Rede Unida, Encontro Regional Centro-Oeste 2014

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O futuro do filho com deficiência intelectual: a visão paterna sobre o amanhã
Bruno Vitiritti, Maria Angélica Marcheti, Liane de Rosso Giuliani

Última alteração: 2014-11-09

Resumo


O nascimento de uma criança com deficiência tem o potencial para desconstruir a formulação idealizada em relação à criança e a seu futuro, fazendo emergir sentimentos de desilusão, desespero, e vergonha na família, que fica sem saber como manejar a situação. Entretanto, a maioria das pesquisas foca sua abordagem na vivência sob a ótica materna, esquecendo-se do importante vínculo e interações paterno-filial. Levando-se em consideração as lacunas existentes na literatura, este estudo teve por objetivo desvelar as percepções paternas quanto as suas expectativas sobre o futuro do filho com deficiência intelectual e os reflexos desse evento na família sob a ótica paterna. Para tanto, a fenomenologia, sob a perspectiva hermenêutica de Heidegger, foi o referencial teórico escolhido. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da UFMS. Foram entrevistados 12 homens, pais de crianças com deficiência intelectual inscritas no Centro de Educação Especial Girasol da APAE de Campo Grande, MS. Os discursos foram coletados no período de agosto a novembro de 2011, por meio de entrevistas individuais realizadas em uma sala reservada na instituição. Para o desvelamento do fenômeno, utilizou-se a questão norteadora: “Como o senhor enxerga o futuro do seu filho?”. Da narrativa e análise dos discursos emergiu a categoria ‘Re-construindo a paternagem e o futuro do filho’,  representativa da experiência do pai com um filho com deficiência, desdobrando-se em cinco temas: “concebendo o futuro do filho a partir da notícia da deficiência”, “refletindo sobre o futuro no cotidiano”, “percebendo que a criança com deficiência tem seu próprio tempo de desenvolvimento”, “percebendo a dependência do filho” e “tendo a esperança e a fé como futuro”. Desde que é comunicado sobre a deficiência do filho, o pai passa por intensas reflexões a fim de buscar compreender a realidade vivida e como se dará a vida e o futuro da criança que inspira cuidados e manejos aos quais ele não se sente preparado. Reflete  sobre o seu ser-pai frente a algo novo, desafiador e desconhecido para ele. Diante do fato do filho ter uma deficiência, tudo o que foi previamente formulado antes da chegada da criança é desconstruído, dando lugar ao medo, à insegurança, às incertezas e à incompreensão do evento. Entretanto, mesmo frente ao esforço de vislumbrar possibilidades de futuro para a criança, o pai experiencia em seu imaginário a imagem de um bebê doente, possuidor de uma condição que o amedronta e o deixa sem expectativas. Embora as concepções do pai sobre a deficiência do filho vão se modificando conforme ele vivencia o seu ser-pai-de-uma-criança-com-deficiência, a expectativa quanto à melhora da saúde e da condição do filho, e até a cura de sua deficiência, o fazem ter esperança e a fé de que o filho terá um futuro a ser concebido de acordo com as suas possibilidades reais. Conclui-se que diante da experiência de ter um filho com deficiência, ser ouvido é um processo terapêutico para o pai, devendo ser uma intervenção proporcionada por profissionais de saúde  preparados para esse contexto.

Palavras-chave


fenomenologia; crianças com deficiência; paternidade

Referências


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