Rede Unida, Encontro Regional Norte 2015

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PERFIL SOCIOECONÔMICO E CONDIÇÕES DE VIDA DAS MULHERES RESIDENTES NOS RAMAIS BOM JESUS E BONS AMIGOS AM-010
Aline Sales Mendes Záu, SANDRA DOS SANTOS FREIRE, NICOLÁS ESTEBAN CASTRO HEUFEMANN, DAIANA DA SILVA ARAÚJO, PAULA ANDRESSA DE OLIVEIRA SILVA

Última alteração: 2016-05-30

Resumo


INTRODUÇÃO

Para executar o estudo da saúde da mulher da área rural é necessário analisar os condicionantes biológicos e somá-los à esfera coletiva e social, uma vez que no conceito amplo de saúde, este não se reduz ao biológico, mas é também o conjunto de fatores ligados às condições de vida (BRITO & ACRI, 1991). A compreensão desses fatores do processo saúde-doença no espaço rural constitui-se uma ferramenta importante para a assistência em saúde, pois essa população possui características próprias. (SANT’ANNA et al., 2011).

Assim, este estudo pretende esboçar o perfil socioeconômico-sanitário e aspectos da saúde das mulheres residentes nos ramais Bom Jesus e Bons Amigos, situados da rodovia AM-010, área rural de Manaus visando analisar o panorama atual das realidades sociais e ambientais.

A metodologia do estudo foi por meio de uma pesquisa de campo de caráter exploratória-descritiva com abordagem predominantemente quantitativa. Foi realizado na zona rural do município de Manaus/AM, nos ramais Bom Jesus e Bons Amigos localizados respectivamente nos quilômetros 25 e 26 da rodovia estadual AM 010.

Foram entrevistadas residentes no ramal Bom Jesus e ramal Bons Amigos. Como critério de inclusão estipulou-se idade mínima de 12 anos, ter moradia fixa em um dos ramais e ser a matriarca da família. Os critérios de exclusão foram mulheres que se recusaram a participar da entrevista, as matriarcas que por algum motivo de saúde não puderam participar do estudo e as mulheres que não estavam no domicilio no período da aplicação dos questionários.

A coleta de dados ocorreu entre setembro a outubro de 2014 com questionários que abordavam aspectos socioeconômicos, sanitários e acesso ao sistema de saúde. Posteriormente, foram armazenados e analisados com o software EPI INFO versão 7 para Windows. Esta pesquisa seguiu os princípios éticos propostos pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).

Os resultados dessa pesquisa incluem a caracterização e o estudo do perfil sociodemográfico de 141 mulheres que vivem na zona rural de Manaus, das quais 103 são residentes no ramal Bom Jesus e 38 no ramal Bons Amigos.

A média de idade dessas foi de 37 anos para o Bom Jesus e 35,5 anos para o Bons Amigos. A apenas 7,14% das entrevistadas não chegaram a frequentar a escola e 5% têm apenas alfabetização. A maioria frequentou até a 8ª série do ensino fundamental. De acordo com o Censo Demográfico 2010, 54% da população rural têm entre um ano e sete anos de estudo (IBGE, 2011), o que não corresponde sequer ao ensino fundamental completo.

Mulheres com procedência da zona urbana no ramal Bom Jesus correspondiam a 59% e no Bons Amigos 75%. Segundo o IBGE (2010), os programas sociais do governo ajudam a manter a população em suas cidades de origem, sendo o ambiente rural visto como espaço de atração da população.

A principal fonte de renda domiciliar no ramal Bons Amigos é o salário da entrevistada, no Bom Jesus é o salário do cônjuge. Apesar disso, observa-se que no ramal Bom Jesus, 26,21% das entrevistadas também contribuem significativamente na renda. Portanto, os resultados seguem a tendência relatada pelo IBGE (2010), no país 42,4% das mulheres do campo contribuem com a renda familiar e 38,7% das mulheres chefiavam domicílios particulares.

A média do rendimento domiciliar das entrevistadas do ramal Bom Jesus é de R$ 1400,00 e do ramal Bons Amigos é R$ 1500,00. Recebem benefício do governo 66,9% das entrevistadas no ramal Bom Jesus e 65,8%, do ramal Bons Amigos. O limite máximo de rendimento familiar per capita praticado pelo Programa Bolsa Família, que habilita a família requerer o benefício, é de R$152 por mês (BRASIL, 2003). Entretanto, o rendimento familiar mensal das entrevistadas sofre oscilações, uma vez que as pessoas que sustentam a casa sejam majoritariamente trabalhadores informais, sem carteira assinada, tendo renda dependente da demanda de serviços solicitados por mês. Sendo assim, o benefício em questão, é uma fonte relevante de renda.

Quando ficam doentes, 90,3% e 86,8%, respectivamente, do ramal Bom Jesus e Bons Amigos, procuravam a Unidade Básica de Saúde Rural São Pedro. Cerca de 70% destas mulheres participavam de programas de saúde oferecidos na UBSR. Assim, as entrevistadas tem acesso à atenção básica de saúde, cujo principal desafio é promover a reorientação das práticas e ações de saúde, de forma integral e contínua para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros (BRASIL, 2004).

Apesar do vínculo com a UBS e a participação no Programa Saúde da Família, os métodos contraceptivos não são utilizados por 67,75% e 50% das mulheres residentes no ramal Bom Jesus e Bons Amigos, respectivamente. Dentre os motivos estão a inadaptação ao uso do anticoncepcional oral, não adesão do companheiro ao uso do preservativo masculino e além de motivos religiosos.

Nesse processo, a educação tem um papel primordial, já que as modificações têm cunho cultural e, portanto, necessita da incorporação dos atores envolvidos no sistema de saúde com a intenção de facilitar o diálogo, socializar informações e incentivar o processo de reflexão, de forma que, com a participação e o compromisso de cada um, seja possível “desconstruir” e “reconstruir” conceitos e significados (RAMOS, 2008).

Em relação ao abastecimento domiciliar de água em ambos os ramais é proveniente de poço distribuída através de canalização interna. O principal método para tratamento de água é a filtração e em seguida, cloração. O Ministério da Saúde preconiza filtração seguida de cloração ou fervura (BRASIL, 2011). Observa-se que uma porcentagem relevante das entrevistadas não está tratando a água de forma adequada, pois apenas a filtração não é suficiente para eliminar agentes microbianos patógenos, os quais podem provocar doenças na comunidade estudada.

Percebeu-se também há predomínio da fossa séptica e uma minoria possui fossa negra. A maior parte das entrevistadas utiliza a coleta pública de lixo como destino final do lixo doméstico, no ramal Bom Jesus. O ramal Bons Amigos o destino final é geralmente a queima. A inadequada remoção do lixo, utilizando queimadas, pode causar sérios problemas ambientais e à saúde dos moradores que residem nessas localidades. O lixo possui na sua composição vários elementos químicos, principalmente inorgânicos, que causam a contaminação aeróbica e riscos de incêndios (CERETTA; SILVA; ROCHA, 2013). Sendo assim, percebem-se necessárias medidas públicas para melhoria das condições sanitárias e educação ambiental dessas comunidades.

CONCLUSÃO

O ambiente rural apresenta várias singularidades que contribuem para que a determinação social do processo saúde-doença aconteça por meio das condições de vida e de trabalho no espaço em que a população está inserida. Este estudo mostra que embora as realidades nos ramais estudados sejam distintas, o perfil das mulheres desse estudo foi semelhante, diferindo-se, principalmente, nas condições de saneamento básico, as quais foram influenciadas pela infraestrutura característica de cada ramal.

As ações dos serviços de saúde devem estimular um trabalho compartilhado com responsabilização e vínculo com a comunidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde no processo saúde-doença do espaço rural. Também se observa necessário que o Poder Público desenvolva ações visando à melhoria dos sistemas de abastecimento de água de forma a se evitar sua poluição e contaminação, além de executar programas de educação ambiental e sanitária entre os habitantes locais.

A identificação do perfil das mulheres rurais constitui-se numa ferramenta para a elaboração de políticas públicas que possam atender às demandas sociais de forma eficaz, permitindo uma melhor qualidade de vida para as comunidades em questão.

 


Palavras-chave


mulheres rurais; perfil socioeconômico; condições de saúde rural.

Referências


BRASIL. Ministério Nacional da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Bioética. v.4, n 2, pp 15-25, 1996.

_______. Ministério do Desenvolvimento Social. Programa Bolsa Família. 2003. Disponível em http://www.mds.gov.br/bolsafamilia

_______. Ministério da Saúde. Humanizasus: Política Nacional de Humanização: documento base para gestores do SUS. Brasília; 2004

_______. Ministério da Saúde. Cuidados com Água para Consumo Humano. 2011. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/folder/agua_consumo_2011.pdf. Acesso em: 31 out. 2014.

BRITO, J.C.; ACRI, V. Referencial de análise para estudo da relação trabalho, mulher e saúde. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 7 n. 2, p. 201-204, 1991.

CERETTA, G.F.; SILVA, F.K.; ROCHA, A.C. Gestão Ambiental e a problemática dos resíduos sólidos domésticos na área rural do município de São João – PR. Revista ADMpg Gestão Estratégica. Ponta Grossa, v. 6, n. 1, p.17-25, 2013.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de Gênero: Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010.

______ – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio. Rio de Janeiro, 2011.

RAMOS, F.I.S. Análise histórica das políticas de planejamento familiar no Brasil Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UERJ, 2008.

SANT´ANNA, C. F.; et al. Determinantes sociais de saúde: características da comunidade e trabalho das enfermeiras na saúde da família. Rev. Gaúcha Enferm. Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 92-9, 2010. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/10891/8623

Acesso em 27 set. 2014.