Rede Unida, Encontro Regional Centro-Oeste 2014

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Do Disciplinar ao Antidisciplinar: limites e rupturas em uma graduação em Saúde Coletiva
Argus Setembrino, Pedro Terra Teles de Sá, Larissa Mitie Fukushi, Raul Ysdyxyam Ferreira dos Santos, Paola Alves dos Santos Moraes

Última alteração: 2014-11-08

Resumo


Partindo do conceito deleuziano de dobra, pretendemos fazer o esboço de uma cartografia da experiência de cursar Saúde Coletiva. A narrativa expressa dobras e desdobras que se dão a partir das disciplinas, relações de docência e as relações entre pares nos espaços banais da formação. Entendemos esta graduação como um dispositivo, virtualmente contradispositivo, com suas linhas de dizibilidade, visibilidade, força e subjetivação (dobra). Quatro experiências nos servirão de mote para enunciação dos pontos de subjetivação. A primeira diz respeito ao momento de ingresso no curso, uma mistura de sentimentos de excitação e conquista, expectativas de uma vivência com mais liberdade do que a experienciada nas etapas anteriores da educação formal e do que se espera do curso em termos de modelo de ensino, metodologia e construção coletiva de um novo profissional. A segunda é o conselho de classe, que tem como  finalidade “acompanhar” estudantes desviantes e “prevenir” evasões. O cunho disciplinar, aquele mesmo de docilidade e utilidade dos corpos estudantis esteve evidente, quando docentes se queixaram do absenteísmo de alguns estudantes. O corpo em sala de aula é muito importante para que a disciplina, com a relação de poder instituição-professor-aluno, cumpra seu papel de organizá-lo de maneira a torná-lo um sanitarista. Tal situação reflete um processo de desafinação com as expectativas do primeiro momento e o que de fato se coloca na “realidade”. A terceira experiência, a Assembleia Geral, é percebida como uma abertura nas relações institucionais, cronificadas pelo desencontro das expectativas entre discentes e docentes no processo de construção do curso, como pela problematização dos espaços de fala, permitindo um novo olhar entre os envolvidos. A quarta experiência foi a formação de um coletivo intitulado Laboratório Antidisciplinar (AntiLAB), como um espaço de composição de ideias e ações tanto políticas, como poéticas, filosóficas, científicas e subjetivas, que entendemos como resposta para o desvio necessário no rompimento com certa ideia de formação, na qual as composições não encontravam espaço para se efetuar. De saída, propõe o fortalecimento da autocrítica e seu constante desenvolvimento, visto que ao chegar às barreiras, o estudante acaba se confrontando com o limite do conhecimento até ali ditado. A partir disso, ferramentas lhe são dadas para traçar os novos caminhos, ou desvios inventivos. As experiências anteriores à criação do laboratório trouxe consequências subjetivas, dobras que fizeram com que a criação do AntiLAB se tornasse uma necessidade. Construir um  lugar de resistência e abrigo de linhas de fuga, como um espaço de territorialização de sonhos próprios, construção e desdobra do ser sanitarista. As atividades acarretaram a inserção de temas que antes não estavam no horizonte de possibilidades dos demais graduandos e ampliação do campo de pensamento dos futuros Sanitaristas. Portanto, desejamos construir um espaço onde haja liberdade para propor o novo, desconstruir o que é velho e anacrônico, usando as melhores tecnologias já inventadas. Acima de tudo não ignoramos a realidade constituída, mas afirmamos aquilo que a “realidade” nega. Sugerimos uma revolução molecular, nos afetos e no intelecto. Ou seja, a criação de um espaço de liberdade.

 


Palavras-chave


laboratório antidisciplinar; saúde coletiva; formação em saúde