Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Equipes gestoras nos Municípios de Pequeno porte: quem são e quais são suas funções
Stela Maris Lopes Santini, ELISABETE FATIMA POLO DE ALMEIDA NUNES, BRIGIDA GIMENEZ CARVALHO, Maria Carolina Bof Bonfim, Fernanda de Freitas Mendonça, Carolina Milena Domingos, Elisangela Pinafo, Camila Ribeiro Silva

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


A complexidade dos processos de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), descentralizado e universal, apresenta grandes desafios, em especial aos Municípios de Pequeno Porte (MPP), que correspondem a 73% dos municípios brasileiros (IBGE, 2010), 79,2% dos municípios do Estado do Paraná (PARANÁ, 2013) e 84,5% na área da Macrorregião Norte (Macronorte), composta pelas Regionais de Saúde (RS) de Apucarana (16a), Londrina (17a), Cornélio Procópio (18a), Jacarezinho (19a) e Ivaiporã (22a). Sabe-se que a gestão em saúde depende de inúmeros determinantes, entre eles a disponibilidade de equipes capazes de atuarem como gerentes nos mais diferentes níveis e áreas do SUS. Pela importância e peculiaridades da estrutura dos MPP, se faz necessário conhecer as características destas equipes e suas funções para contribuir com sua qualificação e com a gestão destes municípios, que exige o aporte de conhecimentos específicos de forma atualizada e coerente com toda a complexidade que envolve a gestão do sistema. Para tanto, esta pesquisa foi iniciada com a identificação dos integrantes das equipes gestoras, mediante contato com as respectivas RS e entrevistas com os secretários municipais de saúde para indicação do nome das pessoas chaves nos municípios que fossem responsáveis pela coordenação das seguintes atividades: gestão do fundo municipal de saúde, operação dos sistemas de informação, gestão da força de trabalho, vigilância sanitária e epidemiológica, gestão dos serviços de saúde, coordenação de programas e da Estratégia Saúde da Família (ESF), regulação e auditoria, planejamento e avaliação. A escolha das atividades de gestão nestas áreas foi definida considerando que estes são espaços determinantes para a gestão da saúde e consequentemente para a operacionalização/implementação do SUS nesses municípios. A população inicial de estudo foi constituída por 828 profissionais que integravam a equipe gestora nos MPP (N=82) da Macrorregião Norte do Paraná, dos quais foram entrevistados 744 profissionais (89,9%), com 84 perdas (10,1%). Dentre os entrevistados, houve predominância de profissionais do sexo feminino (66,9%), sendo que esta tendência se manteve em todas as RS. Quanto à faixa etária, 52,7% dos profissionais encontrava-se entre 30 a 44 anos de idade, com média de 37,8 anos e moda de 32 anos (idade mais frequente). Quanto ao nível de escolaridade, 524 profissionais (70,5%) referiram ter curso superior e destes, 58,0% possuíam pelo menos uma pós-graduação. Somente 0,3% dos profissionais possuíam unicamente o ensino fundamental completo e nenhum dos entrevistados referiu ensino fundamental incompleto. Estes resultados sugerem uma maior busca por formação de nível superior e especialização pelos profissionais das equipes, bem como a ocupação de funções de gestão/coordenação por profissionais com maior formação. Ainda no quesito escolaridade, 60,3% dos 524 integrantes das equipes gestoras que possuíam curso superior eram graduados na área da saúde e 34,4% eram graduados na área de humanas. Dos 331 profissionais que possuíam especialização, 40,2% eram na área de gestão e modelos de atenção a saúde (enfermagem do trabalho, ESF, saúde coletiva, gestão em saúde pública, etc.) e 32,0% eram na área técnico assistencial da saúde (hematologia, acupuntura, urgência e emergência, obstetrícia, farmacologia, psiquiatria, enfermagem em Unidade de Tratamento Intensivo-UTI, entre outras) e sete referiram possuir residência, distribuídos em todas RS, com exceção da 19ª RS. A maioria das funções de gestão eram ocupadas predominantemente por profissionais enfermeiros, exceto para os responsáveis pelos sistemas de informações ambulatorial e hospitalar, pela área de recursos humanos e pelo agendamento de consultas e exames, em que predominaram  profissionais com formação em administração; pela vigilância sanitária em que predominaram profissionais com formação em medicina veterinária; pela coordenação de saúde bucal em que predominaram odontólogos; e pela coordenação da assistência farmacêutica e pela coordenação de compras e licitações, em que predominaram farmacêuticos. Quanto à realização de pós-graduações Stricto Sensu, foram referidas por cinco profissionais, muito provavelmente porque este tipo de pós-graduação esteja mais distribuído em grandes centros e sejam mais direcionados para a área acadêmica e não para a atividade profissional. Além disso, o acesso a estes cursos são limitados pela menor oferta de vagas e pela necessidade de mais tempo de dedicação do que uma especialização, o que pode dificultar a conciliação do estudo com o exercício das funções de gestão. Por ocasião das entrevistas, foi questionado aos profissionais das equipes gestoras quantas e quais funções os mesmos exerciam nas equipes de saúde de seus municípios. Em resposta à primeira questão, 70,1% dos pesquisados relataram exercer até duas funções de gestão e 29,9% mais que duas funções. Em resposta à segunda questão, foram identificados 72 secretários municipais de saúde que representavam 87,8% dos municípios e 9,7% do total de entrevistados. Quanto às demais funções de gestão 66,9% dos entrevistados eram responsáveis pelos diferentes sistemas de informação; 15,1% pelo agendamento de consultas e/ou exames; 13,9% pelo planejamento e avaliação de ações e serviços; 11,6% pela coordenação da ESF/Programa Saúde da Família (PSF) ou Atenção Primária à Saúde (APS); 11,6% pela coordenação da vigilância epidemiológica; 9,8% pela área de recursos humanos, sendo que destes, 68,0% eram vinculados às prefeituras e 32,0% atuavam nas próprias secretarias municipais de saúde. Mesmo a pesquisa tendo sido realizada em 82 municípios, como a maioria dos profissionais atuava em mais que uma função, 86 profissionais se autorreferiram como coordenadores da ESF ou ABS, e igual número pela coordenação da vigilância epidemiológica, podendo sugerir que o mesmo profissional realize estas duas funções; 84 como coordenadores de UBS, 103 como responsáveis pelo planejamento e avaliação, 112 como responsáveis pelo agendamento de exames e consultas especializadas e 498 como responsáveis pelos diversos sistemas de informações. Foram pesquisados o tempo de atuação dos profissionais nas funções de gestão e o tempo de atuação destes na área da saúde. Em relação a tempo de atuação nas funções de gestão no município, 26,3% dos profissionais tinham até um ano nas funções e 43,6% de um a seis anos.  A média de tempo de atuação nas funções foi de aproximadamente 5,5 anos. Quanto ao tempo de atuação na área da saúde e não especificamente somente na função de gestão, 25,8% (N=192) dos profissionais referiram possuir de 12 a 24 anos de atuação e o tempo médio foi de 11 anos. A maioria dos entrevistados referiu não possuir experiência anterior na função de gestão (74,9%). Os resultados sobre a escolaridade demonstraram que o fato destes profissionais atuarem em MPP, no interior do Estado, não os impediu de ter acesso a processos de formação e pós-graduação, caracterizando equipes com escolaridade adequada ou superior ao exigido aos cargos ocupados, o que pode impactar positivamente no padrão de qualidade da gestão dos serviços. Também confirmou a feminilização das equipes municipais de saúde e o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho em saúde, bem como a importância dos profissionais da categoria de enfermagem no contexto da gestão de saúde.  E evidenciou uma possível sobrecarga de atividades por parte dos profissionais das equipes, pois a maior parte destes (70,1%) conciliavam as atividades das funções de carreira com as de gestão. Sabemos que a gestão da saúde nos municípios não se faz somente pelo gestor formal, daí a importância de investimentos na qualificação das equipes de gestão e da promoção de estratégias de valorização e reconhecimento da função para fixação e melhorias de desempenho das equipes dos MPP.

Palavras-chave


gestão do trabalho; força de trabalho; gestão em saúde

Referências