Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
A TUTORIA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL: A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ALZIRA MARIA BAPTISTA LEWGOY, RAMONA FERNANDA CERIOTTI TOASSI, MARIA INES REINERT AZAMBUJA, LUIZ FERNANDO CALAGE ALVARENGA

Última alteração: 2015-11-12

Resumo


APRESENTAÇÃO: O trabalho em equipes multiprofissionais apresenta-se como requisito fundamental para o bom funcionamento dos serviços de saúde em todos os níveis de atenção. Apesar das importantes mudanças curriculares ocorridas nos cursos da saúde após a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), a formação de profissionais da saúde ainda acontece muito restrita ao núcleo profissional, com currículos que pouco preveem a interação entre estudantes de diferentes cursos de graduação. Em 2012, por uma iniciativa da Coordenadoria de Saúde (CoorSaúde) da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a oferecer uma disciplina inovadora, com caráter interprofissional, denominada ‘Práticas Integradas em Saúde I'. No segundo semestre de 2015, a disciplina foi oferecida para estudantes de 15 cursos: Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Saúde Coletiva, Serviço Social, Medicina Veterinária, Ciências Biológicas, Farmácia e Políticas Públicas. Professores e estudantes são distribuídos em grupos de dois professores tutores e oito estudantes de diferentes cursos de graduação. A disciplina contempla atividades de concentração (encontros do conjunto de professores e estudantes) e atividades vivenciais desenvolvidas nos cenários de prática. O método de ensino utilizado tem na tutoria a estratégia central. O processo tutorial construído na ‘Práticas Integradas’ é presencial e ancorado na metodologia da problematização a partir da vivência dos estudantes em serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) e nos territórios correspondentes. OBJETIVO: Descrever a experiência dos professores tutores da disciplina ‘Práticas Integradas em Saúde I’ em duas Unidades de Saúde da Família (USF) de Porto Alegre, no período de 2012 a 2015 – USF Divisa e USF Estrada dos Alpes. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Uma questão inicial e das mais importantes a serem trabalhadas com os estudantes é o conceito de território. Após encontros iniciais de apresentação da disciplina e do distrito docente-assistencial onde ela se desenvolve (Distrito Glória-Cruzeiro-Cristal de Porto Alegre), cada pequeno grupo começa sua atividade prática pelo reconhecimento do território de abrangência da Unidade de Saúde da Família. Para isto, os alunos recebem preliminarmente material de leitura sobre conceitos de território e a relação entre território e saúde, um caderno para registro de observações, impressões e dúvidas que surjam a partir desta incursão no campo guiada pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS). Após cada saída a campo, retorna-se à USF onde, em roda de conversa, tutores, estudantes e as ACS discutem as observações e as possíveis implicações do observado na vida daquela comunidade. Outras atividades de campo realizadas envolvem conversas com lideranças comunitárias (presidentes de associações de moradores, liderança do quilombo dos Alpes), visita a instituições locais (escolas, biblioteca comunitária, Conselho Local de Saúde, por exemplo), acompanhamento de visitas domiciliares realizadas pelas ACS e equipe de saúde, vivências na própria Unidade, por meio de conversas com profissionais das equipes de saúde sobre o funcionamento de uma USF, as atividades que os profissionais realizam os espaços de trocas interprofissionais, os desafios (como o processo de implantação do e-SUS na Atenção Primária) e as dificuldades relacionadas ao contexto (violência, toque de recolher). Os registros, frutos de todas estas vivências e das rodas de conversa sobre elas, sua correlação com o material teórico disponibilizado, são consolidados pelos estudantes em um portfólio individual, instrumento de acompanhamento da aprendizagem utilizado pela disciplina. RESULTADOS: Os professores tutores – com o apoio da literatura indicada, das problematizações advindas das trocas de vivências e informação com os serviços sobre o território e seus equipamentos sociais, sobre o funcionamento das Unidades, das redes de serviços locais e regionais (serviço social, educação, outros níveis de atenção do SUS) – procuram estimular trocas de conhecimentos e percepções entre os estudantes e entre eles e os trabalhadores da saúde. O propósito é o conhecimento, no grupo, sobre os outros cursos, as formações profissionais e as experiências dos trabalhadores do SUS, movidos pelo diálogo de respeito às diferenças de posição e de reconhecimento de pontos de sintonia. Neste processo de aprendizagem, os tutores são facilitadores que criam possibilidades, auxiliam, acompanham e avaliam. Ao mesmo tempo em que os tutores ensinam, também aprendem. Da mesma forma, com os profissionais das USF, em especial, com as ACS, principais parceiras nas incursões pelos territórios. A tutoria assume, então, uma forma ampliada e participativa. Investe na troca de afetos, ou seja, promove a proximidade e a empatia que favorece a confiança para se estabelecerem espaços de fala e escuta entre estudantes – currículos - trabalhadores da saúde. A experiência da tutoria em uma atividade de ensino interprofissional vem se constituindo a cada encontro, de forma processual e que ganha visibilidade no seminário integrado final, onde todos os grupos de estudantes, tutores e trabalhadores em saúde se encontram para compartilhar experiências e apresentar os produtos construídos nas diferentes Unidades de Saúde da Família. Tais produtos têm se materializado na forma de relatórios, mapas, vídeos, edições de jornais com informações sobre os territórios. Os produtos resultam de processos participativos e dialógicos, com informações vivas e falantes. Além disso, a visibilidade também se expressa pela reflexão, não apenas sobre o fazer em saúde, mas sobre a universidade pública na (re) estruturação dos currículos dos cursos de graduação. A complexidade das situações vivenciadas tem mostrado o distanciamento que existe entre a formação e a prática profissional e o importante papel do ensino tutorial para o desenvolvimento de competências culturais e relacionais, imprescindíveis ao exercício das profissões da saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O cenário de práticas onde as vivências dos estudantes estão sendo desenvolvidas tem possibilitado a ampliação da compreensão de como se produz saúde no cotidiano da Atenção Primária à Saúde. Como proposta de metodologia na formação em saúde, a tutoria exercida e experenciada de forma participativa, tendo o tutor como ator nos processos e não somente condutor, facilita e qualifica aprendizagens de estudantes e trabalhadores que vivem e (re) significam ao (re) conhecerem os territórios de atuação acadêmica e profissional. A formação integrada e interdisciplinar é um processo permanente de qualificação e atualização, postura necessária ao deciframento cotidiana da realidade pautada pela complexidade e heterogeneidade. Um dos desafios é o de investigar e enxergar novas possibilidades de pensar e agir conjuntamente diante das dificuldades encontradas.

Palavras-chave


Ensino; Currículo; Serviços de Integração Docente-Assistencial. Relações interprofissionais.

Referências


BERBEL, N. A. N. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos. Interface: Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu, v. 2, n. 2, p. 139-154, fev. 1998.

BOTTI, S. H. O.; REGO, S. Preceptor, Supervisor, tutor e mentor: quais são seus papéis? Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 32, n. 3, p. 363-373, 2008.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Faculdade de Odontologia. Plano de ensino da disciplina Práticas Integradas em Saúde I. Porto Alegre: UFRGS, 2015.