Rede Unida, Encontro Regional Nordeste I 2015

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Autonomia, comunicação e empatia: reflexões da extensão popular com indígenas Potiguara
Willian Fernandes Luna, Alice Ribeiro Viana de Carvalho, Fellipe Lopes Pedrosa, Lívia Geovana Falcão Vieira Celestino

Última alteração: 2016-01-20

Resumo


Descrição da Experiência: O Projeto de Extensão Iandé Guatá (do tupi Nossa Caminhada) aborda, desde 2013, a saúde indígena através de visitas mensais à Comunidade Potiguara localizada no litoral norte da Paraíba. Formado por estudantes de medicina e dois professores, um médico de família e uma fisioterapeuta, busca dialogar através do trabalho em comunidade tendo como princípio o olhar da Educação Popular. As vivências exigiram o desenvolvimento de habilidades de comunicação, sendo este o foco deste relato de experiências. Na Aldeia São Francisco, os extensionistas dividiram-se em duplas fixas e realizaram visitas domiciliares acompanhando as mesmas famílias durante todo um ano. Buscou-se construir relações de coloração mútua, em via de mão de dupla, iniciando pelo conhecimento do universo vocabular local, respeitando saberes populares e estando dispostos à mudança de opinião.  Não só em campo os estudantes necessitaram das habilidades de comunicação, mas também foi essencial o diálogo internamente, tendo como referencial o Método da Roda. Levar parte do conhecimento apreendido na comunidade indígena para outras pessoas e instituições foi compromisso do grupo com essa comunidade direcionando para o agir enquanto cidadãos.

Resultados: Foram comuns dificuldades na abordagem e no diálogo, porém, em processos de avaliação, troca de saberes e aprofundamentos teóricos, estas habilidades foram aprimoradas. A partir da imersão gradual na comunidade indígena através das sucessivas aproximações, os extensionistas puderam compreender a dinâmica familiar na aldeia, desenvolvendo sensibilidade e empatia ao invés de julgamento superficial, entendendo que há outras formas de se viver e de agir, diferentes das habituais normas da sociedade urbana.

Repercussões: A forma de comunicação experienciada nos encontros dialógicos favoreceu a autonomia, como no caso da elaboração de planos de cuidado compartilhados entre extensionistas e famílias. Na formação médica, a extensão universitária com uso da educação popular pode ser uma estratégia para que o estudante trabalhe de forma interdisciplinar e nos mais diversos cenários, desenvolvendo a capacidade de se comunicar de forma mais efetiva e compreendendo que a empatia é essencial na relação médico-pessoa. Para além das habilidades do futuro profissional de saúde, a imersão na comunidade possibilita ao estudante repensar seu papel político na sociedade como cidadão, na interlocução comunidade acadêmica e sociedade em geral.


Palavras-chave


extensão comunitária; relação médico-paciente; comunicação; saúde indígena

Referências


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