Rede Unida, Encontro Regional Nordeste I 2015

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CONCEPÇÃO DE SAÚDE/DOENÇA QUE PERMEIA A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO: caminhos e descaminhos
Claudielly Ferreira Silva, Moêmia Gomes de Oliveira Miranda, Fernanda Letícia da costa Araújo

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


A necessidade de compreensão e exercício de uma nova forma de entender a saúde e a doença é advinda da década de 80, período da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) e construção do Sistema Único de Saúde (SUS), e consequente, formulação de um novo conceito de saúde, que passa a ser vista como produto da relação entre a inserção dos indivíduos nos processos de produção e reprodução social. Essa nova prática em saúde requer a formação de profissionais cada vez mais coerentes com o SUS e com a teoria da determinação social do processo saúde/doença. De modo especial, na enfermagem esse movimento de transformação ganhou força com o Movimento participação (MP), que aclarava o desejo imperativo de modificação de sua prática, agora amparada em uma visão mais crítica e política da realidade. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo discutir a concepção de saúde/doença que permeia a formação do enfermeiro na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte- FAEN/UERN. Tentando responder a esse objetivo levantamos as concepções de saúde/doença que permeiam os projetos de intervenção construídos por ocasião do estágio supervisionado do oitavo e nono período da FAEN/UERN, referentes aos semestres 2010.2 e 2011.1, respectivamente. Os dados apreendidos foram analisados a partir da categorização proposta por Minayo. A análise desse material possibilitou a percepção das disparidades entre intenção e gesto, ou seja, existe uma intenção explícita no Projeto Político Pedagógico (PPP) em formar enfermeiros considerando a concepção evidenciada pelo MRSB. No entanto, ao se traduzir em gesto o corpo estudantil não consegue avançar, e constrói estratégias de enfrentamento dos problemas ancorados em uma concepção multicausal como explicativa para o processo saúde/doença. Alguns atores avançam nas discussões e na própria materialização de uma nova forma de intervir em saúde, no entanto, o que continua marcando essas intervenções é a lógica tecnicista, com ênfase no saber e no saber-fazer. Destarte, essas ações acabam fortalecendo o pensamento hegemônico na saúde/enfermagem. Por fim, conclui-se que essa forma de pensar/fazer em saúde fragiliza a formação política, uma vez que marginaliza os espaços de reflexão e real intervenção nos condicionantes e determinantes do processo saúde/doença, escamoteando o compromisso do enfermeiro com a transformação de uma determinada realidade de exclusão social, compreendida aqui enquanto formação política.

Palavras-chave


Processo saúde-doença; educação em enfermagem; enfermagem.

Referências


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