Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Formação para o trabalho interdisciplinar: a percepção dos estudantes dos cursos de fisioterapia do Brasil
Leticia Stanczyk, Adenauer Gauglitz, Janainny Magalhães Fernandes, Adriane Pires Batiston, Laís Alves de Souza Bonilha
Última alteração: 2015-10-27
Resumo
INTRODUÇÃO: O Ensino Interprofissional em Saúde é, atualmente, a principal estratégia de formação para que profissionais se tornem aptos a desenvolver o trabalho em equipe, prática essencial para a integralidade no cuidado em saúde. Para promover a integração conceituada e esperada no trabalho em equipe interprofissional, o Ministério da Educação, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), vem incentivando a reorganização dos cursos de graduação da área de saúde, oferecendo cooperação técnica, operacional e financeira, através de projetos e programas para que a universidade possa fazer um trabalho articulado com a gestão e com os serviços públicos de saúde. Neste sentido, foi investigada a visão de estudantes do curso de fisioterapia a respeito do trabalho interdisciplinar e refletido sobre práticas acadêmicas multiprofissionais na graduação. MÉTODOS: Este foi um estudo transversal realizado com estudantes concluintes (último ano) do curso de fisioterapia de todas as regiões do Brasil. Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário de avaliação da aprendizagem interprofissional, o Readiness Inter professional Learning Scale (RIPLS), que conta com questões objetivas que abordam os aspectos do trabalho interprofissional de um determinado grupo. Utilizaram-se ainda algumas questões acerca da participação em projetos de pesquisa, extensão, movimento estudantil e em atividades multidisciplinares e específicas do núcleo da fisioterapia. As respostas foram analisadas a partir de estatística descritiva. RESULTADOS: Participaram deste estudo 140 discentes da fisioterapia de todas as regiões do país, das quais a maior frequência de respondentes foram do Nordeste (45,0%) e Sul (33,6%), seguido das regiões Centro-Oeste (14,3%), Sudeste (6,4%) e Norte (0,7%). A média etária dos participantes foi de 24,12 e mais ou menos 4,23 anos de idade, sendo a maioria do sexo feminino (80,0%) e estudantes de Instituições de Ensino Superior privada (72,1%), além de 30,7% ser membros do movimento estudantil. As respostas provenientes das questões estruturadas sobre os aspectos do trabalho em equipe, da efetiva colaboração com outros profissionais de saúde e dos aspectos da formação interprofissional, mostraram que 34,3% dos estudantes participaram de projetos multiprofissionais durante a graduação. Observamos também que foram mais frequentemente citadas atividades de ensino em pesquisa e em menor frequência as atividades de extensão quando questionados sobre quais os dispositivos para a formação profissional do fisioterapeuta são mais importantes ou mais potentes para o mundo do trabalho. Outro resultado relevante é que maior parte dos estudantes considera mais frequentemente como muito importante as atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas especificamente no âmbito da fisioterapia do que as atividades realizadas em conjunto com estudantes de outros cursos. Os resultados provenientes do Readiness Inter professional Learning Scale (RIPLS) mostraram que os entrevistados mantiveram um padrão de respostas nas opções 5 (Concordo fortemente) e 4 (Concordo) da escala de Likert, assim para fins de análise, consideramos que as respostas relacionam-se com opiniões e comportamentos incorporados pelos estudantes (concordo fortemente) ou opiniões que não necessariamente se refletem na prática desses alunos (concordo). CONSIDERAÇÕES FINAIS: As DCN do curso de fisioterapia estabelecem critérios de competências e habilidades que devem ser trabalhadas ainda na graduação, incluindo a atuação multi, inter e transdisciplinar. Quando se observa uma concordância maior dos estudantes para o exercício de práticas individuais de núcleo e de pesquisa em prol de ações coletivas, de extensão e em equipe, é preciso repensar o modelo que se tem e o que se quer para a saúde e sociedade. A existência de um modelo formativo que visa ensinar mais a lógica de prestação de serviços individuais do que a de um compromisso político-social e coletivo nos remete a uma necessidade maior de práticas formativas com enfoque no cuidado em saúde através do exercício interdisciplinar e das práticas sociais que constroem os objetos do mundo e da sociedade, em consonância com as necessidades reais de saúde da população. Não podemos deixar de problematizar o método utilizado, visto que o questionário RIPLS não possibilita abordar dimensões mais concretas a respeito da prática e vivência reais dos entrevistados. Sugere-se, então, maiores estudos na área para compreender melhor o processo de formação em saúde para a sociedade.
Palavras-chave
Estudantes; Educação interprofissional; fisioterapia;
Referências
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