Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Integralidade na organização da demanda espontânea em Saúde Bucal
Ana Paula Brandão Fried
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Os agravos bucais e suas sequelas são de grande relevância no Brasil, constituindo-se em problemas de saúde pública, com graves consequências sociais e econômicas. A gravidade deste quadro epidemiológico exige, além de ações sobre os determinantes da incidência das doenças e agravos bucais, ações que melhorem o acesso ao serviço odontológico, diminuindo o sofrimento e a busca para o atendimento. Diante disso, este trabalho tem como objetivo descrever uma experiência estratégica organizacional do acesso ao atendimento odontológico com a participação de toda equipe multiprofissional. A unidade básica da saúde da Família, em questão, pertence há um município da região sudeste do Estado do Rio de Janeiro, possui 5.832 usuários cadastrados distribuídos entre um ESB e três ESF. O acesso à saúde bucal era feito através de uma lista de espera, gerando uma demanda reprimida de 362 famílias, com um tempo de espera médio de 4 anos. A necessidade de intervenção surgiu quando percebemos que a demanda reprimida só aumentava, devido à grande procura pelos usuários. Neste momento, foram realizadas várias reuniões semanais, com todos da equipe multiprofissional – médicos, dentista, auxiliar de saúde bucal, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e enfermeiros que por meio de discussões, construíram conceitos sobre necessidades de saúde da população adscrita direcionando a atenção em saúde bucal de forma equinâme. As trocas de saberes e experiências entre os sujeitos sociais proporcionaram a construção de uma estratégia de acesso ao atendimento de saúde bucal. Construíram um instrumento de avaliação por pontos, onde de cada membro da família recebia uma pontuação para o somatório desses pontos origina uma média familiar acrescida a uma nota estabelecida pelos padrões sócios econômicos, moradia e necessidade do usuário. Vale lembrar, por exemplo, que os fatores não clínicos podem ser responsáveis por um maior risco à cárie, indiretamente, em indivíduos desempregados, com condições de moradia insalubres com baixo grau de instrução escolar, proporcionando o consumo de alimentos cariogênicos e higiene bucal deficiente. Posteriormente, os dados da lista de espera foram atualizados com a exclusão dos usuários que haviam se mudado e com os já contemplados com tratamento. Foram separados os indivíduos por microárea, para que os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) realizassem visitas a essas famílias. A ficha de avaliação passou a ser utilizada na organização do acesso dos outros usuários que buscam assistência odontológica. Formou-se um grupo de recepção, compostos por vários membros da equipe, para explicar aos usuários o novo fluxo de atendimento. Os benefícios foram: a organização da porta de acesso, a obtenção de um instrumento de avaliação em saúde bucal simples, de fácil compreensão e manuseio e que faz do ACS, em especial, um elo entre o paciente e a equipe, tornando a porta de entrada para a atenção em saúde bucal menos impessoal e sem requerer o deslocamento do usuário até a unidade de saúde. Proporcionou uma relação interdisciplinidade pelas equipes multiprofissionais, compreensão do papel da ESB, ampliando o olhar dos profissionais da equipe para saúde bucal, garantindo o atendimento integral dos usuários.
Palavras-chave
saude da família demanda espontânea
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