Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Internato em Enfermagem: entre o currículo e a práxis
Maria Lucia Freitas dos Santos, Fabricia Quintanilha, Fernanda Teles M.nascimento, Glaucia V. Valadares, Juliana S. Pontes, Patricia Regina de Siqueira

Última alteração: 2016-04-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente relato de experiência refere-se ao processo de implementação do Internato em Enfermagem do Curso de Enfermagem e Obstetrícia UFRJ – Campus Macaé. Com um enfoque no planejamento, gestão e assistência de enfermagem na Rede Básica, tendo a referência da Atenção Primária como coordenadora e ordenadora do cuidado. No aspecto pedagógico, a referência esta na interface entre problematização e processos pedagógicos baseados em desafios educacionais, que estimula a construção, pelos alunos, de conhecimentos e sentidos. Buscamos estratégias que, ao inserir os alunos em cenários de prática, despertasse a consciência crítica entre a realidade da população e país frente ao aprendizado, conduzindo-os a uma reflexão crítica sobre os problemas e as soluções tangíveis. Outra característica importante está na articulação indissociável do ensino, pesquisa e extensão da universidade na parceria ensino, serviço e comunidade. O objetivo é provocar o debate acerca das estratégias pedagógicas e curriculares que produzam saberes e práticas mais alinhadas às necessidades da população e demandas da sociedade. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O Internato é a modalidade de atividade supervisionada do Estágio Curricular em Saúde da Comunidade III, implementado no segundo semestre de 2013, que inaugura a última etapa curricular na formação dos alunos do curso de Enfermagem e Obstetrícia da UFRJ-Macaé. Caracteriza-se por promover progressivo desenvolvimento, autonomia, aquisição de novas habilidades, conhecimentos e apropriação de tecnologias emergentes, no domínio de características inerentes a profissão como a liderança e a gestão do cuidado, a coordenação do trabalho em equipe em qualquer nível de complexidade da atenção à saúde. Orienta-se pela função social da universidade – formar cidadãos e responder as necessidades da população e do país, o que implica na necessária parceria (institucional) entre docentes, discentes, profissionais dos serviços de saúde, gestão municipal e comunidade. Como procedimentos e recursos de ensino foram utilizados: a) atividades estruturadas, que corresponde a espaços de diálogo, debates e formulações (roda de conversa, oficinas, seminários temáticos, estudos caso, etc.); b) Visitas técnicas instrumentalizadas, como estratégia de apresentar espaços e populações alvo de políticas prioritárias de redução da pobreza e desigualdades como quilombolas, assentados presentes na região; c) Estudo auto dirigido que compreende leituras complementares, a apropriação de conhecimento científico, pela seleção e analise de produções cientificas para apoiar a tomada de decisão, não restrito a área da saúde. As atividades discentes são pautadas no planejamento, orientação e supervisão das atividades dos agentes comunitários de saúde (ACS), no exercício da liderança junto à equipe de enfermagem, na educação permanente, na promoção de saúde, educação em saúde, uso da vigilância em saúde para orientar o monitoramento dos riscos à saúde e, a abordagem familiar orientando as ações de atenção integral a saúde de indivíduos, famílias, no domínio de estratégias de abordagem como visita domiciliar, consultas de enfermagem, apoio a organização do serviço, documentação (prontuários) e informação. A conformação dos cenários de ensino aprendizagem, bem como a construção dos desafios educacionais e as atividades integradas dos serviços básicos intersetoriais (saúde, educação e assistência social) e a comunidade. Foram desenvolvidas em quatro etapas do internato. Primeira Etapa Preparatória: a) Oficina de ambientação para os discentes inscritos na disciplina com objetivo de aproximar da proposta e objeto de atuação, definição dos seus desafios educacionais; b) Seminário de Integração ensino - serviço, organizado pelos discentes, tendo a participação de gestores da APS, profissionais do serviço, membros da comunidade, docentes e discentes do curso, com objetivo de conhecer panorama da saúde no município, identificar desafios (coletivos de gestão) e produzir pactos. Segunda Etapa de Diagnóstico: aproximação e apropriação da realidade local, subsídio para planejamento participativo. Terceira Etapa de Intervenção: desenvolvimento de atividades, estratégias e ações, explorando capacidades e habilidades locoregionais. Quarta Etapa: Seminário integrado de avaliação como elemento de devolutiva. A etapa de desenvolvimentos caracteriza-se pelo momento em que discentes colocam em prática os desafios educacionais (individuais e coletivos) definidos na primeira etapa RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Havia um estranhamento inicial dos discentes, evidenciado já na oficina de ambientação, momento em que estabelecem o contato com essa participação no processo de construção de identidade de equipe, a condução na formulação de atividades enquanto protagonistas do processo criaram algumas angustias e dúvidas quanto à possibilidade e capacidade de execução. Algumas situações jamais haviam sido pensadas como, por exemplo, os elementos e detalhes que envolvem a organização e produção de um evento (no caso seminário) e a responsabilidade pelo sucesso ou não. No cenário de prática, protagonizaram as diversas iniciativas na estratégia Saúde da Família, nas dimensões de promoção, prevenção, assistência, reabilitação, nas perspectivas da integralidade, equidade e acesso, adotando e introduzindo instrumentos e ferramentas de registro, sistematização e informação das ações de saúde. Quanto à população verifica-se, nos relatos das famílias, a influência da presença dos discentes na melhoria da qualidade da atenção prestada, bem como vinculação dos profissionais às famílias. Os profissionais apresentaram melhoria de sua autoestima, pela valorização do trabalho manifesta nas parcerias de trabalho estabelecidas entre ACS - discentes, técnicos discentes e docentes, porém com pouca aderência dos profissionais de nível superior as propostas e intervenções dos alunos. A gestão valoriza o espaço dos seminários (de Integração e de avaliação) como oportunidades de avaliação dos serviços de saúde, de pactuação e de troca de saberes como espaço de diálogo com a comunidade, fundamental na qualificação dos debates e produtos. Outro aspecto positivo são materiais produzidos pelos discentes, deixados como legado para as equipe, a saber: material educativo para sala de vacina; mapa da área de atuação e abrangência da unidade; fluxograma da rede de atenção de referência da unidade; relatórios de ambiência; campanhas educativas; relatórios técnicos e, banco de prontuários. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O formato do internato aqui apresentado tem apontando várias potencialidades no processo de formação e consolidação de saberes e práticas, no desenvolvimento de capacidade crítica/reflexiva, habilidades de reconhecer situações que exigem ações integradas. O amadurecimento profissional, segurança na definição de critérios para tomada de decisão, a capacidade de estabelecer prioridades são alguns dos elementos primordiais dessa experiência. Desenvolveram, em sua maioria, habilidades de negociação, de mediação de conflitos, potencializando as ações mais resolutivas. As limitações ou fragilidades estão associadas à fragmentação dos modelos de atenção e gestão da atenção, na desestruturação dos serviços e na fragilidade da Rede de atenção. Contudo o maior ganho está na potencialidade de produzir espaços mais participativos, o desenvolvimento de uma escuta qualificada, a humanização na recepção e acolhimento aos usuários; o respeito das diferenças buscando compreender situações e possibilidades de atuação visando elevar a qualidade de vida da população.

Palavras-chave


Internato em enfermagem, ensino-serviço; curriculo

Referências


ALVES, Rubens. Aprendiz de mim: Um bairro que virou Escola. Campinas, SP, Papirus, 2004

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 110 p. : il. – (Série E. Legislação em Saúde)

FREIRE P. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra; 1999