDES CABRERA CALVO-SOTELO). REAL DECRETO 1393, por el que se establecen los requisitos para la verificación de los títulos universitarios oficiales que habiliten para el ejercicio de la profesión de Médico. BOE núm. 40, 15 de febrero de 2008.

25. Ley General de Sanidad (Ley 14/1986 de 25 de abril) Regula el derecho a la protección de la salud. Ministerio de Sanidad y Consumo. Centro de Publicaciones, Madrid, 1986.

26. Libro del Residente de Medicina Familiar y Comunitaria. Ministerio de Sanidad y Consumo. Ministerio de Educación y Ciencia, 2006.

27. Luis Palomo (Coordina). Expectativas y realidades en la Atención Primaria Española. Promueve: Fundación 1º Mayo, Febrero 2010.

28. Marcelo Marcos Piva Demarzo, Maria Inez Padula Anderson e Lia Silveira. Desafios do ensino e da aprendizagem da atenção primária à saúde e da medicina de família e comunidade na graduação e pós-graduação em Medicina. Documento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), 2007.

29. Marco Estratégico para la mejora de la Atención Primaria en España: 2007-2012. Proyecto AP-21. Estrategias para la mejora de la Atención Primaria. Análisis de situación de la Atención Primaria. Ministerio de Sanidad y Consumo, 2007.

30. Minayo MCS, Deslandes SF, Neto OC, Gomes R. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Minayo MCS (Org.). Petrópolis, RJ., 3ª edição, 1993.

31. Minayo MCS, Sanches O. Quantitativo-Qualitativo: oposição ou complementaridade. Cad Saúde Publ, Rio de Janeiro, 1993; 9: 239-262.

32. Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento. Pesquisa Qualitativa em Saúde. Hucitec/Abrasco, São Paulo- Rio de Janeiro, 1992.

33. Ministerio de Sanidad y Consumo. Cartera de Servicios de Atención Primaria. Definiciones, criterios de acreditación, indicadores de cobertura y normas técnicas. Instituto Nacional de la Salud, Subdirección General de Atención primaria. Madrid, 1999.

34. Ministerio de Sanidad y Consumo. Plan Estratégico. Para mejorar lo que es de todos. El libro azul. Instituto Nacional de la Salud. Madrid, 1998.

35. Morcillo Ródenas C. Experiencias novedosas en Atención Primaria sobre gestión, docencia, formación, investigación y clínica. Editorial Universidad de Granada. Granada, 2009.

36. Olmo MTM. La política sanitaria en el marco de las políticas públicas. Los modelos sanitarios. Master de gestión de instituciones sanitarias, III, Centro Universitario de Salud Pública, UAM – INSALUD, Madrid, 2001, 11 p.

37. Peinado Herreros JM y Conferencia Nacional de Decanos de Facultades de Medicina Españolas. Libro Blanco: Título de Médico. Agencia Nacional de Evaluación de la Calidad y Acreditación. Granada, abril 2006.

38. Ribeiro ECO & Mennin S. Continuing medical education. Guide supplement 35.2 – Viewpoint. Medical Teacher 2010; 32: 172–173.

39. Ruiz-Giménez Aguilar J. El Sistema Sanitario Español. In: Sánchez Moreno A et al. (org.) Actuación en enfermería comunitaria. Sistemas y programas de salud. McGraw-Hill Interamericana. Madrid, 1ª edición, 2001.

40. Silvana Forti. La APS como ordenadora del sistema de salud: ventajas y desventajas de una puerta preferencial. Documento elaborado en le marco del Intercambio EUROSOCIAL Salud III.2-2.09: El primer nivel de atención como puerta de al sistema de salud: posibilidades y límites en América Latina. Coordinación Técnica: Ligia Giovanella (ENSP/Fiocruz), 2009.

41. Simó Miñana J y Chinchilla Albiol N. Motivación y médicos de familia (I). Aten Primaria 2001, 28: 484-490.

42. Suárez S et al. La reforma Sanitaria en España. O debate desde una perspectiva nacional e internacional. Ministerio de Sanidad y Consumo, Madrid, España, 1984.

43. Universidad de Granada. Guía Docente de la Licenciatura de Medicina. Facultad de Medicina, 2014.

44. Universidad de Granada. Guía Docente del Grado en Medicina. Facultad de Medicina, 2014-15.

45. Universidad de Granada. Guía Docente de la asignatura de Medicina Preventiva y Salud Pública (Plan 2010). Facultad de Medicina, 2014-15.