Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VELHICE E TRADIÇÃO AOS OLHOS DA EXTENSÃO POPULAR: O DIÁLOGO EM UMA ALDEIA INDÍGENA POTIGUARA
José Anchieta BEZERRA DE MELO, Thaís Winkeler Beltrão, Willian Fernandes Luna

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: As representações sobre a velhice, idade a partir da qual os indivíduos são considerados velhos e a maneira como são tratados, possuem significados particulares e diferenciados em contextos históricos, sociais e culturais distintos, o que conduz a inúmeras subjetivações. Caracterizada como uma etapa de diminuição geral das capacidades da vida diária, alguns consideram a velhice como um período de crescente vulnerabilidade e de maior dependência no seio familiar. Outros a veneram como o ponto mais alto da sabedoria, bom senso e serenidade. Tais perspectivas em torno da velhice atribuem diferentes significações para o idoso a partir do grupo social a que pertence. Diante deste novo cenário demográfico, um conjunto de políticas públicas são formuladas visando à promoção de um envelhecimento com mais qualidade de vida favorecendo a autonomia da pessoa idosa. Para os indígenas, independente da faixa etária, existe a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, ressaltando a necessidade de assistência diferenciada devido a particularidades dessa população. Assim, os Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena inserem equipes multidisciplinares e unidades de saúde nas aldeias para minimizar a desigualdade de acesso e assistência. Este trabalho trata-se de um relato de experiência sobre as percepções dos autores sobre o processo de envelhecimento, a partir do contato com indígenas Potiguara durante o Projeto de Extensão IandéGuatá (Nossa Caminhada em tupi).  DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Durante aproximadamente um ano, os extensionistas realizaram visitas mensais à aldeia São Francisco, Baía da Traição – PB, onde acompanharam a rotina de uma família, proporcionando a identificação de necessidades e potencialidades, criação de vínculos e aprendizado cultural. Ligado a uma faculdade de medicina privada da Paraíba, é composto por dois orientadores e acadêmicos de medicina. As visitas ao território indígena permitiram aos extensionistas observar um novo conceito de saúde, indo além do biológico e incorporando a espiritualidade, conexão com a natureza e relações parentais. Nesta comunidade indígena potiguara, os indivíduos de mais idade são chamados de anciões, e têm a importante responsabilidade de repassar às novas gerações costumes, rituais e particularidades culturais e históricas local.  RESULTADOS: Percebeu-se a importância dos anciões para aprovação da realização de atividades dentro das aldeias, e no reconhecimento de  algo ou alguém pela população. Durante as visitas, observou-se a valorização das ervas medicinais para o tratamento de doenças e a importância da interação com as forças da natureza para manter o equilíbrio saúde-doença, conhecimentos típico dos anciões. Consequentemente, há certa resistência ao uso de medicamentos alopáticos para controle das doenças crônicas, mais prevalente na população idosa.  Portanto, encontra-se uma grande prevalência de hipertensão arterial e Diabetes mellitus, e suas complicações devido à falta de controle, como retinopatias, neuropatias e pé diabéticos.  CONCLUSÕES: No contato dialógico propiciado pela extensão popular, pode-se vivenciar uma maior valorização do velho, principalmente quando comparado ao velho que vive nas cidades. Percebeu-se que o indígena potiguara tem buscado manter a autonomia e identidade do ancião. Assim, a imersão em vivências interculturais na graduação contribui para o desenvolvimento de habilidades para o futuro profissional, reforçando o cuidado. 

Palavras-chave


visita domiciliar, saúde de populações indígenas, extensão comunitária; educação médica

Referências


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