Rede Unida, Encontro Regional Centro-Oeste 2014

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Suicídio entre os Guarani/Kaiowá. Compreensão das causas pelo instrumental da Psicanálise.
Josiane Emilia do Nascimento Wolfart, Regina Mara Jurgielewecz Gomes

Última alteração: 2014-11-08

Resumo


Este trabalho objetivou expor algumas causas apresentadas na literatura como desencadeantes para fenômeno do suicídio na população indígena Guarani/Kaiowá localizada no município de Dourados - Estado de Mato Grosso do Sul. A partir da compreensão das causas levantadas na literatura, procurou-se explicar o fenômeno por meio do referencial teórico psicanalítico. Propomos uma análise dos possíveis determinantes psíquicos que manejam o pensamento e a conduta do grupo, objetivando compreender o que conduziu seus habitantes a uma epidemia de suicídio. A pesquisa é qualitativa/documental. Qualitativa, pois, oportuniza estratégias de interpretação, participação e compreenção dos dados levantados e documental por caracterizar-se pela reprodução parcial dos dados levantatos em peridódicos, proporcionando novas descobertas sobre o tema. Os principais fatores desencadeantes para o suicídio apontados na literatura foram: marginalização cultural; tomada das terras indígenas; exploração do trabalho indígena; problemas relacionados ao abuso de álcool e drogas; situação econômica precária; desemprego; falta de terras para os trabalhadores desenvolverem suas atividades agrícolas; conflitos e desajustes familiares; saída dos indígenas de suas terras; imposição de novas religiões; imposição de culturas externas a cultura indígena, dentre outros. Percebemos que a junção destes fatores provocaram conflitos significativos no psiquismo dos sujeitos. O produto final do choque cultural nas aldeias trouxe grandes prejuízos para a manutenção de sua vida e cultura. O resultado foi desastroso. O suicídio não corresponde apenas ao fim de uma vida, representa também o grito agonizante pelo temor do fim de uma cultura. É o conteúdo místico-religioso que está enraizado no imaginário da cultura indígena o responsável por promover a manutenção do grupo. Este conteúdo auxiliou na compreensão do pensamento do grupo em relação ao que entendem pelo suicídio em sua comunidade. Foi possível compreender os determinantes que influenciam o ato suicida como, também, a reação dos familiares e demais membros da comunidade diante de uma morte violenta. Do ponto de vista psicanalítico supõe-se que existam no suicida indígena, impulsos inconscientes que nasceram do conflito entre as imposições da tribo e seus desejos internos. Quando os membros da tribo se deparam com a escolha entre aquilo que é tradição versus aquilo que a ‘sociedade nacional’ lhes impõe, algumas pessoas não conseguem renunciar ao desejo pelo novo e abandonam sua cultura. O sofrimento surge deste conflito, o choque cultural. O caráter de violação está em renunciar sua cultura, seus valores, crenças, mitos, costumes e tentar se infiltrar em uma nova cultura, que corrompe e impõe novos modos de pensar, de viver, e que não respeitam a subjetividade do grupo. Consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos que a cultura é objeto indispensável à dignidade e ao desenvolvimento da personalidade humana. Diante destas questões, entendemos que o suicídio indígena pode ser compreendido como um grito primal desta população. Um pedido de socorro. Na impossibilidade de serem ouvidos, lançam mão de um meio cruel para manter viva sua cultura. O suicídio como um sinal de alerta para preservação da história e cultura do povo Guarani/Kaiowá.


Palavras-chave


Suicídio; Psicanálise; Indígena;

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